Os líderes de RH estão em xeque. A necessidade iminente de se reinventar para que suas funções e times se mantenham relevantes e conectados à estratégia é uma grande preocupação. Ora, a pressão é por mais performance dos colaboradores; ora, chega pelas novas tecnologias, como a inteligência artificial. Segundo uma pesquisa realizada pela Gartner, as top cinco prioridades do RH em 2024 são: cultura organizacional, gestão da mudança, novas tecnologias, desenvolvimento de lideranças e gestão de carreira.
Num contexto de rápidas mudanças tecnológicas, do mercado consumidor e da gestão de pessoas, os desafios dos líderes de RH parecem maiores do que nunca. Mas como a inovação pode contribuir com esses desafios e ser aliada dos gestores e times de RH? Sem dúvida, quatro dentre as cinco maiores preocupações dos profissionais do setor estão relacionadas à inovação.
Independente das discussões que envolvem os benefícios e riscos associados a ambas as formas de trabalho, o fato é que a formação e fortalecimento da cultura organizacional se tornou ainda mais crítico, demandando maior intencionalidade, alinhamento e constância nas ações. Visto que a cultura é uma construção coletiva de comportamentos individuais, os códigos que a delimitam precisam estar claros e traduzidos, principalmente por meio dos ritos estabelecidos por uma corporação e o comportamento da alta liderança. Para tornar o cenário ainda mais complexo, a transformação – seja ela de mentalidade, digital, ou de negócio – vai exigir uma cultura que suporte e reforce os novos caminhos a desbravar.
Assim, o fortalecimento de uma cultura pró-inovação será o alicerce que irá preparar os times para as mudanças que se pretende atingir. Isso porque, ao ter essa pauta como um dos seus pilares, as equipes serão preparadas, estimuladas e amparadas sob a perspectiva de que há riscos aceitáveis, e que falhas decorrentes de experimentação não são sinônimo de punição e incompetência – fator que não só aumenta a segurança psicológica dos times, mas também contribui para a autonomia e autogestão.
Em 2023 e 2024, testemunhamos um aumento no entusiasmo em torno da IA, especialmente generativa, devido aos inúmeros potenciais ganhos para os negócios, dentre eles a produtividade. No entanto, gestores de RH se sentem pouco preparados para a implementação dessas tecnologias. Como aponta a mesma pesquisa da Gartner, 60% dos líderes de RH estão incertos sobre o impacto de tecnologias emergentes, como a IA generativa, nos talentos e no próprio setor.
Assim, a pressão sobre esses profissionais aumenta. Devido à natureza primária das suas atribuições, é esperado que esses profissionais apontem não apenas os impactos no presente e futuro do trabalho, mas inclusive como tecnologias emergentes podem contribuir na melhoria da experiência do colaborador e otimização de atividades. Adiciona-se a isso o fato de que a própria área de RH é terreno fértil para ganho de eficiência a partir da automação e digitalização de atividades fundamentalmente operacionais. Contudo, como oferecer respostas e direcionamentos em meio a tantas incertezas sobre a efetividade e resultados dessas ferramentas?
Dessa forma, há espaço para atuar de maneira ativa na estruturação da governança sobre a experimentação dessas tecnologias, na identificação de quais profissionais devem ser treinados e os ganhos esperados. Mas isso só será possível a partir dos testes dessas soluções, como num piloto, identificando formas e oportunidades de realizar o mesmo para outros times. Assim, líderes de RH poderão puxar e liderar a agenda de novas tecnologias, reforçando seu papel estratégico e protagonizando as mudanças que se almeja alcançar.
Com a rápida evolução do ambiente de trabalho e das expectativas dos funcionários, o RH enfrenta ainda o desafio de desenvolver gestores que possam se adaptar a essas mudanças e conduzir as equipes de forma eficaz em novos contextos. O relatório Startup Landscape: HRtechs, produzido pela Liga Ventures, demonstra que das mais de 340 startups mapeadas, a maioria está na categoria de Educação Corporativa.
Isso significa que ainda há uma lacuna entre o resultado dos treinamentos aos quais colaboradores são submetidos (em especial, gestores) e a percepção de prontidão para liderar mudanças. E, para isso, a transformação de mentalidade, a partir do desenvolvimento de habilidades em inovação, é fundamental.
Por fim, não é de hoje que o RH demanda maior espaço na mesa de decisão de grandes corporações. Dentre outras questões, atividades operacionais "desviam" esses profissionais de temas estratégicos e demandam grande parte do seu tempo. As mudanças significativas da sociedade atual trazem uma pressão por revisão do papel e prioridades desses times, mas a inovação pode e deve ser aliada neste processo. Com isso, as oportunidades que se abrem, quando bem aproveitadas, colocarão líderes de RH como protagonistas dessa nova realidade organizacional.
Luciana Leão, VP de Educação Corporativa da Liga Ventures.