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Demissão pode não ser o fim do mundo

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Quem nunca viveu, morre de medo de passar por ela, e quem já viveu, sabe que é um dos momentos mais doloridos e desesperadores para qualquer profissional. A dor é terrível. A sensação de ser preterido ou ser arrancado violentamente de algum lugar sem ser consultado pode ser comparada com da morte de um ente querido. E, assim como ela, demora-se um bom tempo para conseguir entender o que está acontecendo.

Ela pode ter sido premeditada e até esperada pela falta de comprometimento ou atingimento das metas. Pode vir depois de uma mudança organizacional onde a estrutura política que te sustentava ruiu; pode acontecer por infindáveis razões. A única semelhança é o terrível gosto amargo que fica na boca quando acontece e a sensação de se achar a pior pessoa do universo.

Neste momento “cai a ficha” que a empresa que até poucos momentos atrás parecia nossa, não é? A ação de despejo chega de várias maneiras: educadas, truculentas até por meio de um frio e gelado e-mail — ­ sim, isso ainda acontece. O fato é que fomos comunicados que teremos que deixar a nossa segunda casa e é muito difícil entender como nós, os melhores profissionais da empresa, não fazemos mais parte dela. Chegar em casa e olhar para os filhos e esposa é uma tarefa difícil, bem como despedir-se dos amigos de tantos anos de empresa. A humilhação é muito dolorida.

Acordar no dia seguinte e não ter para onde ir ou o que fazer é uma sensação de vazio que nada no mundo pode completar, afinal foram tantos anos de dedicação e comprometimento que nada é capaz de minimizar o que se sente.

A reação mais comum, passados poucos dias, é tentar se colocar e ligar para todos os contatos e amigos que sempre diziam que tinham uma vaga com a sua cara, em vão. Em pouco tempo descobre-se que as promessas eram apenas conversas de happy hour.

A necessidade de manter o status quo e não deixar a família sentir a queda abrupta do padrão de vida é o que mais se deseja e, na maioria das vezes, se erra ao esconder o que está acontecendo. O sensato e o menor gerador de consequências graves é sentar com todos e comunicar que, por um tempo — que você não sabe quanto — as coisas irão mudar.

Quanto mais alto é o nível que se tem em uma corporação mais difícil será a sua recolocação, afinal a pirâmide organizacional é cruel: quanto mais alto se sobe menos cadeiras se tem para sentar. E assim, se a reserva financeira não for suficiente para, pelo menos, doze meses, o recomendável é fazer um downgrade no padrão e aceitar uma posição que não irá remunerar todas as regalias anteriores, mas com certeza garantirá que você não enlouqueça.

Passado todo desespero e ansiedade chega o momento de encarar a nova condição. Da mesma maneira que a sensação de perda que o arremeteu no momento da notícia toma conta agora uma nova, que começa a se alojar; o prazer da liberdade e da possibilidade: o que antes era apenas um sonho agarrado em um medo de sair para não correr o risco de errar, transforma-se em alternativa para uma recolocação ou, quem sabe, até para fazer carreira solo.

Manter-se sóbrio tem que ser sempre o balizador dos seus passos, tanto na busca de uma colocação radicalmente diferente ou no investimento para o próprio negócio. A sobriedade é fundamental para não investir toda indenização conseguida em décadas de trabalho em um negócio ou queima-la complementando o orçamento da casa enquanto tenta-se decolar em uma nova carreira.

Escutamos diariamente histórias de pessoas que ficaram, durante décadas, amarradas por medo ou falta de oportunidade a empregos e que, de repente, por um empurrão muitas vezes provocado pelo acaso, descobrem-se fazendo algo que amam e conseguem ter muito sucesso. Mas acredite: o sucesso não é decorrência do acaso. Ao contrário, é fruto de muito trabalho, determinação e resiliência.

É importante aprender com a experiência de ser demitido que a empresa, por mais que amemos ou nos dediquemos não é nossa, que temos que ser performáticos e dedicados sempre, porém temos que saber que existe vida além de qualquer emprego, por mais que ele possa, aparentemente, ser a melhor coisa que já aconteceu em nossas vidas.

*Alberto Marcelo Parada é formado em administração de empresas e análise de sistemas, com especializações em gestão de projetos pela FIAP. Já atuou em empresas como IBM, CPM-Braxis, Fidelity, Banespa, entre outras. Atualmente integra o quadro docente nos cursos de MBA da FIAP, além de ser diretor de projetos sustentáveis da Sucesu-SP.

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