Mais de um mês depois de Terry Gou, presidente da Foxconn, principal fabricante em regime de terceirização do iPhone da Apple na China, ter pegado um avião e aterrissado na sede da Sharp, em Osaka, no Japão, para fazer uma oferta de 600 bilhões de ienes (o equivalente a US$ 5,1 bilhões) para adquirir a fabricante japonesa de eletrônicos, as duas empresas ainda não conseguiram chegar a um acordo.
O fato surpreende porque negociações de aquisição prolongadas não são típicas do chefe da gigante chinesa, que já fala em desistir da compra. Numa tentativa de salvar o negócio, já que a Sharp, conforme vazou no mercado, tem cerca de 350 bilhões de ienes (US$ 3,14 bilhões) em passivos de dívidas, portanto um risco financeiro futuro muito elevado, o CEO da companhia japonesa, Kozo Takahashi, se reuniu recentemente com Gou, em Taipei, para aparar as arestas que estão atrapalhando o fechamento do negócio.
A verdade é que a compra da Sharp pela Foxconn está atolada em dificuldades, similares, por sinal, às enfrentadas há quatro anos por Gou, que acabou desistindo do negócio. Mas agora o prolongamento das negociações é visto por analistas como uma jogada do magnata chinês, conhecido por ser um negociador bastante difícil e agressivo ao lidar com os negócios.
Para esses analistas, Gou joga pressão sobre a Sharp, que tem até o próximo dia 31 como prazo final para amortizar a sua dívida. Segundo apurou o The Wall Street Journal, alguns credores da Sharp estão dispostos a dilatar o prazo por um mês para que a empresa possa fechar o negócio.
A Foxconn, na realidade, está tentando reduzir o preço que pretende pagar pelas ações da Sharp em até 100 bilhões de ienes (US$ 890 milhões), segundo pessoas familiarizadas com as negociações disseram ao jornal americano. Os dois lados estão renegociando o quanto de participação a Foxconn teria na Sharp, disse a mesma fonte. Anteriormente, a Foxconn havia oferecido 489 bilhões de ienes por uma participação majoritária na Sharp.
Apesar de se dizerem esperançosos de que a Foxconn irá chegar a um acordo para comprar a Sharp, as fontes admitem que há, sim, uma chance de o negócio não prosperar. No mês passado, a Foxconn desistiu de fazer uma oferta à rival japonesa Innovation Network Corp. (INCJ), pertencente a um fundo do governo japonês.
Com as incertezas que cercam o negócio, os investidores estão cautelosos. Na terça-feira, 22, as ações da Sharp caíram 6,5%, para 129 ienes, na Bolsa de Tokyo. Neste ano, aliás, as ações da Sharp vem tendo variações extremas, para o alto e para baixo. Em janeiro, atingiram o valor mais baixo, de 109 ienes, e quando a oferta Foxconn surgiu, em fevereiro, subiram para 179 ienes.