O professor titular do departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, Valdemar Setzer, criticou duramente o projeto Um Laptop por Criança, oferecido pela ONG OLPC (One Laptop Per Child), que visa distribuir computadores portáteis a estudantes de vários países, assim como o interesse do governo brasileiro no projeto. O One Laptop Per Child foi idealizado por Nicholas Negroponte, do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Setzer diz que o programa não é uma forma efetiva de propiciar mais conhecimento e desenvolvimento intelectual às crianças e aos adolescentes e melhorar o seu rendimento escolar. O professor, um dos mais obstinados críticos aos meios eletrônicos e o seu impacto sobre a educação, em seu trabalho de pesquisa estuda a influência que a TV, o computador e os jogos eletrônicos exercem especialmente sobre as crianças. A sua posição é: "Deixem as crianças serem infantis, não lhes dêem acesso a TV, jogos eletrônicos e computador!".
Setzer fará uma avaliação do programa durante conferência na 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece entre os dias 8 e 13 de julho, em Belém (PA). O propósito do professor é mostrar que o projeto OLPC não é acompanhado por nenhum projeto educacional específico. ?A mentalidade é a de que computador no ensino é bom, ponto final.". Ele abordará em sua palestra dois aspectos: o local, isto é, por que ele é inapropriado para o Brasil; e o universal, válido para qualquer uso de computadores por crianças e jovens.
No primeiro caso, vai mostrar vários fatores que deveriam impedir esse projeto de ser concretizado, tal como a questão fundamental das prioridades dos gastos públicos com educação. ?No Brasil, há prioridades muitíssimo mais urgentes, como a melhoria dos salários dos professores e seu melhor preparo didático, a melhoria das condições das escolas etc.?, observa Setzer.
Quanto aos fatores universais, Setzer, desde 1976, tem-se mostrado decididamente contra o uso de computadores por crianças e jovens pelo menos até os 15 anos de idade. Ele justifica sua posição contrapondo o fato de o computador ser uma máquina matemática, que exige o uso de linguagem e pensamento formais, lógico-simbólicos, ao desenvolvimento da criança e do jovem segundo a conceituação e prática da pedagogia Waldorf. "Nessa conceituação, o pensamento e a linguagem formais impostas pelo computador são impróprias para crianças e jovens, prejudicando um desenvolvimento intelectual harmônico com o resto de seu desenvolvimento", diz o professor.
Segundo ele, essa conceituação é corroborada por resultados de pesquisas que mostram que, estatisticamente, quanto mais uma criança ou jovem usa um computador, pior o seu rendimento escolar.