A lenga-lenga praticada nas empresas

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A data para a entrada em operação de um novo produto, serviço ou até mesmo de um banco, ao contrário do que muitos imaginam, não é definida apenas pelo famoso "time-to-market". Na esmagadora maioria das vezes, é decidida pela área de negócios que se baseia, principalmente, em eventual "achismo" ou vaidade de algum investidor.

Em uma reunião, alguém que jamais conduziu um projeto na vida faz contas de cabeça e diz que determinado período de tempo é mais que suficiente para estruturá-lo, contratar as pessoas, adquirir tudo o que for necessário e entrar em operação. Como essas contas mirabolantes normalmente surgem na cabeça de alguém com alto poder, ninguém se atreve a contrariá-lo e, a partir daquele momento, inicia-se a corrida maluca na elaboração do cronograma reverso. Na prática, é mais ou menos como determinar a data de nascimento de uma criança sem que os pais tenham sequer se conhecido.

Assim como no exemplo acima, existem situações na vida real que nem todo o dinheiro do mundo é capaz de mudar o tempo de elaboração, planejamento, execução e entrega do projeto. Como os envolvidos na concepção e entrega do projeto sabem que o tempo estipulado é inviável, a preocupação deixa de ser a entrega e passa a ser a criação de uma estratégia para não ficar com a batata quente nas mãos; em outras palavras, não ser apontado como culpado pela falta de compromisso.

Os times se dividem e, naturalmente, tornam-se opositores, pois todos dizem ser possível realizar as atividades que estão sob sua responsabilidade desde que a outra equipe que os precede entregue a tempo a sua parte. Se não fosse trágico, seria até divertido, mas verdadeiros shows de horrores começam a acontecer.

Atrasar seu opositor em um dia é maravilhoso; em uma semana, uma verdadeira glória! Para isso, qualquer coisa serve; a reunião de reporte do projeto costuma ser o ápice periódico dos confrontos, pois são verdadeiros Coliseus cercados por um público que adora sangue; os gladiadores utilizam informações inverídicas colocadas como verdadeiras para transformar a reunião, paralisar os trabalhos e ganhar tempo.

Os meses passam e as estratégias para culpar alguém tornam-se cada vez mais elaboradas, até que chega a hora de um sacrifício maior. Nesse momento, quando todas as táticas de guerra já foram utilizadas, está na hora de escolher quem irá para a guilhotina para salvar o projeto que não será finalizado a tempo. Geralmente, é o pescoço de algum executivo de alta patente que está em jogo.

É claro que o projeto não será entregue na data marcada e outros estragos e sacrifícios serão necessários para justificar os problemas. No dia em que o trabalho deveria enfim ser entregue, os opositores se reúnem com os executivos e investidores e definem nova data, objetivos e novas ilusões.
Independentemente do sucesso ou da prorrogação da entrega do projeto, porque ninguém fala em fracasso, o mais importante para a maioria é manter o poder e estar a frente de algo com visibilidade para ser reconhecido pelo mercado e, consequentemente, ver o crédito do bônus polpudo em sua conta corrente. Mesmo que, na maioria das vezes, o projeto seja entregue com seu escopo bem distante do planejado originalmente.

Alberto Marcelo Parada, formado em administração de empresas e análise de sistemas, com especializações em gestão de projetos pela FIAP. Já atuou em empresas como IBM, CPM-Braxis, Fidelity, Banespa, entre outras. Atualmente integra o quadro docente nos cursos de MBA da FIAP, além de ser diretor de projetos sustentáveis da Sucesu-SP.

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