A Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 terão um impacto econômico positivo para o país como um todo e devem acelerar os investimentos em infraestrutura a fim de atender a demanda decorrente dos eventos que estão por vir, o que abrirá um leque variado de oportunidades para vários setores. Estudo do Ministério dos Esportes mostra que somente o evento da Fifa deve gerar investimentos de R$ 183 bilhões para o país, uma vez que será realizado em 12 cidades diferentes. Deste total, 73% serão de aportes apenas para a realização do campeonato de futebol.
Para os setores de tecnologia da informação e telecomunicações, a realização dos eventos também será favorável. O estudo do governo aponta que, no caso específico da infraestrutura de serviços, como transportes, aeroportos, entre outros, os investimentos totalizarão R$ 10,3 bilhões, sendo que apenas para TI e telecom serão aplicados R$ 3,3 bilhões.
Um outro estudo, realizado pela consultoria Ernst & Young, indica que os investimentos para a Copa do Mundo vão injetar R$ 142,3 bilhões na economia brasileira entre 2010 e 2014, e resultarão num crescimento de 2,9% no Produto Interno Bruto (PIB) de ambos os setores. A projeção de gastos apenas com TI, para atender às exigências do evento, é de R$ 589 milhões. De acordo com a consultoria, somente os gastos de turistas com comunicações, que virão ao país para ver os jogos, chegarão a R$ 273,4 bilhões.
Ainda está em aberto a quantidade de recursos que virão dos bancos públicos e empresas privadas para a realização dos Jogos Olímpicos. No entanto, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já anunciou que vai ser responsável por cerca de 14% de todo o financiamento.
É preciso considerar também que o país terá de injetar recursos para a melhoria da infraestrutura de acesso à internet em alta velocidade. Para, Antonio Gil, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), a internet em banda larga, por sinal, deve ser a principal questão a ser discutida. Isso porque, segundo ele, as condições da web em alta velocidade no país ainda são "precárias" quando comparadas aos países desenvolvidos. Ele observa que este é "o ponto mais óbvio" a ser tratado e deve ser o foco de investimentos, já que o Brasil não está bem [nesse quesito]. "Até porque, quatro anos são muito pouco tempo", diz. Gil avalia que, exatamente por conta dos problemas, há muito a ser feito, o que deve abrir uma série de oportunidades para as empresas de TI brasileiras, especialmente às prestadoras de serviços.
Mas como o Brasil pode aproveitar as possibilidades de negócios que surgirão com os dois eventos. Na opinião do presidente do Instituto de Tecnologia de Software (ITS), Descartes de Souza Teixeira, a garantia de que as empresas brasileiras do setor não perderão essas oportunidades deve vir do governo. Ele explica que as empresas brasileiras de TI são muito pequenas, por isso o governo deveria incentivar o processo de fusões e aquisições de forma a fortalecer as companhias economicamente. O governo, segundo ele, precisa deixar de ser reativo e "premiar" apenas os setores que fazem mais lobby, mas estimular os segmentos que precisam de investimentos e inovação.
O presidente do ITS avalia que as empresas do Brasil têm potencial para atender as demandas trazidas pela Copa do Mundo as Olimpíadas, mas ressalta que elas precisam trabalhar mais nas soluções. "As empresas brasileiras não têm as soluções necessárias, e as competições só poderão ser bem atendidas se as deficiências forem identificadas, para que o investimento público seja captado de maneira correta", diz Teixeira.
Banda não tão larga
Para o gerente de projetos de telecomunicações do Ministério das Comunicações, Jovino Francisco Filho, o país estará "perfeitamente apto" a receber as competições até a época da realização. Ele toma como base o avanço do setor nos últimos cinco anos e a evolução da infraestrutura das telecomunicações como exemplo da capacidade do país de receber os eventos. E cita dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), para mostrar que, há quatro anos, o país contava com 40 milhões de linhas de telefonia móvel e hoje já tem 180 milhões. "A evolução de telecom no Brasil é clara."
Em contraposição a essa visão, o presidente da Brasscom, Antonio Gil, diz que as comunicações móveis ainda estão em estágio preliminar de desenvolvimento, se comparadas as dos demais países, principalmente em relação a banda larga no celular. Ele observa que a imensa maioria dos celulares em uso no Brasil é do serviço pré-pago, em detrimento do pós-pago. Segundo Gil, a única forma de fazer das comunicações móveis andarem para frente é inverter essa relação, com a disseminação dos celulares pós-pagos. O problema, diz ele, é que as operadoras não têm infraestrutura para sustentar essa transformação do mercado, o que inviabilizará a disseminação das comunicações móveis na Copa do Mundo e nas Olimpíadas.
O gerente do Minicom, no entanto, rebate dizendo que há projetos concretos de incentivo a ampliação da cobertura da rede das operadoras de telefonia, que ainda serão divulgados. "A rede de telecom estará pronta para os eventos daqui a quatro anos. Se eles fossem realizados hoje, o país também estaria apto, já que os projetos teriam sido planejados com a mesma antecedência que vemos hoje", afirma.
Um estudo encomendado pela Comissão de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica da Câmara dos Deputados, publicado em janeiro deste ano, entretanto, mostra que a velocidade de transmissão de dados sem fio é mais lenta do que a via cabo. Além disso, a internet fixa em banda larga no Brasil está restrita às classes A e B, com ritmo de crescimento decrescente desde 2004. O relatório previu que o número de usuários de banda larga deve se estabilizar em menos de 20 milhões até o fim de 2014. A pesquisa também revela que a velocidade da banda larga brasileira não passa da velocidade de 2 Mbps em quase 90% dos domicílios que fazem uso do serviço. Para efeito de comparação, pelos critérios da União Internacional de Telecomunicações (UIT), a banda larga deve apresentar velocidade mínima de 2 Mbps. O trabalho estudo aponta, ainda, que os preços dos serviços de internet no Brasil, de R$ 50 em média, exclui 65% dos brasileiros. Ou seja, ainda há um longo caminho a ser percorrido pelo país até o pontapé inicial da primeira partida da Copa de 2014.
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