China pressiona empresas de tecnologia, inclusive americanas, a policiar a internet

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A China continua com seu plano de fortalecer a censura na internet, mas desta vez ela quer que as empresas de tecnologia sejam responsáveis por combater o cibercrime e os governos trabalhem em conjunto para alcançar o que ela classifica como ordem global no ciberespaço.

Essa foi a posição defendida pelo país sua terceira Conferência Mundial de Internet, que terminou na sexta-feira, 18, que reuniu executivos de tecnologia e líderes de governos em Wuzhen, uma antiga cidade no sul do delta do rio Yangtze, na China.

Os esforços da China para promover o seu conceito de internet, desta vez também tiveram maior ressonância devido uma série de discussões que estão postas no momento em razão de questões tais como se os sites de mídia social são responsáveis e devem retirar notícias falsas de suas páginas ou se os fabricantes de smartphones devem ajudar as polícias a obterem acesso aos a dispositivos de criminosos suspeitos.

O país sustenta que nada supera os interesses da segurança nacional, tal como também defenderam os principais líderes dos países presentes na conferência. "O setor privado deve assumir responsabilidades e têm o dever de combater o terrorismo", disse Yu Weimin, vice-presidente do Alibaba Group, varejista online e uma das maiores empresas de tecnologia da China, ao The Wall Street Journal.

A China aprovou uma lei contra o terrorismo em dezembro de 2015 que exigia que as empresas de tecnologia ajudassem o governo a decifrar dados e fornecer outro suporte técnico para casos de crack. Outras leis recentes exigem que as empresas de internet censurem rumores falsos e qualquer conteúdo que possa prejudicar a segurança nacional.

Yu, ex-funcionário do Ministério da Segurança Pública, disse que as empresas de web estão equipadas com as ferramentas para examinar as montanhas de dados que podem ser relevantes para as autoridades de contraterrorismo e não devem hesitar em fazê-lo. "O Alibaba agora tem cerca de 3 mil de seus quase 50 mil funcionários envolvidos em esforços de combate ao terrorismo e cibersegurança", informou.

As empresas que hospedam ou produzem conteúdo de entretenimento também devem se certificar de que seus canais não são usados para promover o terrorismo, mesmo inadvertidamente, disse Yang Peng, diretor de segurança cibernética da Tencent Holdings, a principal empresa de mensagens e games da China.

Yang disse que sua empresa examina cuidadosamente os vídeos que os usuários carregam no site da Tencent e bloqueia aqueles que considera prejudiciais. "Sob a direção e ajuda dos departamentos relevantes do país, o ambiente online da Tencent fez progressos claros."

As empresas de tecnologia norte-americanas, incluindo Facebook, Twitter e o Google estão sob crescente pressão nos EUA para policiar seu conteúdo de notícias e excluir relatos falsos, depois que alguns usuários argumentaram que histórias falsas sobre mídias sociais ajudaram Donald Trump a ganhar a eleição presidencial.

A questão da responsabilidade corporativa para ajudar o governo surgiu após a disputa do FBI na Justiça para que a Apple fosse obrigada a ajudar na quebra do código do software de criptografia do iPhone usado por um dos atiradores que mataram 14 pessoas de San Bernardino, na Califórnia, no início de dezembro do ano passado.

Em muitos casos, as empresas de tecnologia dos EUA resistem a cooperar com o governo, dizendo que a liberdade de expressão é garantida pela Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos e que não devem ser colocadas na posição de "colaboradores" diante de uma ameaça pública.

Tais escrúpulos são raros na China. Durante uma sessão na conferência, o ex-oficial de polícia de Hong Kong, Kam Chow Wong, subiu ao palco e exibiu imagens em uma tela grande atrás dele de manifestantes pró-democracia de Hong Kong em 2014. "Esse tipo de pessoas, uma vez radicalizadas, tornam-se a próxima geração de terroristas", disse Wong, que passou a descrever como os manifestantes usaram o Facebook e o Twitter.

O presidente da China, Xi Jinping, abriu a conferência com comentários em vídeo pedindo uma governança "mais justa e equitativa" da rede global. O principal orador na conferência não era um funcionário de tecnologia, mas o chefe do Partido Comunista Chinês, Liu Yunshan. Liu proclamou a China como líder global de opinião sobre o uso de novas tecnologias no combate ao terrorismo.

Muitos stakeholders da indústria não estão convencidos. Mas a presença de grandes empresas ocidentais na conferência, incluindo o Facebook, IBM, Qualcomm, Microsoft e o Linked, ilustra a importância da China para seus negócios.

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