BYOD: O fim da linha divisória entre vida pessoal e profissional

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A computação foi transformada com os PCs. Aos poucos, os computadores passaram de instrumento científico a ferramentas possíveis de serem utilizadas por qualquer pessoa. Planejamentos financeiros foram viabilizados para pequenas empresas e a gestão administrativa foi estruturada com mais eficiência. Dez anos depois de seu lançamento — assim como ocorreu com o telefone e com a televisão décadas antes —, o PC estava completamente inserido no contexto e transformava a vida de milhões de pessoas.

Hoje, por não haver dependência de um único aparelho, a sigla PC passou de personal computer para personal cloud. O demorado processo de instalação de softwares vem sendo substituído pela disponibilidade tanto de aplicativos 24 horas — armazenados com segurança em grandes data centers, em algum lugar na nuvem — como de documentos, fotos, músicas e, cada vez mais, informações corporativas.

Dispositivos como tablets e smartphones surgem em um mundo cada vez mais conectado e o consumidor sabe rapidamente sobre todas as novidades em tecnologia, assim que lançadas. Com gosto e curiosidade, ele toma a decisão e compra imediatamente. O processo foi invertido. Diferente de antigamente, quando as novidades tecnológicas estavam disponíveis primeiro para as empresas e somente depois de alguns anos chegavam ao consumidor residencial.

Neste contexto, essas mesmas pessoas passaram a naturalmente inserir seus próprios aparelhos nas corporações. Tendência que ganhou força quando executivos de alto nível começaram a levar para as empresas o então recém-lançado iPad, em 2010. A chamada consumerização — o uso de dispositivos pessoais no ambiente de trabalho —, fenômeno também conhecido pela sigla BYOD (bring your own device, ou traga seu próprio dispositivo), já está instaurada no mundo corporativo. Fatores como a facilidade de aquisição de novas tecnologias, a febre da mobilidade e o ingresso de uma população jovem, que não se contenta com recursos menos potentes que os seus no mercado de trabalho, foram determinantes para o seu surgimento.

Além disso, o aumento de aplicativos e segurança de dados, a agilidade de negócio para uma força de trabalho cada vez mais móvel, o acesso seguro e a gestão de risco simplificada também foram outros fatores determinantes.

O IDC estima que, em 2016, mais de 50 milhões de smartphones serão comercializados no Brasil. E, assim como o surgimento do PC e do cloud computing, a consumerização é um caminho sem volta.

Proibir o uso dos dispositivos pessoais não trará nenhum efeito positivo para a segurança das corporações. É preciso que as companhias "encarem" essa nova era e saibam aproveitar os benefícios da passagem do físico para o virtual: todas as informações corporativas podem estar disponíveis para o acesso de seus funcionários a qualquer momento, incluindo os tão famosos ERPs. Assim, os dispositivos dos colaboradores acabam se tornando um desktop virtual. Além da economia para a empresa, esses dispositivos do colaborador podem apoiar e agilizar os negócios.

Contudo, precauções devem ser tomadas, como o investimento em tecnologias ou serviços que garantam a segurança dos dados. Políticas de segurança também devem ser criadas para que se estabeleça quem pode acessar o quê, quando e por meio de qual aparelho. A criação de senhas fortes, o monitoramento e o travamento do aparelho são questões que devem fazer parte da política da companhia e que devem ser consideradas pelos colaboradores ao decidirem se irão — ou não — utilizar o seu dispositivo.

É o fim da linha que dividia a vida pessoal da profissional. Exigir e exercer o bom senso é fundamental. Cabe a você se adaptar.

José Rubens Moreira Tocci é graduado em administração de empresas e recursos humanos, com 32 anos de experiência no mercado de TI. Trabalhou com empresas como Xerox, Microsoft, IBM, Symantec, Sybase e HP. Atualmente lidera a operação da EngineBr e é coproprietário da AgroInova e TechTrends.

2 COMENTÁRIOS

  1. Enxergo que a evolução tecnológica tem proporcionado somente maiores possibilidades de acesso nos diferentes níveis da disponibilidade da informação. Agora dizer que isso implica "no fim da linha divisória entre vida profissional e pessoal" (se é que existe alguma linha) acho um tanto inadequado, considerando a complexidade da questão em discussão.

  2. Infelizmente qualquer trabalhador hoje, se não tomar cuidado, pode tornar-se um escravo do chamado mundo globalizado e conectado da informação, da velocidade e da competitividade.
    Em nome dessas premissas do mundo globalizado e com o uso de equipamentos baseados em mobilidade, um grande número de organizações exige de seus trabalhadores jornadas muito além das horas legalmente permitidas, começando no café da manhã, trajeto de ida e volta do trabalho, almoço, jantar, avançando até a madrugada…
    Entretanto, todo e qualquer executivo de bom senso sabe que nenhum negócio será perdido, se um trabalho da madrugada for transferido para o horácio comercial…Basta gerenciar adequadamente o tempo, como diz há muito tempo o Prof. Falconi.

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