O Brasil não tem competitividade para instalar uma efetiva indústria de tablets. A avaliação é do pesquisador de economia da informação, João Maria de Oliveira, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), para quem, no curto prazo, o país conseguirá apenas montar equipamentos a partir de componentes importados de outros países, como acontece na produção de computadores, televisores com tela fina e aparelhos celulares, cujos processadores e monitores são apenas encaixados por trabalhadores brasileiros nas linhas de produção final.
"O processo de criação, de design, de produção de software, associado aos tablets, não vai ser feito no Brasil. E é aí [nessas atividades] que está o valor adicionado à geração de tecnologia", diz. Na opinião dele, a montagem de equipamentos tem baixo valor agregado e gera poucas divisas, no caso dos produtos serem vendidos ao exterior. "Simplesmente importar uma indústria para começar a produzir esse tipo de equipamento, que tem, de fato, demanda em larga escala, o valor adicionado não vai ficar aqui. Isso vai ser [destinado] para quem desenhou, articulou ou produziu softwares associados a esses equipamentos", pondera Oliveira.
Para o pesquisador, é preciso encontrar um nicho de atividades ligadas ao uso de tablet. "Nós precisamos investir, no longo prazo, na indústria de desenvolvimento de software e de design. É isso que está em aberto", destaca, ao lembrar que o processo não é imediato e pode levar 15 anos. E, além disso, vai exigir muito investimento em ciência e tecnologia.
Oliveira compara as possibilidades de instalação da indústria dos tablets com o interesse da indústria de petróleo no Brasil. O país virou referência mundial por causa da capacidade de extração de óleo na camada pré-sal, no fundo do oceano. "Na área de tecnologia para a exploração do pré-sal, o processo é inverso: os grandes centros das empresas [transnacionais] vêm pra cá e não é só porque tem mercado [aqui no Brasil], mas porque percebem que nós temos uma expertise." Na opinião dele, a despeito de anúncios oficiais, os centros de pesquisa e desenvolvimento dos grandes fabricantes de tablet não virão para o Brasil. "Não virão sem algum domínio [tecnológico] ou sem técnicos suficientes", lamenta.
Nesta semana, foi estabelecido o cronograma para a nacionalização da produção dos componentes do tablet. Foram publicadas as portarias que definem a quantidade de componentes, partes e peças nacionais que os fabricantes devem utilizar na montagem do equipamento para ter direito aos benefícios tributários.
Outra barreira apontada por Oliveira é a falta de profissionais capacitados. "Nós não temos mão de obra qualificada para dar suporte à continuidade do processo de instalação do tablet." "A nacionalização vai demandar grandes esforços para formação de mão de obra", concorda Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Ele considera a disponibilidade da força de trabalho para a indústria de ponta no Brasil "uma questão bem delicada do nosso desenvolvimento, ainda a ser resolvida".
"Acredito que existe, atualmente, um déficit de mão de obra em quase todas as áreas de atuação, o que, com certeza, implica em certa dificuldade de encontrar profissionais interessados e qualificados para o desenvolvimento e produção da indústria de tablet", acrescenta Fábio Bedran, gerente administrativo da empresa mineira MXT, que anunciou a fabricação do aparelho para o mercado corporativo.
Conforme Bedran, a produção de tablets exige a contratação de engenheiros elétricos, engenheiros de radiofrequência e engenheiros de telecomunicação, para o desenvolvimento dos dispositivos do aparelho, e também de pessoas formadas em ciência da computação e sistema de informação, para o desenvolvimento de aplicativos e programas. Com informações da Agência Brasil.
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