A indústria de manufatura vive um momento de incertezas e disrupções. Cadeias de suprimentos pressionadas, escassez de matérias-primas, inflação global, volatilidade cambial, guerra de talentos e aumento das exigências regulatórias criaram um ambiente em que operar com eficiência deixou de ser diferencial e passou a ser pré-requisito para a sobrevivência.
Em meio a essa conjuntura, a TI deixou de ser apenas suporte. A área tornou-se um eixo central da resiliência operacional. Mas para cumprir esse papel, a tecnologia precisa sair do modelo estático e custoso baseado em sistemas legados e migrar para uma arquitetura mais inteligente, adaptável e estrategicamente integrada ao negócio.
A realidade do setor: entre o legado e a urgência de inovar
Segundo dados internos da Rimini Street, entre 60% e 90% do orçamento de TI de um fabricante típico é consumido apenas para "manter as luzes acesas": sistemas legados, contratos caros de suporte e infraestrutura pesada que pouco contribui para a competitividade.
Os líderes de TI na indústria siderúrgica, tem o desafio de modernizar um dos setores mais antigos do mundo e transformá-lo com IA e automação, para se manterem competitivas, desenvolver fábricas inteligentes e expandir os negócios.
Para fazer isso, é necessário explorar caminhos digitais para ganhar eficiência e reduzir custos. O SAP HANA é o coração do programa de governança de dados da GRP, fabricante global de aço. Os dados da área de produção são enviados para o SAP e depois usados ??para alimentar análises, visualizações e automações. Como tal, seu sistema SAP é altamente customizado para se adequar a esses processos de negócios exclusivos. Widjaksono Halim, head de transformação digital da GRP, descreveu a estratégia da empresa: "Estamos começando a implementar a Indústria 4.0. Não são apenas máquinas. Estamos conectando as máquinas para enviar todos os dados para o SAP, para que estejam todos integrados e a conexão seja perfeita. Queremos evitar a entrada manual para aumentar a qualidade dos dados".
Smart Factory, indústria 4.0
Foi exatamente isso que levou a GRP a adotar um novo modelo de operação para seu ERP. Em vez de ceder à pressão da migração para o S/4HANA – estimada em anos e dezenas de milhões de dólares – a companhia substituiu o suporte tradicional da SAP pelo suporte independente.
Esse movimento liberou orçamento para outras frentes mais estratégicas para a empresa: automação de processos, melhoria de integração entre áreas e aceleração da inovação. Ao mesmo tempo, a GRP manteve estabilidade nos sistemas atuais, respeitando o ritmo da operação e ganhando tempo para desenhar sua próxima transformação digital com mais precisão e menos risco.
Reduzir custos e a converter despesas operacionais em investimentos de capital
Esse movimento permitiu à GRP ir além da simples manutenção dos sistemas: a empresa conseguiu reduzir custos operacionais, converter despesas recorrentes em investimentos de capital e liberar capacidade interna para acelerar sua estratégia de Smart Factory. Com mais tempo e orçamento disponíveis, passou a focar no melhor aproveitamento dos dados industriais para impulsionar projetos de inteligência artificial e iniciativas de produção sustentável, como o desenvolvimento de aço verde.
A abordagem adotada proporcionou estabilidade nos sistemas legados, além de uma base sólida para inovação contínua, combinando eficiência, transformação digital e compromisso ambiental. Isso pavimentou o caminho para que a equipe pudesse se concentrar 100% na concretização de sua visão de Indústria 4.0.
Resiliência não é só tecnologia – é arquitetura inteligente
A verdadeira transformação passa por repensar a arquitetura de TI como um todo. E isso começa por três pilares:
- Visibilidade em tempo real: com sensores, dashboards e sistemas integrados, é possível tomar decisões com base em dados atuais, reduzindo reações tardias a gargalos de produção ou falhas na cadeia de suprimentos. Um relatório da Harvard Business Review Analytic Services revelou que 91% dos líderes empresariais consideram que a democratização do acesso a dados é essencial para o sucesso dos negócios, e 76% afirmam que o acesso democratizado à inteligência artificial é crítico. Esses insights destacam a importância de uma cultura de dados robusta, integração eficaz e visualização aprimorada para decisões empresariais mais rápidas e inteligentes.
- Análise preditiva e automação inteligente: prever falhas, manter estoques mais enxutos e tomar decisões de compra com base em padrões de consumo não é mais um luxo. É o que está permitindo que empresas atravessem cenários imprevisíveis com mais controle sobre seu fluxo de caixa e operação. Soluções de IA combinadas com automação têm sido essenciais para isso.
- Arquitetura composable: em vez de depender de grandes suítes monolíticas, a tendência é criar um ecossistema integrado de soluções modulares, onde cada parte pode ser atualizada ou substituída de forma independente, sem comprometer o todo. Isso não só acelera a inovação, mas também reduz a dependência dos grandes fabricantes.
O Brasil no epicentro da transformação
Para o setor industrial brasileiro, a urgência de transformação é ainda maior. A reforma tributária prevista para entrar em vigor até 2026 exige mudanças profundas nos sistemas ERP e nos processos de compliance fiscal. Adicionar a isso o custo de capital elevado, a indexação cambial dos contratos de software e a pressão por eficiência cria uma equação difícil, especialmente para empresas de médio porte.
Nesse contexto, adotar soluções como suporte independente, automação via plataformas low-code e ferramentas de integração com análise preditiva deixa de ser uma "estratégia alternativa" e passa a ser a única forma de liberar orçamento para inovação sem comprometer a operação.
Além da economia: agilidade e controle como novas prioridades
Economizar é importante, e modelos baseados em Suporte, Otimização e Transformação, têm se mostrado eficazes nesse sentido. Mas mais relevante do que cortar custos de um budget apertado é redirecioná-lo para onde ele realmente gera valor. Em vez de investir em atualizações técnicas que pouco mudam o core do negócio, empresas estão colocando esses recursos em iniciativas que automatizam fluxos, melhoram a experiência dos usuários e integram sistemas que antes operavam em silos.
Os fabricantes precisam se perguntar: o que estou comprando está realmente me ajudando a mitigar riscos? A operar melhor? A reagir mais rápido? Porque hoje, operar com lentidão ou ineficiência custa caro demais – e tempo é um recurso limitado e valioso que está acabando.
Hora de assumir o controle da transformação
O momento exige mais do que bons fornecedores. Exige uma mudança de mentalidade. O setor industrial não pode mais operar sob a lógica de upgrades forçados e projetos de TI que se arrastam por anos. A transformação precisa ser ágil, pragmática e estratégica.
A equação que empresas resilientes estão resolvendo envolve modernizar com inteligência, manter a operação estável e, ao mesmo tempo, preparar o terreno para o futuro. E ela começa com uma decisão simples, mas poderosa: deixar de seguir o roadmap dos fabricantes e começar a desenhar o seu próprio.
Helio Matsumoto, Chief Technology Officer da Rimini Street na América Latina.