Em um mundo em constante movimento, ou você está indo para frente ou ficando para trás. Ninguém fica parado. Ou avançamos, ou estamos perdendo espaço. Esse conceito do filósofo Schopenhauer, nascido no final do século XVIII, não poderia ser mais atual. As revoluções trazidas pela Inteligência Artificial (IA) têm deslocado empresas e indivíduos de suas zonas de conforto. Em geral, as lideranças ainda estão tateando como se aproveitar dos benefícios e medindo os possíveis riscos.
Para a famosa futurista Amy Webb, fundadora e CEO do Instituto Future Today, estamos vivendo um superciclo tecnológico, que combina IA, sensores e biotecnologia, criando um momento único em nossa história. Essa sobreposição é capaz de criar uma expansão vertiginosa da produtividade. Em palestra recente aqui no Brasil ela disse: 90% dos softwares que vamos usar nos próximos cinco anos ainda não foram escritos e poderão ser escritos por qualquer pessoa.
Ler, ouvir e refletir sobre este nosso momento dá um misto de receio, ansiedade e curiosidade, não? Seremos – e, em alguns níveis, já somos – capazes de produzir mais, melhor, em menos tempo e com mais eficiência. Mas, para isso, vamos precisar estudar cada vez mais, aumentar nosso repertório e nossa flexibilidade para nos adaptarmos a cenários de constante mudança. O lifelong learning não será uma escolha. Será a única opção.
Quando comecei minha carreira, como bom baby boomer que sou, a perspectiva era trabalhar anos dentro de uma mesma companhia e ascender hierarquicamente. O estudo se encerrava nas universidades tradicionais e, ao conquistar certo número de graduações, seu trabalho estava feito. Nas últimas décadas esse jogo virou. Aprender coisas novas, atualizar as antigas e ampliar horizontes virou condição para sobreviver no mundo corporativo. Particularmente, acho fascinante.
De neurociência, passando por IA e gestão de pessoas. Sigo me desafiando em assuntos com os quais tenho maior ou menor intimidade. As coisas me interessam verdadeiramente e isso é um propulsor. Mas o fato é que as certezas estão aí para serem contestadas e as lideranças precisam aumentar sua capacidade crítica para sempre reavaliarem seus resultados, métodos e objetivos.
Nesse sentido, se por um lado os baby boomers saem atrás das novas gerações em relação ao uso de inovações, estão bem à frente quando o assunto é experiência e conteúdo amplo. Isso cria uma potência imensa em torno das equipes multigeracionais, que podem se aproveitar dos pontos fortes de cada indivíduo para alcançar a inovação.
Em uma conversa recente com o CEO da StartSe, Piero Franceschi, ele lembrou que a IA subverte a lógica de líderes que têm todas as respostas, para líderes que são capazes de identificar problemas complexos, formulá-los e, então, atuar sobre eles com a tecnologia mais adequada. Por isso, vivemos a era das perguntas. E quanto mais repertório tivermos, melhores perguntas faremos. E mais capacidade de avaliar, criticar e validar respostas teremos. É preciso audácia para nos mantermos abertos ao modelo de possibilidades, astúcia para antecipar os sinais do futuro e coragem para se desafiar permanentemente.
Washington Botelho, Presidente da JLL Work Dynamics para a América Latina.