Novos serviços animam teles móveis, mas ainda há desafios

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Chega ao fim a CTIA Wireless 2006, evento realizado na semana passada em Las Vegas e que reúne a indústria de telefonia móvel dos EUA.

Na mensagem de encerramento do encontro, que reuniu em um debate o presidente da operadora européia Orange, Sanjiv Ahuja, o COO da Sprint Nextel, Len Lauer, e o CEO da Cingular Wireless, Stan Sigman, três conclusões, ainda que um pouco vagas, ficaram no ar: 1) esta é uma indústria que deixa de ser apenas de telecomunicações; 2) existe muito a ser feito para que o usuário experimente a convergência sem tropeços e; 3) agora é tempo de inovar em produtos e não apenas em tecnologia.

"Até há dois ou três anos, tínhamos um negócio de telecomunicações. Hoje, temos que fazer direito a transição para um negócio de telecomunicações, entretenimento e informação, e isso não é simples", diz Ahuja. Na visão do presidente da Orange (que opera em 18 países da Europa e África e tem 85 milhões de assinantes), essa transição vem com os novos serviços.

Mas a grande dificuldade é que essa transição também acontece em outras plataformas. "Por isso, o grande desafio é como fazer com que tudo aconteça sem emendas (seamless), sem barreiras entre as plataformas adotadas pelo usuário".

A Orange foi uma das primeiras operadoras européias a levar serviços 3G para o usuário. Alguns resultados são impressionantes. A empresa hoje vende mais música na forma de download integral das faixas (fulltrack) do que as lojas de disco convencionais, como Virgin e MHV. São 15 mil músicas vendidas por semana apenas no Reino Unido.

Outro serviço que começa a empolgar a Orange é a distribuição de vídeo. "Na França, por exemplo, temos uma média por usuário de 40 minutos de televisão assistida por mês". Atualmente, a Orange utiliza a própria rede UMTS para levar o sinal, mas pretende ter uma plataforma dedicada apenas a isso, em IPWireless (um dos padrões de TV móvel associado às redes UMTS) ou em DVB-H. Entre os serviços que frustraram a operadora estão as videochamadas.

"Esse produto entusiasmou muito menos os nossos usuários do que imaginamos no começo". Agora as promessas são os serviços de mensagens instantâneas, baseados em localização e integrados com os serviços de SMS e com os serviços de mensagens instantâneas em outras plataformas.

A Orange é das operadoras que acredita que haverá uma convergência entre serviços fixos e móveis para o bem do usuário. "As transições de plataformas não podem ser problemáticas para quem está usando o serviço", diz Ahuja.

Uma das apostas da empresa são as plataformas IMS (IP Multimedia Subsystem), que prometem dar aos operadores a possibilidade de realizar estas transições entre os serviços sem saltos entre as redes.

Mas a Orange não pretende, nesse momento, gastar muito esforço pensando em plataformas mais avançadas do que as redes de 3G já implantadas. "Primeiro, é preciso completar a cobertura 3G. Depois, precisamos pagar os investimentos feitos. Evoluir para 4G deve apenas ser objeto de estudos técnicos nos próximos anos, mas definitivamente não será o foco da empresa".

M2M (Machine-to-machine): a próxima fronteira?

Para a Sprint, a visão de futuro é um pouco diferente. A empresa entende que a demanda por maiores velocidade de rede obrigará a evolução das plataformas, e por isso não se pode dizer que a realidade 4G esteja tão distante assim.

Segundo Lan Lauer, a demanda por grandes velocidades no mundo da telefonia móvel virá não do uso do celular pelo assinante, mas pelo uso da rede das operadoras para outros tipos de aplicações.

São aplicações envolvendo outros dispositivos, e não os handsets. Por exemplo, controle remoto de veículos ou equipamentos. "Crescer nessas aplicações é o que fará com que sejamos mais do que empresas que apenas fornecem comunicação para as pessoas".

Os planos da Sprint para uma rede 4G são para o final de 2008. Até lá, a empresa pretende trabalhar nas revisões do CDMA/EVDO já implantado, ganhando velocidades a cada melhoria. É a mesma estratégia que a Verizon (também operadora de CDMA) segue nos EUA.

Mas mesmo no mundo de hoje, a operadora comemora a mudança de perfil das empresas de telefonia celular, por exemplo, na área de música. "Em três meses, a Sprint Music Store vendeu mais de 1 milhão de músicas, a uma média de US$ 2,50 por download. Isso mostra que estamos em um mercado novo, mas muito promissor".

Mas para Len Lauer, o grande desafio da indústria de celular nessa empreitada pelo mundo da comunicação está na usabilidade. "Hoje, o acesso aos novos serviços não é simples, e ainda precisamos fazer isso melhor. Quando acharmos formas mais eficientes de entregar um serviço de vídeo ou música para o assinante como é fazê-lo falar ao telefone, certamente o consumo desses novos produtos vai crescer muito."

As operadoras virtuais (MVNOs), que recentemente ganharam um grande impulso com a entrada de marcas como ESPN e Disney nesse mercado, não são uma preocupação para a Sprint, até porque as carriers ganham com os minutos adquiridos pelas MVNOs. No caso da Sprint foram US$ 600 milhões em 2005, por exemplo.

Para Lan Lauer, o que ainda precisa ser observado é o desempenho das operadoras virtuais no mercado de pós-pagos. "Acho que a Disney tem uma proposta interessante e promissora, mas vamos ver como ela se sai vendendo serviços com conta a partir de uma base inexistente".

Consolidação positiva

A Cingular, que se fundiu com a AT&T Wireless, mostra-se muito mais concentrada na "digestão" do processo de incorporação do que voltada para o futuro. "Temos muitos desafios internos a vencer, mas uma coisa já ficou clara: a fusão foi boa para o usuário. Os preços não aumentaram e o serviço melhorou", disse Stan Sigman, CEO da empresa, na palestra de encerramento da CTIA.

A Cingular foi a primeira operadora a lançar serviços em uma rede 3G nos EUA, mas não é uma grande entusiasta de um novo passo como esse, pelo menos agora. "Antes disso, é preciso acabar de fazer o que começamos, ou seja, ampliar a rede 3G. E ainda temos a base em TDMA, que deve ser desligada em 2008, e a base analógica, que é pequena, mas também precisa ser desligada, também em 2008".

Competição

Um dos pontos críticos para os operadores norte-americanos é a possibilidade de novos competidores, com plataformas novas, como WiMAX, ou mesmo operadoras que possam vir a entrar no mercado de telefonia celular com o leilão de novas faixas.

Para a Orange, que enfrenta o mesmo problema na Europa, não existe ameaça real. Segundo Sanjiv Ahuja, ao contrário da telefonia fixa, onde a competição vem de empresa cuja tecnologia é baseada em software (como Skype), a mobilidade depende da infra-estrutura e as redes são sempre remuneradas pelos minutos de tráfego.

"Quem quiser entrar para competir nesse mercado não tem opção: ou investe em infra-estrutura como nós investimos e cria a sua própria cobertura, ou vai ter que contratar minutos nas redes existentes. Então não há risco de concorrência desequilibrada".

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