A pandemia ocasionada pela Covid-19 parece não ter previsão para o seu fim, influenciando diretamente o cotidiano das empresas, que tiveram de aderir emergencialmente ao trabalho remoto. Em alguns países, o home office já é uma rotina comum e, por aqui, o modelo pegou muitas empresas de surpresa. Forçou corporações, governo e trabalhadores a se adaptarem às pressas ao modelo, o que resultou em algumas dores de cabeça no processo de implementação, tempo e gastos.
Diante desse não tão novo formato de trabalho, àquelas empresas que nunca atuaram de maneira remota passaram a ter sérios desafios de questões estruturais e financeiras para a adaptação. A mudança emergencial do escritório convencional para a casa dos colaboradores trouxe, entre alguns problemas, gastos na adequação dos equipamentos, com o objetivo de manter o seu negócio ativo.
Entre os novos gastos que surgiram para a adaptação ao home office, as empresas tiveram que investir rapidamente na aquisição ou aluguel de equipamentos, adequação de sistemas, liberação de acessos remotos e cuidados especiais com a segurança da informação. Também foi preciso investimentos no treinamento das equipes, ocasionando uma inevitável mudança na cultura organizacional.
Logo no início da pandemia, em que a aquisição de equipamentos tecnológicos se tornou emergencial, surgiu a questão dos preços, com algumas cobranças acima do valor convencional, ou seja, vimos a lei da “oferta e da procura” colocada na prática. O valor do álcool gel nas farmácias é um exemplo do grande aumento da procura e consequentemente do preço.
Com o aumento do consumo pelos meios digitais, o tempo de entrega das mercadorias também foi impactado. Segundo levantamento da Nielsen Brasil, a venda de notebooks no varejo cresceu 112,4% entre 16 e 22 de março, período que teve início a quarentena no Brasil, ampliando o prazo de chegada das compras aos destinos e prejudicando os a implementação do home office em algumas empresas. Como consequência, muitos colaboradores foram obrigados a transferir os desktops dos escritórios para casa, enquanto os notebooks não chegavam.
O processo emergencial de implementação do home-office trouxe grandes desafios aos gestores. As áreas fizeram uma força-tarefa e se empenharam ao máximo para fazer dar certo. Infelizmente, apesar dos esforços, muitas empresas tiveram problemas em suas atividades, porque essa mudança não ocorre do dia para a noite, principalmente para quem nunca operou e trabalhou dessa maneira.
É válido considerarmos que a pandemia trouxe um novo mindset para os gestores em relação à mudança de comportamento necessária à liderança. Implementar uma cultura de continuidade de negócios é essencial à sobrevivência de qualquer empresa.
A previsibilidade de continuidade das operações em períodos de crise é muito importante para manter a competitividade, mas, infelizmente, esse é um quesito ainda pouco visto em empresas no Brasil. Um exemplo é que hoje ainda existem poucas empresas certificadas pela ISO 22301. O selo é uma garantia de que as empresas possuem 99,999% de disponibilidade em seus produtos e serviços em qualquer situação. Trata-se de um processo de preservação e preparo contra qualquer interferência, o que garante credibilidade nos negócios.
Um estudo feito recentemente pela consultoria Talenses e Fundação Dom Cabral com 375 empresas de todos os setores da economia brasileira apontou que 70% delas esperam que as práticas de home office adotadas durante a pandemia permaneçam, integral ou parcialmente, após o fim da crise.
A pandemia pode ser considerada uma lição para as empresas brasileiras que ainda não tinham um plano de contingência ou insistiam em não querer adotar o modelo de trabalho não presencial como alternativa. O home office permanecerá, porque o comportamento profissional das pessoas está diferente, com a busca de mais humanização e qualidade de vida no trabalho. Quem não estiver preparado para o “novo normal”, terá grandes prejuízos, porque não se trata apenas da pandemia, mas a implementação de um sistema de trabalho que traga melhorias nos resultados e, principalmente, bem-estar aos colaboradores.
Marcelle Jordão, gerente de Recursos Humanos da Braspag, tem formação em psicologia pela Universidade Veiga de Almeida e é pós-graduação em gestão de pessoas pela FGV.