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O que é possível aprender com o tumultuado lançamento do eFootball

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O lançamento do jogo eFootball, antigo Pro Evolution Soccer (PES), no dia 30 de setembro, relembra a importância dos cuidados na hora de atualizar um produto digital. A disponibilização da primeira das três fases do jogo rendeu matérias negativas publicadas na mídia especializada em jogos e esportes. Os artigos falavam sobre os bugs, problemas de jogabilidade, regressão na qualidade gráfica em relação às versões anteriores e traziam análises que classificavam a experiência de disputar uma partida no simulador como péssima e irritante.

Além disso, os usuários postaram memes em redes sociais comparando o produto e classificando-o como inferior ao seu principal concorrente, o FIFA 22, lançado um dia depois. A disputa entre os dois jogos era acirrada há 15 anos, mas na última década o FIFA despontou em popularidade, e em alguns anos o seu volume de vendas chegou a ser 20 vezes superior ao antigo PES, segundo dados do site de monitoramento de venda de jogos VGChartz.

A histórica rivalidade entre os dois jogos, que já foi classificada pelo jornal britânico The Guardian como a maior na história dos games, e as notícias sobre o processo de desenvolvimento de ambos, nos faz acreditar que a pressão da concorrência pode ter gerado um adiantamento no lançamento do eFootball. A Electronic Arts (EA) divulgou, em julho, que lançaria o FIFA 22 no dia 1º de outubro. Alguns dias depois, a Konami, desenvolvedora do eFootball, informou que seu jogo estava previsto para ser lançado entre os meses de setembro e novembro. A empresa, então, optou por lançar a primeira fase do jogo um dia antes do game rival chegar ao mercado.

Apenas um dia depois do lançamento, e após a repercussão negativa, que também inclui a pior nota de avaliação da história da Steam, plataforma de distribuição de jogos para computadores, a Konami divulgou uma nota no twitter oficial do jogo, que informava: “lamentamos os problemas e queremos garantir a todos que levaremos as preocupações a sério e iremos nos empenhar para melhorar a situação atual. Este trabalho será continuamente atualizado, a qualidade será melhorada e o conteúdo será adicionado de forma consistente. A partir da próxima semana, vamos preparar uma atualização para outubro”.

É preciso evoluir, mas com cuidado

O produto digital, seja ele um site, um aplicativo, um sistema operacional ou mesmo um jogo precisa evoluir e oferecer mais valor ao usuário. Essa evolução é necessária para manter o produto na vanguarda do mercado, adequá-lo às novas tendências de consumo, mantê-lo relevante diante da concorrência ou por uma necessidade tecnológica, demandada por atualizações em browsers ou sistemas operacionais.

A Konami lançou um produto free to play, ou seja, gratuito e com a remuneração ao fabricante por meio de conteúdos extras que o usuário pode comprar. A empresa também utilizou uma nova engine (motor gráfico) para desenvolver o jogo com o objetivo de oferecer visuais mais realistas aos usuários, além de passar por um rebranding, aposentando o antigo PES e adotando oficialmente o nome eFootball. Tudo isso com a intenção de gerar um produto digital como todos planejam ser: inovador, diferente do que a empresa fazia anteriormente, que gera mais valor em relação à edição anterior e que proporciona experiências incríveis aos usuários, independente da plataforma usada.

Na teoria tudo era perfeito, mas a realidade é que algo aconteceu durante o desenvolvimento e levou a empresa a lançar um produto que não entregou o que prometeu, gerando aos usuários frustrações semelhantes às geradas pelo Cyberpunk 2077, jogo lançado em dezembro de 2020 e que ainda recebe correções. Uma hipótese é que a necessidade de sair na frente e apresentar novas funcionalidades pode ter feito com que a empresa adicionasse muitas features de uma única vez. Isso aumenta as chances de que aspectos como jogabilidade e resolução gráfica tenham sido impactados no processo durante a criação da nova versão do game.

Mesmo sob essa pressão de inovar, adicionar funcionalidades e gerar mais valor ao usuário, é necessário adotar processos que garantam a qualidade a fim de evitar que falhas e bugs cheguem ao consumidor e, também, para que os pontos positivos do produto sejam preservados.

Cinco coisas para não esquecer na hora de evoluir um produto digital

Embora não possamos definir com clareza o que aconteceu no caso do eFootball, podemos usar o exemplo para reforçar pontos que não devem faltar na hora de se planejar a criação ou evolução de um produto digital.

1 – Foco na experiência do usuário. Antes das evoluções técnicas e de agregar novas funcionalidades, a prioridade de toda a empresa (e por consequência da equipe de tecnologia) deve estar na experiência do usuário. De todas as críticas que li, o que mais chamou a atenção foi a classificação que alguns jornalistas deram sobre sua experiência quando usaram o produto. Uma empresa pode achar que o produto ainda não está tecnicamente perfeito, mas se a experiência do usuário foi positiva, mesmo que o produto digital apresente algum bug, o objetivo foi alcançado.

2 – A qualidade deve estar no mindset de toda a equipe. Mesmo que não haja um profissional de quality assurance (QA) responsável pela qualidade do produto digital, a equipe, incluindo desenvolvedores e o time de negócios, deve ter consciência de que o sucesso do produto depende de todos;

3 – A qualidade deve ser pensada em todas as etapas do processo de desenvolvimento e não somente no final dele. Quanto mais tarde um bug é detectado, mais caro ele custará para ser corrigido, ou seja, haverá mais prejuízo financeiro e maior gasto de horas da equipe. Imagine o custo da equipe da Konami corrigindo todos os bugs reportados durante os primeiros dias de jogo, sem contar o impacto na reputação da empresa perante o mercado e os usuários. É um tempo gasto em retrabalho que poderia ser usado para levar novidades ao jogo em releases futuras;

4 – Garanta uma boa comunicação entre as pessoas da equipe, pois quanto mais elas compartilharem conhecimento e participarem das decisões relevantes, melhor o projeto fluirá. Quando a comunicação é boa, fica mais fácil saber o que está sendo feito e com qual objetivo;

5 – Saiba o momento certo de fazer a atualização de um produto digital e a quantidade de novas features que devem ser implementadas. Às vezes menos é mais, e inserir muitas features e mudanças de uma só vez pode gerar efeitos contrários ao desejado. Ao invés de melhorar a experiência do usuário, o produto pode gerar decepções no cliente.

A mentalidade de que é necessário fazer, criar, inovar, lançar novos produtos custe o que custar precisa mudar. A evolução dos produtos precisa ser acompanhada por ações que promovam sua qualidade. Será que após se deparar com os bugs e problemas, o usuário irá investir financeiramente nos conteúdos extras que serão lançados no eFootball, mesmo que ele passe por correções? Ou a experiência negativa pode fazer com que a empresa nem recupere o investimento feito no desenvolvimento do jogo?

Bruno Abreu, CEO da Sofist.

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