Esse tal de Mundo BANI

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Antes é preciso explicar o Mundo VUCA: esse acrônimo (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) constantemente usado para explicar o Mundo que vivemos, atingiu seu ápice no final dos anos 10, mas hoje, em pleno 2021, com um ano de pandemia sendo vivida mundialmente, ele não só perdeu seu significado, como deixou de fornecer insights úteis sobre a questão básica: Como podemos lidar com as circunstâncias atuais?

E com isso, surge uma nova terminologia: BANI. Que tangibiliza uma imagem mais clara do que o mundo nos parece hoje. Esse novo mundo, não contradiz o que já era dito no Mundo VUCA, ele potencializa seu significado, elevando o patamar de entendimento.

Isso porque, o que costumava ser volátil, deixou de ser confiável. E essa incerteza, essa insegurança, tornou as pessoas mais ansiosas. Começamos a perceber que os sistemas interdependentes, obedecem a lógicas não lineares e a ambiguidade que sentíamos, deu lugar a uma grande incompreensão.

E daí o acrônimo BANI, do inglês: Brittle, Anxious, Non Linear e Incomprehensible.

A palavra Brittle, significa frágil, quebradiço, inseguro. Tudo o que acreditamos, tudo o que vivemos, pode quebrar do nada, mesmo que possa parecer confiável, flexível e até mesmo inquebrável. É fácil entender essa expressão, quando todo o nosso lifestyle, desmoronou na pandemia. Socialização, troca de carinhos, contato pessoais, que antes faziam parte inerente da nossa vida, foram banidos, assim como nossa livre circulação.

Mas existem outros exemplos de sistemas interconectados frágeis no nosso cotidiano, que já estavam se tornando realidade, independente da pandemia: uso de recursos naturais, suprimento de comida, abastecimento de energia, comércio global. Em um mundo interconectado, uma falha desastrosa em um país, pode causar um efeito cascata em todo o mundo.

Nossos sistemas críticos estão essencialmente interligados e não possuem sistemas à prova de falhas. Se um componente falhar, o resultado poderá ser uma série de sistemas falhando e caindo como dominós, um após o outro. Faça mentalmente o exercício de imaginar isso acontecendo com o sistema financeiro ou com o sistema de defesa de algum país com armas nucleares.

E, obviamente, a consequência desta constatação é o sentimento de ansiedade generalizado. Onde as pessoas, se sentem impotentes e incapazes de tomar decisões. E enquanto se sentem paralisadas esperando o próximo desastre acontecer, se tornam passivas e dependentes, delegando ao outro a responsabilidade.

Some a isso, a mídia inundando cotidianamente as pessoas com fatos, sem muitas vezes trazer indícios do que seria certa ou errado e quais ações levam a quais consequências, aumentando ainda mais a sensação de incerteza e ansiedade. Sem falar das Fake News, potencializando ainda essa sensação.

Nesse ambiente, a construção de um mindset positivo, é vital para que as pessoas aprendam a lidar positivamente com as circunstâncias, direcionando sua mente para a identificação de oportunidades e saindo assim da perplexidade.

A próxima letra, o N, vem da não linearidade. Isso quer dizer, que a lógica tradicional de causa e efeito, não mais se encaixa perfeitamente e não pode ser avaliada com a antecedência habitual.

Pequenas decisões podem ter impactos desproporcionais, benéficos ou devastadores, quando se aumenta a proporção tempo x espaço. Isso porque, se analisarmos períodos maiores, ações sem importância, acabaram levando a consequências não vistas imediatamente.

O aquecimento global, da forma que está se manifestando hoje, é resultado de decisões tomadas há 40, 60, 100 anos.

A pandemia, introduziu uma crise sem precedentes em termos de escala, extensão, infecção e taxas de mortalidade, que só saberemos a real extensão de impacto na saúde, economia, comportamento, política daqui a muitos e muitos anos.

Ele se aplica a todos os sistemas complexos, como a economia, sistemas biológicos, à ciência… As consequências plenas de qualquer causa podem levar muito tempo para emergir.

E por fim, a última letra é o I de incompreensível. Esses resultados não lineares de qualquer causa, eventos e decisões, parecem carecer de qualquer lógica ou propósito. Não podemos compreender a causa porque ela pode ter se passado há muito tempo ou parecer muito terrível ou ainda totalmente absurda.

E ter mais informações e dados disponíveis, também não significa encontrar uma resposta. Pois quanto mais aumentamos nossa captação de sinais (dados), mas o ruído também aumenta, enquanto a nossa capacidade de entender o mundo, permanece a mesma, pois biologicamente, mantemos nossa capacidade de processamento de pensamentos inalterada.

Por esse motivo, apesar de não compreendermos as lógicas não lineares, com o tempo, o uso de tecnologias e a sinergia entre o cérebro humano e a Inteligência artificial, muitas coisas se tornarão mais compreensíveis no futuro.

Sempre que trabalhamos com cenários futuros, tendências, corremos o risco de adotar uma visão apocalíptica das coisas. Embora, estejamos num momento mundial, onde o pessimismo tem um importante papel, é fundamental, que ao entendermos os conceitos do BANI, possamos estabelecer novas ligações entre causas e efeitos através de um framework estruturado que possa direcionar reações para os principais problemas.

Em relação ao desenvolvimento pessoal e liderança, surgem também as principais tendências associadas a esse novo prisma. Se algo é frágil, precisamos desenvolver a resiliência e a força; se estamos ansiosos, precisamos de empatia para com o outro, capacidade de foco e atenção plena; se precisamos entender a não linearidade, necessitamos de contexto e adaptabilidade e, se iremos encarar o incompreensível, precisamos mais do que nunca valores, transparência, fé e intuição.

Alessandra Andrade, coordenadora do Business Hub da FAAP.

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