Por que o Brasil não consegue exportar TI?

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Todos nós já ouvimos a velha (e chata) história de que o Brasil é um gigante adormecido. Mas, nos últimos dois anos, o país parece estar acordando. Nossa economia se mostra inabalável à crise financeira originária no segmento de crédito de alto risco (subprime) nos Estados Unidos. O fluxo de dólares não pára, as exportações continuam crescendo, a indústria automobilística bate recordes após recordes, o número de novos empregos com carteira assinada surpreende e, surpresa das surpresas, o país tornou-se o quinto maior mercado de PCs do mundo, com projeção de que venha a subir para a terceira posição no ranking de vendas em 2010.

Esta última notícia merece uma análise mais detalhada. Temos hoje uma base instalada de 22 milhões de PCs e 47 milhões de usuários de internet no país. O mercado brasileiro de software e serviços também é surpreendente, com cerca de 7,8 mil empresas atuando num mercado de US$ 9 bilhões. Todo o mercado de TI deve gerar US$ 18 bilhões neste ano.

Mas quando comparamos o tamanho do mercado brasileiro com a pauta de exportações, percebemos que há um problema estrutural. As empresas de software e serviços instaladas o Brasil exportaram cerca de US$ 800 milhões para os países desenvolvidos (principalmente EUA) em 2007, enquanto que as nacionais embarcaram, no máximo, o equivalente a US$ 300 milhões. O mercado mundial de software e serviços está hoje em US$ 50 bilhões e somente a Índia exportou US$ 25 bilhões em 2007. A expectativa do governo indiano é que, até 2010, o país esteja exportando cerca de US$ 60 bilhões. Ou seja, o Brasil é irrelevante nesse cenário, embora tenha potencial para ser bem mais competitivo, assim como a Gerdau e a Vale do Rio Doce nos seus respectivos mercados de atuação.

Temos mais de 3,5 milhões de profissionais de TI qualificados. Nossas escolas formam, anualmente, mais de 60 mil novos profissionais de TI. Nosso fuso horário é favorável e nossa cultura de negócios é ocidental. Portanto, já está na hora de acabar com a choradeira e arregaçar as mangas porque, apesar de a Índia estar muito a nossa frente, o mercado mundial é suficientemente grande para abrigar também um Brasil exportador.

A indústria de software e serviços no Brasil tem alguns problemas para resolver. O foco foi sempre a venda de mão-de-obra e não de projetos. Ou seja, ainda há espaço para uma operação nacional em TI, focada na qualidade da entrega e com criação de valor, diferentemente do que tem sido o padrão vigente no mercado brasileiro, que é baseado ou no modelo importado das empresas multinacionais ou na abordagem de pouco valor agregado das body shops, empresas que terceirizam técnicos para serviços temporários. Quando as empresas brasileiras entram na concorrência para exportar, se deparam com o baixo valor, principalmente, do mercado indiano. Além disso, apesar de não haver números oficiais, mais de 50% deles, de qualquer tipo de projeto de TI, não cumprem suas metas de prazo e orçamento. Essa deveria ser nossa diferenciação na abordagem, para facilitar a entrada em mercados exigentes. Não há diferenciação na abordagem, o que dificulta nossa entrada em mercados exigentes. O mercado nacional é dominado por gigantes multinacionais, o que impede o desenvolvimento de um modelo brasileiro de exportação. E as empresas nacionais têm, em sua maioria, baixa governança corporativa.

A maturidade do mercado mundial de TI exige que migremos para um modelo com ênfase na qualidade de entrega, geração de valor e compromisso com acordos firmados. Isso não é uma tarefa fácil. Estudo do Project Management Institute (PMI), organização internacional responsável pelo desenvolvimento das práticas em gerenciamento de projetos, constatou que 78% das 200 maiores organizações brasileiras têm problemas no cumprimento de prazo em seus projetos de TI, 64% de custo, 44% problemas de qualidade e 39% insatisfação do cliente. Para mudar esta percepção, é preciso investir e quebrar paradigmas, inclusive junto ao governo. Mas certamente o esforço valerá a pena.

* Marcelo Astrachan é presidente da Cyberlynxx, já foi sócio da Accenture e vice-presidente de vendas e marketing da OptiGlobe (atual Tivit).

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