O que falta para a adesão mainstream das criptomoedas?

0

Quando se fala sobre a adesão às criptomoedas pela população em geral, há muita incerteza e opiniões divergentes sobre como ela seria e suas consequências. Apesar disso, há algo que não se discute mais: esta tecnologia, de fato, chegou para ficar. Como ela será usada é o que ainda está em questão.

Quando falamos em"adesão mainstream" de criptomoedas, que é a utilização em massa pela população, é importante pensar em qual seria o papel delas no dia a dia. Sem isso, não há como avançarmos nesse debate.

Qual a função das criptos?

Antes de tentar entender o que falta para uma adesão mais generalizada das criptomoedas, vale questionar a real função desses ativos. Quando imaginadas originalmente por Satoshi Nakamoto, a ideia era resolver o problema do "dinheiro digital", criando um sistema que permitisse o comércio mundial de forma prática, rápida e segura, sem depender de bancos ou governos. É possível dizer que este objetivo foi alcançado.

Mesmo com todas as suas qualidades, existem dois desafios fundamentais, que dificultam o uso das criptomoedas como a "troca da moeda" nas transações diárias:

Dificuldade de uso em pequenas transações: uma coisa é você saber que o seu cafezinho na padaria vai te custar R$5,00. Agora imagine olhar para a tela da maquininha e ver que seu café custou 0,0000095 satoshis (centavos de Bitcoin). Se colocar um "0" a menos no momento de cobrar, o caixa da padaria estará cobrando R$50,00 pelo pingado. Imagine conferir a compra de mercado do mês, na boca do caixa, desta forma.

Instabilidade dos valores: apesar de serem ativos que estão sendo cada vez mais reconhecidos, as criptomoedas ainda tem grande flutuação em seu valor durante o dia, e seu uso como moeda de troca pode gerar flutuações de preço como as experimentadas no Brasil pré Real.

Exatamente por isso, no meu ponto de vista, a utilização das criptomoedas como ferramenta de troca no dia a dia não será feita diretamente com as criptos mais conhecidas, como o Bitcoin e o Ethereum.

O uso de criptoativos como reserva de valor

Existe, porém, um uso das criptomoedas que vem tendo muito mais sucesso do que seu uso como moeda de troca: como ativo de reserva de valor.

As moedas nacionais tendem a desvalorizar com o tempo, por isso é importante ter reservas que não percam seu valor no longo prazo. Por isso, criptomoedas, como o Bitcoin, estão sendo cada vez mais usadas com essa finalidade por empresas e até governos.

Dois exemplos claros dessa adesão no cenário internacional são, sem dúvida, o governo de El Salvador e a MicroStrategy. O pequeno país da América Central enfrentava uma crise de credibilidade e desvalorização da sua moeda, quando decidiu lastrear os títulos de dívida do país no ativo digital. Já a empresa de business intelligence e software de Michael Saylor transformou todos os fundos em Bitcoin, o que fez com que ela saísse do status de pouco relevante no mercado para uma das mais valiosas do mundo, com valor de caixa maior do que o valor total do Banco do Brasil.

Esta estratégia, chamada de HODL (gíria cripto para a estratégia de comprar e manter criptomoedas), pode ser replicada por pessoas físicas e, na minha visão, vai ser o uso mais comum deste tipo de ativo para aqueles que não têm interesse em trade.

Pix, facilidade e educação financeira: o caminho para a adesão massiva no Brasil

Em relação à adesão geral da população ao uso de criptomoedas, o Brasil possui um ator fundamental, que muitos não levam em consideração: o Pix. Apesar de ter apenas quatro anos, ele é hoje uma ferramenta fundamental para os brasileiros, pois permite o envio rápido de dinheiro usando dados simples como telefone, CPF e e-mail. Em setembro deste ano, ele bateu um recorde com 227 milhões de transações em apenas 24 horas.

Por isso, se quisermos a adesão massiva às criptomoedas no Brasil, temos que pensar em algo simples como o Pix. As exchanges de ativos digitais já avançaram consideravelmente nesse sentido, facilitando o processo de aquisição e transformação dos ativos digitais novamente em reais.

Além disso, não podemos desprezar a importância da educação, não apenas sobre ativos digitais, mas em finanças, de forma geral. A maioria das pessoas não tem cultura econômica e por isso enfrenta dificuldades de criar reservas de emergência e reservar algum dinheiro para investir.. O cenário é favorável para que a adesão às criptomoedas no Brasil seja cada vez maior, mas é importante que governo, empresas do mercado e a própria comunidade de adeptos facilitem o acesso, tanto de informações quanto de formas fáceis de negociação.

César Félix, head de CX da NovaDAX.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.