Empresas de cobrança criticam Banco do Brasil por concentrar serviço em empresa própria

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A decisão do Banco do Brasil (BB) de concentrar os serviços de cobrança em uma empresa do mesmo grupo foi criticada nesta terça-feira, 4, em audiência pública na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços da Câmara dos Deputados. O debate foi sugerido pelo deputado Joaquim Passarinho (PSD-PA), que pediu mais informações ao BB e anunciou que pretende acompanhar os desdobramentos do caso.

Em julho passado, o banco decidiu contratar a BB Tecnologia e Serviços (BBTS) para a cobrança de dívidas de clientes vencidas entre 60 e 360 dias e em valores de até R$ 400 mil. Desde 1997, esse serviço é prestado por empresas terceirizadas, cujos contratos venceram e hoje estão prorrogados em caráter emergencial. A contratação da BBTS pelo BB está suspensa por liminar da Justiça do Rio de Janeiro, e o negócio é também alvo de representação no Tribunal de Contas da União (TCU).

A Associação Nacional das Empresas de Recuperação de Crédito (Aserc) é a autora da representação. Uma das advogadas da entidade, Marina Michel de Macedo disse na audiência pública que vários pontos da contratação da BBTS pelo BB são questionáveis, a começar pela dispensa de licitação. Esse é um dos pontos que serão analisados pelo TCU.

Demissão em massa

Anderson Malicheski, diretor-presidente da Asejur Cobranças Empresariais, disse que a decisão do BB poderá levar ao fechamento de 90 das 117 empresas terceirizadas de cobrança que atualmente trabalham para o banco e recebem taxa de sucesso conforme a recuperação das dívidas. Segundo ele, essas firmas somam 5 mil empregos diretos e mais 25 mil indiretos.

Malicheski alertou ainda que, para além da demissão em massa no setor, haveria risco de prejuízo para acionistas do BB. Essa opinião alinhou-se com estudo apresentado durante a audiência pública segundo o qual a manutenção das empresas terceirizadas poderia levar à recuperação, pelo BB, de R$ 11 bilhões em cinco anos. Com a BBTS, no mesmo período seriam R$ 8,4 bilhões.

José Roberto Ferreira Savoia, professor da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que o estudo foi realizado com números disponíveis no mercado, já que não teve acesso aos dados que levaram à decisão do BB. Embora o trabalho seja favorável à manutenção das terceirizadas, Savoia sugeriu que a contratação simultânea dessas firmas e da BBTS poderia trazer resultados ainda melhores na recuperação de dívidas, devido à competição entre os dois tipos de prestadores de serviço.

Universidade de São Paulo

O diretor de Reestruturação de Ativos Operacionais do Banco do Brasil, Simão Luiz Kovalski, defendeu a decisão de contratar a BBTS e afirmou que o banco vai justificar a medida na ação judicial que corre no Rio de Janeiro e na representação feita ao TCU. Segundo ele, estudos técnicos do BB demonstram que haverá uma economia entre R$ 205 milhões e R$ 400 milhões por ano, a depender dos cenários analisados.

Kovalski também questionou os dados apresentados durante a audiência pública. Em relação ao estudo da USP, disse que certos números não foram contemplados no trabalho e se dispôs a discutir a análise, ressalvados os sigilos bancário e concorrencial. Em relação às terceirizadas, informou que apenas 30% delas têm o BB como único contratante – as demais também prestam serviços para outras empresas – e que, segundo as próprias firmas, são apenas 1.160 empregados diretos, questionando assim o alegado risco de demissão em massa.

Além disso, o diretor do BB destacou que a direção do banco não analisou a hipótese de um sistema misto, como proposto pelo professor José Savoia, mas abriu possibilidade para tanto. "Todas as considerações feitas neste debate serão levadas para a diretoria", afirmou. Para Kovalski, nenhuma discussão será evitada, e não há decisão que não possa ser revista.

Perguntas e preocupações

Os deputados Evandro Roman (PSD-PR), Marcos Abrão (PPS-GO) e Lucio Mosquini (MDB-RO) também participaram da audiência pública. Assim como Joaquim Passarinho, todos manifestaram preocupação com as possíveis demissões de funcionários das empresas terceirizadas e cobraram mais transparência do Banco do Brasil nesse episódio.

Evandro Roman apresentou ainda uma série de perguntas sobre o negócio, e o diretor do BB Simão Kovalski se comprometeu a enviar as respostas por escrito, além de encaminhar documentação que sustenta a decisão do banco de contratar a BBTS. O deputado afirmou ainda que pretende apresentar uma proposta de fiscalização e controle (PFC) sobre o assunto. As informações são da Agência Câmara.

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