Boa parte dos veículos de negócios e tecnologia estampou, nos últimos dias, notícias sobre a queda do valor das ações das empresas de tecnologia na Bolsa de Valores. O desempenho abaixo do esperado por analistas e investidores fez surgir na mídia especializada termos como "Fake Tech", "Totally Arbitrary Metric", "Tech é pop, Tech é cool. E Bum!", para ficar nos principais.
Depois de analisar melhor as notícias, e as empresas a que se referiram, cabe dizer aqui que talvez os comentários e avaliações não façam jus às empresas e seus respectivos momentos. E há dois pontos aqui fortemente relacionados que precisam ser levados em conta: como avaliar estas companhias e o próprio conceito de "empresa de tecnologia".
Atuando na área de tecnologia da informação desde 1995 como empreendedor, advisor e, desde 2008 como investidor, tive a sorte e a chance de ver diversas ondas e iniciativas de negócios de tecnologia no Brasil, e acredito que temos um momento único no mercado brasileiro com a entrada em bolsa de companhias de alto crescimento e muito, muito inovadoras. Mas é preciso destacar que todas as empresas têm um valor, e cabe ao investidor avaliar quão próximo o preço de mercado está do valor intrínseco da companhia.
Esse movimento de insatisfação nas bolsas passa, possivelmente, pelo fato de estarmos passando por um processo de entender o preço das companhias e qual seu real valor. É tudo muito novo, tanto os negócios que estamos vendo surgir quanto os resultados que eles devem gerar.
Nesse processo, é essencial entender o que é o negócio da companhia. Um ponto interessante aqui é que nem todas as empresas que se dizem "tech" são realmente empresas de tecnologia da informação. Uma empresa que compra, reforma e vende imóveis, por exemplo, não é uma companhia de tecnologia. E o mesmo se aplica a diversos exemplos apresentados pela imprensa nos últimos dias: venda de móveis, organização de mão de obra, venda de produtos, entre outros.
Não se trata de julgar o valor, a capacidade de execução ou o mérito dos empresários, mas é preciso levar em conta que os desafios que envolvem o crescimento destas empresas não estão puramente ligados à tecnologia da informação. Da mesma forma, os desafios de escala e foco dos empreendedores não está ligado ao desenvolvimento de soluções tecnológicas, mas sim ao gerenciamento de reformas, de empreiteiros, à compra de produtos, distribuição, etc.
Tomando o exemplo da Invest Tech, que hoje é um dos principais gestores de investimentos em companhias de Tecnologia e Telecomunicações do mercado brasileiro, explico essa visão. Já realizamos 21 investimentos em companhias de alto crescimento e inovação que atuam na digitalização dos negócios empresariais, mas sempre investindo apenas nas empresas "Pure Tech", que têm algumas características bem definidas, tais como:
- Asset light;
- Pesquisa e desenvolvimento em tecnologia da informação muito intensivos;
- Modelos de negócio com receita recorrente;
- Contratos de longo prazo;
- Times únicos e muito técnicos;
- E, no nosso caso, que atuem no mercado B2B.
O foco das empresas onde investimos é muito claro e definido: criar uma plataforma tecnológica que resolva os problemas de gestão e performance de seus clientes e/ou crie disrupção em determinados setores da economia (saúde, finanças, educação e cleantech).
Por isso a importância de, na hora de avaliar investimentos e resultados, diferenciar o que chamamos de empresas Tech Enabled, que são aquelas que usam soluções de base tecnológica para criar e executar suas ofertas e serviços; daquelas True Tech, que são as que têm base puramente tecnológica.
Fazer essa diferenciação é a única maneira de realmente avaliar a capacidade de geração de valor para o investidor. Acredito que uma parte relevante do ajuste que vimos nos últimos dias é resultado da percepção por parte do mercado que muitas das empresas vendidas como Pure Tech na verdade são empresas Tech Enabled. Aos investidores, principalmente pessoas físicas, fica a recomendação de contar com especialistas na hora de definir seus investimentos. É uma boa forma de não cair na armadilha de confundir os dois modelos e ajustar as expectativas em relação ao preço e valor.
Acredito tanto nestas palavras, que a própria Invest Tech é hoje o melhor exemplo disso, com um portfólio que continua desempenhando excepcionalmente bem a despeito dos altos e baixos da economia. Apenas companhias True Tech que gerem valor consistentemente conseguem performance com resiliência, crescimento e diferenciação. E, principalmente, gerando valor (e resultados) para os investidores.
Resultados tão bons que, em breve, realizaremos nosso próprio IPO, convertendo a Invest Tech de gestora de fundos em uma companhia de investimentos com capital proprietário e perene, abrindo aos investidores a possibilidade de dividir conosco esses resultados.
Maurício Lima, cofundador e CEO da Invest Tech.