Confiança no CEO: fator crítico para a empresa de alta performance

0

A palavra "wobble" é traduzida para o português como oscilar, perder o equilíbrio, cambalear. Isso é um risco constante para organizações que não se dedicam a criar um ambiente de confiança entre os colaboradores de todos os níveis hierárquicos. Um estudo realizado em 2022 pela McKinsey, nos EUA, revela que 31% dos profissionais entre 18 e 34 anos podem abandonar suas posições em função de um ambiente de trabalho tóxico, sem confiança. Esse é um problema típico de empresas que "cambaleiam". Durante meus estudos no curso Harvard Business School OPM (Owner/President Management), eu e meu grupo de trabalho nos dedicamos a dissecar esse ponto e tentar entender como construir um ambiente de trabalho em que a confiança impera.

A tríade da confiança interpessoal

O framework para gerar confiança interpessoal é uma tríade. O primeiro ponto da tríade é a autenticidade, o seu "real me" que permite gerar uma relação de liderança genuína. O segundo ponto é a lógica, a coerência e rigor de raciocínio e a habilidade de comunicação. E, finalmente, o terceiro é a empatia, a capacidade de demonstrar e comprovar diariamente que o líder está ali para apoiar o colaborador em suas lutas e suas metas.

Embora esses pontos digam respeito a todos os líderes da organização, gostaria de me focar, neste momento, no CEO, a pessoa que tem a missão de representar plenamente os valores da empresa. Recentemente fiz uma enquete no meu Linkedin. A meta era verificar se conhecer e respeitar o CEO de uma empresa era importante na hora de escolher um local para trabalhar. 82% dos 58 respondentes disseram que esse era um fator crucial na busca de uma posição.

A confiança é a camada de alicerce na construção de uma cultura vencedora. No entanto, é uma característica às vezes negligenciada. Isso é o que atesta a pesquisa "Barômetro da Confiança", estudo realizado pela Edelman em 2021 a partir de entrevistas com 33.000 profissionais de 28 países, incluindo o Brasil. 48% não confiam nos seus CEOs.

Um estudo realizado pela Korn Ferry em outubro de 2020 a partir de entrevistas com 105 CEOs de empresas dos EUA mostra que "a voz do dono" é, hoje, uma voz que tem a missão de falar a verdade para diferentes públicos, em diferentes linguagens. Mas, além de falar, o "dono" é chamado a ouvir o que seus diferentes stakeholders têm a dizer. Para 30% dos CEOs entrevistados, essa comunicação de mão dupla é desafiadora.

Colaboradores experimentam sensações de incerteza

Segundo um estudo de 2016 da consultoria global CEB, é durante o período de transições que se agudiza a sensação de incerteza dos colaboradores de uma organização. O documento mostra que 80% dos líderes da empresa passando, por exemplo, por um processo de M&A, têm a tentação de gerenciar esta mudança de cima para baixo. O resultado desta abordagem, segundo a CEB, é o pior possível. 64% dos colaboradores de empresas que passaram por um processo de M&A seguindo este modelo disseram sentir menos confiança em seus líderes. 28% foram além e afirmaram resistir à mudança organizacional.

Por outro lado, o mesmo estudo revela que a comunicação inclusiva sobre mudanças organizacionais intensifica, entre 59% dos entrevistados, o orgulho que sentem pela empresa onde trabalham. Outros 35% disseram que esta prática lhes traz esperança. Onde há credibilidade proveniente dos três pontos mencionados acima (lógica, autenticidade e empatia), há uma organização que avança para o futuro.

É importante enfatizar que a boa implantação do framework de confiança começa em cada líder da empresa. Todos os pontos da tríade da confiança interpessoal têm de estar robustos para que a empresa perpetue um ambiente de confiança.

Quando isso não acontece, desencadeiam-se 4 consequências nocivas emolduradas pelo framework em forma de pirâmide das 5 disfunções de uma equipe: medo de conflito, falta de comprometimento, evitação de responsabilidades e desatenção aos resultados. Isso corrói processos e promove a desconexão entre times e pessoas.

Com ajuda desta pirâmide, é possível entender os "Building Blocks" para se ter um ambiente de alta performance:

Falta de confiança (a base da pirâmide): Empresas de alto desempenho se destacam pelo ambiente seguro para falar, por contarem com pessoas que se ajudam entre si e pelo sólido aproveitamento dos pontos fortes da equipe. Por outro lado, empresas com problemas contam com profissionais que hesitam em pedir ajuda, escondem suas fraquezas e fogem de reuniões.

Medo de conflitos (o segundo degrau da pirâmide): Equipes de alto desempenho confrontam problemas com rapidez, desenvolvem soluções práticas e obtém informações de outros membros da equipe. Equipes disfuncionais, por sua vez, contornam os problemas, não confrontam comportamentos difíceis e acostumam-se com a falta de transparência.

Falta de comprometimento (o terceiro degrau da pirâmide): Equipes que se destacam estão alinhadas ao redor de objetivos comuns, enxergam claramente as prioridades e são altamente engajados. Quem oscila, no entanto, baseia-se em prioridades ambíguas, cai na mesma discussão de forma repetitiva e falta ao trabalho.

Evitação de responsabilidades (o quarto degrau da pirâmide): Em ambientes dinâmicos, pessoas com mau desempenho são gerenciadas e responsabilizadas, e os mesmos padrões se aplicam a todos. A equipe disfuncional atrasa prazos e entregas importantes e sabe que o mau desempenho é tolerado, o que cria um ambiente de ressentimento da parte dos que seguem trabalhando duro.

Desatenção aos resultados (o pico da pirâmide): Equipes de alto desempenho apresentam resultados excelentes e recorrentes – são pessoas motivadas e engajadas. Por outro lado, o time disfuncional entrega resultados ruins e há alta rotatividade na equipe.

A empresa que oscila – e muitas vezes cai – vive uma ou várias características das equipes disfuncionais descritas acima.

É uma operação à beira do abismo onde a falta de credibilidade do CEO e dos colegas gera alta rotatividade e baixa produtividade. É comum que aconteça a perda dos melhores talentos para empresas que, ao contrário, destacam-se pela transparência e pelo forte sentimento de pertencimento. A confiança é a base da pirâmide de times de alta performance. Nesta realidade, os profissionais vivem plenamente seus talentos e sabem que estão avançando em suas vidas. Essa conquista melhora a organização, melhora o Brasil.

Thiago N. Felippe, CEO da Aiqon.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.