A vigilância, agora, é nas nuvens

0

Recentemente, o Google anunciou a implantação em caráter experimental de uma rede gigabit de acesso à internet. Provavelmente você nunca experimentou uma velocidade tão alta, mesmo em uma rede local. A importância da novidade não está na possibilidade de baixar um filme em segundos ou navegar instantaneamente, mas na confirmação de um processo irreversível de migração da computação baseada em PC para a nuvem (cloud computing). A propósito, você não baixará filmes da internet. Você os verá diretamente na rede.
Em diversas áreas, a migração de aplicativos para a nuvem já ocorre há algum tempo. Soluções de comércio eletrônico, ERP e CRM, que demandariam milhares de dólares em servidores, licenças, consultoria e contratos de manutenção, são ofertados como SaaS (software as a service, ou software como um serviço). Esse modelo começa a se apresentar também para o monitoramento de imagens, naquilo que vem sendo denominado VSaaS (video surveillance as a service – videossupervisão como serviço).
O VSaaS promete maior eficácia e redução de custos na implantação e manutenção de sistemas de monitoramento. Isso é possível porque o modelo promove a centralização dos recursos críticos de processamento, gerenciamento e armazenamento, com ganhos de escala que possibilitam serviços profissionais a custos acessíveis. Ofertas de VSaaS já podem ser encontradas em diversos países, inclusive no Brasil, com valores de mensalidade bastante competitivos, variando entre 10 e 30 dólares por câmera, com visualização ao vivo e gravação.
Será, então, que o futuro do vídeo monitoramento está na nuvem? No longo prazo, sim, mas as condições atuais da Internet impõem algumas limitações e desafios, tais como:
Largura de banda: Embora as operadoras ofereçam conexões cada vez mais velozes, os pacotes de banda larga mais avançados ainda têm dificuldade para suportar mais do que 3 ou 4 câmeras fazendo upload de imagens. Codecs de compressão sofisticados, como o H.264, melhoram o quadro, mas ainda não são suficientes para abarcar mais do que sei ou oito câmeras, e, ainda assim, com concessões quanto à qualidade das gravações. Alguns provedores solucionaram esse problema incluindo um equipamento de gravação local gerenciado remotamente, numa versão do VSaaS conhecida por Managed Video (vídeo gerenciado). Como as imagens são gravadas localmente, eliminam-se as restrições quanto ao número de câmeras e qualidade das gravações. É um promissor modelo de transição para o Hosted Video (vídeo hospedado), cujas imagens são gravadas na nuvem e que só será plenamente viável com um aumento significativo da disponibilidade de banda.
Implantação e manutenção: o VSaaS pressupõe acesso remoto aos dispositivos. Atualmente, para que isso se concretize, o integrador necessita conhecimentos de rede, o que é uma barreira para o desenvolvimento. A solução está no desenvolvimento de equipamentos "plug and play", que realizam de forma automática muitas das tarefas de configuração e manutenção, tornando o serviço muito mais simples.
Compatibilidade: A maioria dos provedores de VSaaS é compatível apenas com alguns equipamentos, o que permite um melhor controle sobre os serviços, mas limita as oportunidades de crescimento. Existem dezenas de milhões de câmeras em funcionamento em todo o mundo (no Brasil, aproximadamente 2 milhões), a maioria analógicas. Soluções mais compatíveis permitiriam aos provedores ampliar seu um escopo de atuação.
Interface: Se o modelo VSaaS se propõe a simplificar a vida dos usuários, seus controles deveriam ser intuitivos. Não é o que acontece, na maioria dos casos. Alguns sistemas parecem herdar conceitos antigos de CFTV. As interfaces devem ser repensadas, centrando-se no usuário. Até algumas premissas, hoje tidas como universais, como o acesso via web, merecem questionamento.
Os sistemas de segurança estão entre os que mais se beneficiarão com uma abordagem SaaS, pois muitos dos problemas de instalação, manutenção e confiabilidade poderão ser sanados com o gerenciamento automatizado e centralizado. Além disso, novas possibilidades se abrem, com uma melhor interação entre usuários distribuídos, acesso via diversos tipos de dispositivos remotos e sistemas integrados de segurança.
Pensar em um modelo que funcione em uma Internet perfeitamente veloz e confiável, como o Google pretende fazer, é fácil. O desafio é encontrar soluções eficazes para o que há disponível hoje. As empresas que encontrarem formas inteligentes de contornar limitações atuais estarão bem posicionadas para um papel de liderança no mercado de sistemas de segurança do futuro.
*Edson Pacheco é engenheiro mecânico pela Universidade Federal de Pernambuco, com MBA pelo IESE Business School de Barcelona. Com 15 anos de experiência em TI, é diretor fundador da empresa de monitoramento Visionica.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.