Resultado fraco da IBM coloca em xeque plano de recompra de ações e gestão de CEO

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A IBM surpreendeu os investidores na segunda-feira, 20, ao admitir que não conseguirá cumprir a meta de lucro de pelo menos US$ 20 por ação no próximo ano, por causa da desaceleração nas vendas de hardware e serviços, e que o lucro também irá diminuir neste ano, a primeira queda desde 2002.

A declaração, junto com os resultados do terceiro trimestre, que registraram queda na receita e no lucro, fez com que as ações da companhia despencassem 7%, para US$ 169,10, no fechamento do pregão da Nasdaq, ficando abaixo do preço médio de 2011. Nesta terça-feira, 21, a reação do mercado não foi diferente. Os papéis da companhia, que já operavam com queda de 1,62% no pregão pré-market, negociados a US$ 166,36, registravam baixa de 3,65% às 12h37 (horário de Brasília), cotados a US$ 162,93.

O cenário nada animador tem levado analistas e, principalmente, investidores a colocar em xeque o modelo de gestão da CEO Virginia Rometty — eleita recentemente a mulher mais poderosa no mundo dos negócios pela revista Fortune. Desde que assumiu o cargo em 2012, ela conseguiu sustentar o valor dos papéis da companhia recomprando ações.

Somente nos primeiros seis meses deste ano, a IBM gastou mais de US$ 12 bilhões na recompra de papéis. Desde 2000, ela adquiriu US$ 108 bilhões de suas próprias ações, de acordo com o seu relatório anual mais recente. Ela também pagou US$ 30 bilhões em dividendos. Para financiar essa recompra de ações e a distribuição de lucro, a companhia teve de aumentar sua dívida.

Os investidores e analistas também questionam por que até agora a IBM não conseguiu se consolidar em áreas de crescimento rápido como a computação em nuvem para compensar a queda em seus negócios de hardware e software. Outras empresas de tecnologia que não se moveram com a rapidez necessária tiveram que tomar medidas mais drásticas, como a HP, que decidiu separar as divisões de PCs e impressoras e convertê-las em uma empresa independente, com ações negociadas em bolsa, e o eBay, que anunciou o desmembramento de sua unidade de pagamentos eletrônicos PayPal.

Receitas em baixa

Grande aposta da IBM, o negócio de computação em nuvem representa hoje apenas cerca de 3% da receita anual, segundo o último informe de resultados. Além disso, as unidades de serviços e software já não conseguem compensar a queda na demanda de hardware, cujas receitas totalizaram US$ 2,4 bilhões no terceiro trimestre deste ano, uma queda de 15% na comparação com igual período de 2013, de acordo com balanço divulgado nesta segunda.

O balanço mostra que as receitas do segmento Global Services caíram 3%, para US$ 13,7 bilhões. A receita do segmento serviços de tecnologia também diminuiu 3%, para US$ 9,2 bilhões, enquanto as receitas do segmento Global Business Services caíram 2%, para US$ 4,5 bilhões.

No segmento de software o cenário não é diferente. As receitas totalizaram US$ 5,7 bilhões, uma queda de 2% na comparação com o terceiro trimestre de 2013. As receitas com produtos de middleware-chave, que incluem o WebSphere, Information Management, Tivoli, Workforce Solutions e produtos Rational, foram de US $ 3,7 bilhões, queda de 1% em relação há um ano antes. A receita com sistemas operacionais totalizou US$ 513 milhões, declínio de 11% ano sobre ano.

Tudo isso tem levado alguns analistas a dizer que a IBM tem gasto seu dinheiro em coisas erradas — na recompra de ações, em vez de construir seu próprio negócio. "As finanças da IBM deixam evidente que a sua estratégia de não é de criação de valor através de investimento", disse David A. Stockman, ex-diretor do Escritório de Administração e Orçamento no governo Reagan, hoje banqueiro de Wall Street, segundo o The New York Times.

Para esses analistas, os pagamentos de dividendos e os programas de recompra de ações têm conseguido manter os investidores ativistas e os fundos de hedge em "sulêncio" — pelo menos até agora. Mas se o desempenho da IBM não for revertido, e logo, Rometty poderá enfrentar um "motim". Muitos dizem que ela está enfrentando uma batalha difícil, que não é problema de sua gestão. A maioria das empresas de tecnologia mais antiga se depara com um ambiente desafiador, com os clientes se tornam menos dependentes dos serviços tradicionais e mudando para a nuvem. E as margens de lucro da nuvem são muito mais magras.

Rometty já sinalizou que ela está tentando reposicionar IBM para o futuro, e já deu passos importantes em direção a esse objetivo. Mas, como para alguns de seus concorrentes, a medida por ter vindo tarde demais. Os analistas são unânimes num ponto: além de ter uma quantia de dinheiro substancial e acesso aos mercados de dívida, a IBM está com sua estratégia em andamento. A grande questão é saber se ela será bem-sucedida.

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