M-commerce precisa superar barreiras estruturais para avançar no país, dizem especialistas

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Apesar do uso crescente do celular com acesso à internet para compras em geral, o mobile commerce ­— ou m-commerce, como é chamado — ainda enfrenta uma série de desafios para avançar no Brasil. O desempenho sofrível das redes móveis, preços elevados dos smartphones, sites mal estruturados e a segurança são alguns dos fatores limitadores à sua expansão.

"O problema impacta na nossa performance, às vezes vemos o aplicativo funcionando no Wi-FI, mas não no 3G", diz Malte Huffmann, CEO da varejista online de moda Dafiti, que no ano passado reformulou sua plataforma móvel. Mas, mesmo como essa limitação, o executivo observa que hoje 16% das vendas da empresa já são provenientes do acesso móvel.

Além de transpor a barreira da infraestrutura móvel brasileira, o executivo aponta outras questões relativas à concepção do m-commerce para o sucesso do negócio. "Grande parte do êxito da operação móvel vai depender da experiência de compra do consumidor", diz Huffmann, que foi um dos palestrantes no Fórum Mobile+, realizado nesta terça-feira, 30, em São Paulo.

Segundo ele, o consumidor hoje está cada vez mais exigente e, por isso, o carregamento da página (page speed) tem uma relação direta com a boa experiência do usuário. "É preciso olhar para a velocidade do seu site… não só para melhorar as buscas, mas também a experiência do cliente."

O CEO da Dafiti observa ainda que o m-commerce apresenta as dinâmicas mais "esquisitas" e precisa de redirecionamento constante. Por isso, a operação precisa de um gerente top e de uma equipe exclusiva, dedicada.

Varejo móvel

Do mesmo modo que há uma unanimidade entre os varejistas que o problema da infraestrutura móvel brasileira é um limitador para o avanço do m-commerce, existe também um consenso entre elas de que varejo online tende a ser cada vez mais móvel.

Para David Kato, diretor de operações do iFood, plataforma de delivery online de comida, a prova disso é o crescimento do próprio site. Em 2013, segundo ele, o iFood passou dos 100 mil pedidos mensais feitos através do app móvel, e neste ano, depois da fusão com o RestauranteWeb, o volume de pedidos/mês atingiu a casa dos 350 mil. "Hoje, quase 70% dos nossos pedidos são feitos através do app móvel", comemora, acrescentando que a empresa investe mais recursos [financeiros e de pessoal] em mobile do que em web.

Kato observa, porém, que a experiência de compra pelo celular é diferente da feita pelo navegador de internet tradicional. A relação do consumidor muda, por isso ele diz que é preciso haver uma forte identificação com a empresa/marca. Além disso, alguns produtos têm o caso de uso mais claros para o m-commerce. "Usar o celular para pagar uma corrida de táxi é mais simples e faz mais sentido do que adquirir um carro", enfatiza.

100% virtual

A Netfarma, empresa online de medicamentos, foi uma das enxergaram essa oportunidade. Criada há dois anos por empresários da indústria farmacêutica e do e-commerce, a companhia comercializa mais de 20 mil produtos diferentes, entre remédios e produtos de higiene e beleza. Algumas das grandes redes farmacêuticas têm a opção de entrega com pedidos na internet, mas a Netfarma foi criada só para essa finalidade, explica Edilaine Godoi, diretora de marketing da empresa.

Para a operação de m-commerce, a Netfarma investiu em uma tecnologia diferente, que permite o reconhecimento de embalagens de produtos a partir de uma foto tirada por um celular ou tablet. O aplicativo Netfarma Acha localiza os itens da loja virtual no site da empresa para que a compra seja finalizada. A rede promete entregar a compra em até quatro horas na cidade de São Paulo.

Neste ano, a empresa também criou prateleiras "virtuais" em algumas estações do Metrô de São Paulo para incrementar as vendas por meio de dispositivos móveis. Na plataforma, um painel exibe a foto de uma prateleira com produtos como sabonete, xampu e fraldas, convidando o usuário a baixar um aplicativo e fazer a compra dos itens na hora, a partir de uma foto feita pelo celular, para serem entregues em casa.

Comida online

Outra que resolveu apostar no mobile commerce foi a empresa de pedidos de comida online Hellofood. Com presença em 45 países, em cinco continentes, a empresa diz ter hoje mais de 7 milhões usuários no mundo. "A HelloFood funciona fazendo parcerias com restaurantes", diz Maxime Legardez, diretor da empresa, acrescentando que a empresa oferece hoje mais de 25 mil restaurantes em todo o mundo.

O serviço de delivery é acessado por meio de um aplicativo, permitindo que o usuário encontre o lugar do qual deseja a comida. O modelo de negócios cobra do estabelecimento, e não do cliente, uma porcentagem do valor gasto no pedido.

O executivo cita uma série de fatores que levaram a Hellofood a investir do no Brasil tais como a penetração de 137% da telefonia móvel e de 23% dos smartphones, bem como o fato de a mobilidade já representar de 7% a 8% do total de transações online.

Legardez não concorda totalmente que as limitações das redes móveis seja um fator decisivo para o baixo crescimento do m-commerce no Brasil. Como exemplo, ele cita o caso de alguns países da África, cuja infraestrutura é precária, mas a penetração da mobilidade é extremamente elevada. Isso significa, segundo ele, que a experiência do usuário precisa ser adequada para esse cenário de conexões limitadas.

O que dificulta a expansão do mobile commerce ainda são problemas de estrutura, diz ele. O primeiro grande ponto é que a maioria das lojas virtuais não tem o enfoque em montar um site voltado ao mercado mobile. "No celular, o carregamento das páginas e o processo de compra devem ser mais ágeis. Se diferenciar nas funcionalidades, como a compra em apenas um clique, pode gerar resultados surpreendentes", diz ele.

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