O termo fábrica de software pode nos levar, a princípio, a uma distorção sobre a compreensão de seu processo de produção. Afinal de contas, o termo "fábrica" nos remete a um ambiente de produção em série, com alta produtividade e amplamente difundido em diversos setores da economia.
A distorção está, justamente, quando imaginamos o processo de produção de software como algo que pode ser realizado em série, o que não é, de fato. O desenvolvimento de software passa por diversas etapas, desde o planejamento, arquitetura, construção e qualidade, até chegarmos ao processo de homologação onde o cliente realizará o "test-drive" do software. E é justamente a necessidade dos clientes, que por mais que sejam similares, não são exatamente as mesmas que acabam tornando o software distinto de outros já produzidos.
O grande desafio é produzir software atendendo às necessidades do cliente sob aspectos funcionais e de qualidade, cumprindo prazos cada vez menores e torná-lo viável aos investimentos dos clientes. A resposta para o desafio vai muito além, mas envolve também, o que fazer e o provável caminho para a evolução deste segmento, que é uma abordagem de gestão flexível considerando as diversas características de cada projeto e cliente, suportados pelos pilares incondicionais para uma empresa que desenvolve software que são os processos, a tecnologia e pessoas.
A abordagem gerencial flexível envolve o atendimento diferenciado aos projetos e clientes de cada segmento de mercado, proporcionando relação de parceria com clientes. Esta abordagem tem como objetivo garantir a satisfação do investidor sob todos os aspectos operacionais e diminuir a sensação de investimento em algo não palpável. Afinal de contas, durante o processo de construção do software para os que não participam do processo de produção, somos simplesmente sinônimos de investimento, documentos, reuniões e cronogramas.
O processo de desenvolvimento claro e definido para todos os colaboradores, mantém a evolução das etapas de construção nos eixos e por meio de controle por parte da empresa, maximizando o investimento do cliente e traduzindo os esforços em resultados práticos. O processo deve ter como característica mecanismos de melhorias contínuas, aperfeiçoando rotinas a cada novo software produzido.
A tecnologia tem a sua contribuição através da arquitetura inteligente, que possibilita a construção modular de aplicativos e organização de forma que novos softwares possam "utilizar novamente" as funcionalidades já desenvolvidas diminuindo prazos, custos e o risco do ineditismo na construção do software, cito o ineditismo como risco, pois os mercados e tecnologias são dinâmicos e provavelmente pouquíssimos clientes se aventurarão em um investimento que utilize algo totalmente inédito, a não ser que isto seja indispensável.
E por fim, as pessoas responsáveis por movimentar as engrenagens dos processos são ativo mais valioso de toda a empresa que atua neste segmento. Profissionais capazes e motivados fazem a diferença neste complexo processo produtivo. Além disso, o custo operacional em mão de obra especializada é facilmente justificável por meio dos resultados obtidos.
Portanto, quem imagina uma "fábrica" no sentido da palavra, pode perceber que o processo é bem diferente do que o imaginado. Mas qualquer empresa que pretende aventurar-se neste complexo, mas promissor mercado, deve se preparar não para produzir em série, mas para garantir aos clientes que o dinheiro investido será aplicado em tecnologia de ponta, com ambiente operacional controlado através de processos e que os resultados e a satisfação sejam garantidos.
* Leandro Saturnino é gerente de análise e planejamento da Triad Systems