IFRS9: da complexidade à oportunidade

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O relógio está correndo. A partir de 1 de janeiro  a nova norma International Financial Reporting Standards (IFRS) 9 será adotada e as instituições financeiras, especialmente bancos e seguradoras, serão as mais impactadas. E isso porque as novas regras implicarão em algumas mudanças importantes para operações de cobrança de dívidas, sejam elas internas ou via empresas de cobrança de dívidas externas.

Durante a preparação para este primeiro dia de IFRS9, alguns modelos foram construídos, testados e validados, mas confiar totalmente nestes modelos é quase como se preparar para um acidente de carro programado: você sabe que o evento vai acontecer e que será muito caro e doloroso, mas ainda não sabe o tamanho exato dos danos.

Sim, é tentador buscar conforto em benchmarks ou pesquisas da indústria. Mas, assim como você nunca pisaria forte nos freios do seu carro durante uma forte chuva baseando-se na distância de parada média em condições climáticas padrão, você também não planejaria o impacto da IFRS9 na sua empresa com base apenas no impacto médio da indústria.

Alguns estudos publicados têm tentado preparar as organizações fornecendo faixas e médias estimadas em relação ao impacto. E, uma vez compartilhados amplamente, eles estabelecem expectativas que podem deixar certas entidades sub-preparadas. Para planejar os desafios futuros, é melhor passar algum tempo pensando em fatores que podem afetar especificamente seu portfólio.

Em julho de 2014, quando a IFRS 9 foi anunciada, o setor bancário, em especial, acreditou que anova norma seria apenas uma atualização da International Accounting Standards (IAS) 39. Na época, eles estavam considerando como poderiam adaptar seus sistemas existentes ao novo padrão. No entanto, como a IAS 39 abrange as perdas incorridas de um banco e a IFRS 9 baseia-se em parte na estimativa de perdas de crédito esperadas, o último, de fato, anuncia uma mudança na forma com a qual os bancos calculam suas provisões de perdas.

Os bancos passaram, então, a estudar o que a IFRS 9 significará para suas instituições, e começaram a desvendar as implicações, que são abrangentes e muito mais desafiadoras, em comparação com os padrões contábeis anteriores – incluindo a precursora da IFRS 9, a IAS 39. E a interpretação da IAS 39 é, sem dúvida, um dos principais drivers de impacto da nova norma. Isso porque uma das mudanças que ilustra a simplificação que a mudança causará está no fato de que as seis categorias de ativos e passivos passaram a ser apenas duas: ativos financeiros ao valor justo e ativos financeiros ao custo amortizado.

Tal mudança exigirá das instituições bancárias um alto grau de dedicação, revisão de processos internos e uma clara comunicação entre diversas equipes. Será uma verdadeira jornada em direção à plena conformidade com a IFRS 9, bastante desafiadora. É preciso, no entanto, pensar que, com a mudança vem também a oportunidade, e a introdução da IFRS 9 está dando a algumas instituições bancárias a oportunidade de rever seus sistemas de compliance contábil e melhorar, inclusive, a transparência nas instituições.

Com demonstrações e instrumentos financeiros mais eficientes, além de mais claros, será mais fácil o planejamento de ações. Hoje, o risco admitido e previsto pela IAS 39 é feito pelo histórico registrado. Assim, muitas vezes, o impairment não corresponde à natureza ou realidade do planejamento estratégico. Com a mudança, cada registro terá perdas previstas fiéis à sua movimentação, às questões influentes, ações e decisões da organização.

São vantagens progressivas, e a maior delas, sem dúvida, será uma forma mais eficiente de ter informações e mensurar dados. Tudo com muito mais transparência. O que parece dor pode se transformar em um grande alívio ao final do dia.

Daniel Arraes, diretor de Serviços Analíticos da Fico para América Latina e Caribe.

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