A hora e a vez dos metadados

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"Matraga não é Matraga, não é nada. Matraga é Esteves. Augusto Esteves, filho do Coronel Afonsão Esteves, da Pindaíbas e do Saco-da-Embira. Ou Nhô Augusto ? o homem ? nessa noitinha de novena, num leilão de atrás da igreja, no arraial da Virgem nossa Senhora das Dores do Córrego do Murici". João Guimarães Rosa

Calma! Não pretendo escrever um conto sobre Metadados mas, sim, saudar os novos tempos em que seu valor para o negócio começa a ser reconhecido gradativamente. Não obstante, Metadados carrega um estigma muito sério que, no mínimo, emperra sua aceitação mais acelerada: o seu nome. Será que, como o herói de Guimarães Rosa, seu nome terá que ser mudado?

Já presenciei, muitas vezes, o seguinte dilema do nosso personagem: mês de outubro, orçamento aprovado para a iniciativa de Metadados que fora cancelada no início do ano; mês de abril do ano seguinte, novo cancelamento por necessidade de corte orçamentário. Na hora do corte, Metadados sempre foi a bola da vez! Ou seja, a iniciativa de Metadados já foi rejeitada várias vezes na empresa. Então, o que fazer?

Antes de tomarmos qualquer providência, precisamos concordar em uma coisa: afinal, o que são Metadados? Metadados são dados sobre dados? Sim, mas isso é muito vago. Uma definição mais apropriada é que Metadados contextualizam um dado ou informação. Por exemplo, se em um relatório encontramos uma coluna cujo cabeçalho diz: ?Vendas Mensais?, quem utiliza as informações desta coluna do relatório deve saber, ou ser informado, que as ?Vendas Mensais? consideram só os valores efetivamente faturados até o dia cinco do mês corrente. Sem este contexto, uma decisão equivocada poderá ser tomada.

Esta informação, esta explicação ou definição, este Metadado de Negócio deve ser incluído em um Repositório de Metadados para que possa ser acessado por aqueles que necessitam da contextualização sobre ?Vendas Mensais?.
Há uma taxonomia, ou classificação, para os vários tipos de Metadados:

(a) Metadados Técnicos, que alavancam a construção das aplicações pelas áreas técnicas;

(b) Metadados de Negócio, conforme exemplificado no parágrafo anterior, que alavancam a utilização das informações pelas áreas de negócio (?knowledge workers?).

Além desta classificação, é útil subdividir-se Metadados em:

(c) Metadados Estruturados, que contextualizam as informações do mundo dos dados estruturados; e

(d) Metadados Não Estruturados, que contextualizam as informações derivadas dos dados não estruturados: textos livres, planilhas, contratos, isto é, uma grande avalanche de dados que as empresas mal começaram a tratar.

Antes da escolha da nova denominação, se for o caso, vamos juntos considerar apenas alguns dos elementos dos novos tempos que têm guindado a importância de Metadados:

*SOA – ?Service Oriented Architecture – : a julgar pelos investimentos correntes no mercado, tanto pelos fabricantes de software como pelos proponentes de outras tecnologias, SOA veio para ficar. SOA, associada à WEB 2.0, nos oferece uma combinação explosiva que poderá transformar o jeito em que faremos design e implementação de sistemas daqui para diante. E é voz corrente que, sem Metadados, é impossível implementar-se SOA. Sem Metadados, como poderemos alavancar a reutilização dos serviços da arquitetura SOA?

*Integração de Dados e Aplicações, dependentes de Metadados, acarretada por eventos tais como:
o movimentos freqüentes de M&A (merges e aquisições);o aumento da complexidade dos negócios; desenvolvimento de ?visão 360 graus? sobre Clientes, para melhor conhecê-los e aumentar a competitividade das empresas no mercado; o MDM – ?Master Data Management?- : que se baseia na criação de hubs com os dados de referência dos clientes, produtos, fornecedores, canais e várias outras dimensões;

*DW 2.0 – ?The Next Generation Data Warehouse? -nova arquitetura para ?Business Intelligence?, proposta por Bill Inmon, que substitui e amplia a consagrada arquitetura CIF – ?Corporate Information Factory?. DW 2.0 explicita Metadados como um componente arquitetônico que descreve e viabiliza a utilização de todos os demais componentes da nova arquitetura. Não deixa qualquer dúvida de que, sem Metadados, é impossível a implantação de aplicações analíticas fundamentais para as complexas organizações de nosso tempo.

* Novo approach para BPM -? ?Business Process Management? que propõe uma integração horizontal dos processos das empresas. Isto se alinha com a visão que o Cliente tem da sua interação com a empresa, por exemplo, no tratamento do seu pedido desde a produção até a entrega do bem correspondente ao pedido. Metadados são fundamentais para a execução, controle e gestão desta cadeia de processos.

Os novos fatores acima – e vários outros não tão novos assim como o envelhecimento dos sistemas legados – têm provocado uma valorização dos Metadados em todo o mundo. No Brasil, temos sido chamados com mais freqüência para iniciativas de Metadados. Infelizmente, o foco das empresas ainda tem sido na Ferramenta de Metadados e não no Projeto de Metadados. Mas isto também vai mudar e é assunto para outro artigo.

Ao refletir sobre Augusto Esteves, Nhô Augusto ou Augusto Matraga — os passos da travessia de um homem ao encontro de seu destino— o personagem do conto do grande mestre Guimarães Rosa, que encontrou na mudança de nome uma estratégia para enfrentar sua saga, ocorre-me sugerir que o mesmo seja feito com a denominação de Metadados. Você acha que será esse o destino do nosso peculiar (ainda) incompreendido personagem?

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