O mito da falta de canais de fomento à inovação no Brasil

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Nos rankings internacionais que avaliam os países inovadores, o Brasil não ocupa posições de destaque. De acordo com o Índice Nacional de Inovação, divulgado em 2016 e elaborado pela Universidade de Cornell, pela escola de negócios Insead e pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), o país ocupa o 69ª posição e está atrás de outros nações da América Latina, como Chile, Costa Rica e México.

Em um levantamento realizado pela Bloomberg, conceituado portal americano especializado em economia,  que avaliou o nível de inovação em 50 países, o Brasil ficou apenas em 47° lugar, a partir de pontos atribuídos a vários indicadores, como número de patentes registradas, quantidade de estudantes em cursos de engenharia e ciências, número de empresas de tecnologia, número de equipes de pesquisa, entre outros aspectos.

Estamos diante, já há alguns anos, da necessidade de reverter esses resultados o mais rápido possível e resolver alguns gargalos, como ter mais agilidade no INPI – Instituto Nacional de Propriedade Intelectual para o registro de marcas e patentes e melhorar a qualidade dos diferentes cursos de engenharia existentes no país. Por outro lado, temos um ecossistema brasileiro de startups em crescimento, a implementação de parques tecnológicos em diferentes municípios, aceleradoras e incubadoras de negócios nascentes, e a evolução do modelo de inovação aberta que tem potencial de aproximar as grandes, mas também as micros, médias e pequenas empresas das startups e universidades, em busca de inovação disruptiva ou incremental de processos, produtos e serviços. Considero esse ecossistema um aspecto positivo para que o Brasil avance na cultura inovadora, de forma que tenhamos retornos mensuráveis e que melhorem a competitividade de nossas empresas nos mercados interno e externo.

Como parte de uma perspectiva para criar uma agenda positiva a fim de superarmos os obstáculos à inovação, considero importante abordar um dos mitos que existe no Brasil: a crença de que faltam fontes de fomento à inovação para empresas. Tive uma experiência muito positiva na empresa da qual sou CEO, a Taggen Soluções de IoT, com o projeto de desenvolvimento do primeiro beacon com tecnologia 100% brasileira a partir da parceria com a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) e com sua unidade CPqD – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações. Em pouco mais de 12 meses de trabalho conjunto, realizamos o lançamento do beacon, homologamos os modelos do dispositivo na Anatel e iniciamos o seu uso com vários parceiros de negócios. E, com muito orgulho, todo esse projeto resultou em uma patente genuinamente brasileira de âmbito mundial, pois nosso beacon, mesmo atuando ainda em BLE 4.0, viabiliza leitura de seu broadcast a uma distância de até 150 metros, performance não encontrada em outros dispositivos similares.

A Embrapii consegue oferecer apoio às empresas para se tornarem mais competitivas a partir de um projeto de inovação, diminui os riscos, pois entra com 1/3 de recursos não-reembolsáveis, e consegue encaminhar os planos de forma rápida e desburocratizada. Um modelo bastante promissor e que pode ser acessado por empresas de todas as regiões no Brasil, pois a Embrapii conta com 34 unidades de P&D (pesquisa e desenvolvimento) credenciadas, que aportam mais 1/3 dos recursos financeiros, para realização dos projetos de inovação em parceria com as empresas. As unidades atuam em diversas áreas de competência, como software e automação, biofármacos, mobilidade digital, equipamentos médicos, tecnologia química industrial, sistemas inteligentes, entre outras. Recentemente, a Embrapii assinou um convênio com a Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, que deverá estimular novos projetos de inovação na região.

Ressaltamos ainda que o universo de fontes de fomento à inovação no Brasil conta ainda com diversos atores, como o BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social; o Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; a Finep – Financiadora de Estudos e Projetos; a Desenvolve SP – Agência de Desenvolvimento Paulista; o BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul e, até mesmo, a Lei da Informática, que oferece incentivos fiscais às empresas do setor de tecnologia (áreas de hardware  e automação), que investem em Pesquisa e Desenvolvimento. A cooperação, ou seja, a parceria permite reduzir os custos com pesquisa e desenvolvimento e empréstimos de longo prazo.

O empreendedor tem como desafio a necessidade de formatar seu projeto de inovação a fim de destacar as estratégias e o valor que está sendo criado, como redução de custos, vantagem competitiva sustentável, diferenciação frente aos concorrentes de um setor, entre outros. No site do INEI – Instituto Nacional de Empreendedorismo e Inovação, os interessados podem encontrar uma relação de fontes de fomento à inovação, tanto públicas como privadas.
Uma conversa com representantes destas instituições e agências de fomento, a participação em eventos nos quais essas financiadoras participam contribuem para mostrar que inovar não é algo tão caro ou demorado. Não podemos deixar o Brasil continuar na posição em que está no ranking de inovação e competitividade, motivados pelo medo de arriscar ou de errar, pois a maior ameaça é ver o mercado brasileiro dominado por tecnologias, produtos e serviços importados.

Werter Padilha, CEO da Taggen Soluções de IoT, membro do comitê do Plano Nacional de Internet das Coisas, projeto desenvolvido pelo BNDES e o Ministério das Ciências, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), e coordenador do Comitê de IoT da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software.

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