A digitalização do arado

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Eu sou natural de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, chamada Canguçu, cerca de 350 km distante de Porto Alegre. Canguçu é a capital nacional da agricultura familiar, maior minifúndio da América Latina e um dos maiores produtores de milho, soja e tabaco do país.

Logo que chega na cidade, o visitante se depara com o "monumento ao colono",  uma homenagem aos agricultores e imigrantes que ali chegaram em meados do século XIX, como a minha família, vinda da Alemanha.

A cena rural representada no monumento está ali eternizada. Em alguns rincões do município ainda é possível encontrar essa cena, embora a mecanização tenha chegado com a expansão das culturas da soja, milho e tabaco. O arado da imagem nos remete à primeira evolução da agricultura, cerca de 4.500 a.C, quando o homem cansou de vagar em busca de terras boas para o cultivo.

Muitos anos depois, durante meados do século XVIII, novas técnicas de plantio foram implementadas na Inglaterra e, assim, as atividades da pecuária e agricultura se integraram, acabando com a escassez de alimentos na Europa. De lá até meados do século seguinte, com a introdução das novas técnicas e tecnologias, a produção agrícola na Inglaterra cresceu de forma exponencial, liberando mão de obra para as fábricas que começavam a ser instaladas, dando origem à Primeira Revolução Industrial.

O historiador americano e professor da Universidade de Stanford, Ian Morris, no seu livro "Why the West Rules-For Now", define um índice de desenvolvimento humano ao longo da história composto por quatro características: captação de energia per capita, organização, tecnologia da informação e capacidade de fazer guerra. Colocando em perspectiva grandes acontecimentos históricos, podemos inferir que nenhum deles teve tamanho impacto sob o desenvolvimento econômico e humano quanto os acontecimentos do século XVII e XVIII.

O grande legado científico e tecnológico desse período foi, sem dúvida, a energia a vapor. Quando uma máquina, pela primeira vez, conseguiu substituir a força humana ou animal na produção de bens. A Revolução Industrial transformou completamente a vida na Inglaterra. Os avanços científicos permitiram a fabricação de bens com alta velocidade e a capacidade de transportá-los para qualquer lugar. Além disso, surgiram as grandes cidades, e a Inglaterra se transformou na fábrica do mundo no século XIX e ocupou a supremacia do comércio mundial.

A história nos prova que a inovação tecnológica contribui para a prosperidade das sociedades humanas, mas também implica na substituição do antigo pelo novo. Com a chegada da inovação, novas empresas e serviços surgem, incumbentes precisam se reinventar e a qualidade de vida aumenta, pois, para que haja crescimento econômico sustentável, são necessárias novas tecnologias e maneiras de fazer as coisas. No campo, não é diferente.

Vivemos, hoje, uma nova revolução na agropecuária e, mais uma vez, como aconteceu no final dos seculo XIX, há sinergia entre as revoluções na indústria e no campo. Ao mesmo tempo em que surge a Revolução Industrial 4.0, surge a Agricultura 4.0, tendo exatamente os mesmos princípios: alicerce em tecnologia, em especial, na Internet das Coisas (IoT) e na Inteligência Artificial (AI).

Porém, paralelamente ao que o motor a vapor fez com a força humana, a tecnologia computacional irá transformar o trabalho essencialmente feito com a mente humana. Haverá impactos sobre a geração e tipos de emprego. E esse é o nosso desafio hoje: qualificar a força de trabalho para esse futuro.

Lucas Pinz, diretor de tecnologia responsável por Transformação Digital e IoT da Logicalis.

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