Pagamentos instantâneos no Brasil: uma lição para o mundo

0

Nos últimos anos, os pagamentos instantâneos evoluíram a forma como consumidores e empresas realizam transações financeiras ao redor do mundo. O Brasil, com o lançamento do Pix em novembro de 2020, tornou-se um case de sucesso global. Desde então, o sistema brasileiro de pagamentos em tempo real atingiu números impressionantes, como R$ 26,4 trilhões movimentados apenas em 2024, de acordo com dados do Banco Central do Brasil. A cifra representa um salto de 54,6% em relação ao ano anterior e indica um caminho ainda mais promissor pela frente.

Entre os principais legados da tecnologia "made in Brazil" está a sua capacidade de incluir milhões de indivíduos no sistema financeiro. Em um país com cerca de 39,5 milhões de cidadãos trabalhando informalmente, segundo o IBGE, o Pix oferece a essas pessoas uma forma simples, prática e sem burocracia de realizar transações digitais.

E esse impacto pode se intensificar ainda mais: estima-se que o Pix favoreça a inclusão de 2,8 milhões de novos correntistas até 2028, conforme aponta o Relatório de Impacto Econômico e Inclusão Financeira, desenvolvido pela ACI Worldwide e The Centre for Economics and Business Research (Cebr). São números que mostram como um sistema de pagamentos eficiente pode gerar avanços sociais diretos e mensuráveis.

Por que o Pix se tornou um modelo global

Se países como Índia, China, Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Austrália, Canadá, e diversas outras nações, já desenvolveram suas próprias soluções de pagamento instantâneo, o que faz do Pix uma referência? Alguns fatores se destacam:

Regulação centralizada pelo Banco Central: ao contrário de outros mercados, onde as transações são geridas por redes privadas, o Pix é um sistema público, integrável e mandatório para os bancos desde o lançamento;

Versatilidade de uso: atende desde transferências entre indivíduos até pagamentos comerciais, impostos e contas de serviços públicos;

Inovação contínua: com novas funcionalidades em desenvolvimento, como Pix por aproximação, Pix parcelado, Pix automático, Pix como garantia de crédito para trabalhadores autônomos ou empreendedores sem renda fixa, entre outras, o sistema evolui constantemente para responder às novas necessidades dos usuários.

Como outros países podem seguir o exemplo brasileiro

Os países que desejam ampliar o acesso ao sistema financeiro podem encontrar na experiência brasileira uma fonte de inspiração. Com a criação de um sistema de pagamento acessível e de baixo custo, o Brasil mostrou que é possível promover inclusão financeira em larga escala. Além disso, o país tem um longo histórico de incentivo à participação de fintechs para alcançar públicos diversos.

O sucesso do Pix ainda evidencia a importância de uma governança pública sólida e transparente, com uma autoridade monetária comprometida com o interesse coletivo. Já a implementação gradual de novas funcionalidades mostra a preocupação local com evoluções contínuas que podem manter o sistema dinâmico e adaptado às necessidades da população.

Para que outros países consigam replicar esse modelo de forma bem-sucedida, é fundamental estabelecer uma infraestrutura aberta e interoperável, que conecte diferentes instituições financeiras e fintechs de forma eficiente. O sistema deve ser intuitivo e acessível, permitindo que até usuários com pouca familiaridade tecnológica se sintam seguros ao utilizá-lo. Incentivos à adoção no comércio e na economia informal também contribuem para ampliar o alcance, enquanto uma regulação equilibrada deve garantir a segurança contra fraudes sem "sufocar" a inovação.

Inclusão e regulação: os pilares da revolução digital

Apesar das particularidades econômicas e culturais de cada país, os princípios que norteiam o Pix podem ser aplicados em diferentes contextos, visando acelerar a modernização dos sistemas financeiros. Isso porque modernizar os pagamentos vai além da tecnologia: envolve inclusão, acessibilidade e um ambiente regulatório bem preparado.

Esse exemplo de sucesso brasileiro no setor é prova de que, com visão estratégica e inovação, é possível criar soluções que beneficiem toda a sociedade. Assim, o país se posiciona como uma referência global em pagamentos digitais, oferecendo aprendizados valiosos para outras nações que desejam evoluir no segmento.

O futuro dos pagamentos em tempo real está sendo moldado agora e as lições do Brasil certamente continuarão inspirando outros mercados.

Vlademir Santos, Head da ACI Worldwide no Brasil.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.