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Errar é humano, e artificial

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“Você continua aqui, pega a terceira à esquerda que vai cair na principal. Lá, terão as placas que indicam a rodovia”. Escutei educadamente a recomendação voluntariosa do trajeto, mas, antes mesmo de entrar no carro, eu já tinha programado o destino em um aplicativo de rotas, que me guiaria assim que eu estivesse pronto para partir.

Morando em uma grande cidade e visitando muitos lugares desconhecidos, desenvolvi uma certa dependência por esse tipo de app, assim como incontáveis outras pessoas. Isso acontece pelo empoderamento. É o tipo de tecnologia que nos concede um poder sobre-humano. Contudo, ao mesmo tempo que gera uma simbiose entre humano e máquina, requer uma pitada de resignação e fé.

Quando era novidade, confesso que duvidava das rotas indicadas. Afinal, eu conhecia aquelas ruas há mais de vinte anos – pura arrogância. Quando me deparei com o terceiro ou quarto engarrafamento, uma obra inesperada ou bloqueio policial, me dei por vencido. Assumi minha inferioridade, me vesti de humildade, veio a resignação e, por fim, a fé, porque os aplicativos também são passíveis de erros. O motivo

Eles usam um motor de algoritmos de Inteligência Artificial (IA), os quais são alimentados por modelos estatísticos. Ou seja, os modelos são desenhados, concebidos, treinados, curados e evoluídos para darem certo, mas, como envolve probabilidades, há uma chance de darem errado. Aliás, você já parou para pensar que aquele desvio na rota, muito esquisito, não foi um erro do aplicativo, mas, sim, um experimento realizado pela empresa desenvolvedora por meio de um teste A/B? Isso também acontece. Mas a gente confia, porque as vantagens são muito superiores ao risco de sermos, eventualmente, mal servidos.

A Inteligência Artificial é o epíteto do jogo da imitação, uma simulação criada por humanos. E pessoas estão longe de serem infalíveis. Nós emprestamos vícios, credos, vieses e preferências àquilo que criamos. Aliás, o termo “Artificial” está ali justamente por ser uma construção das pessoas. Se em algum momento parecer ser mais inteligente do que algo criado pela natureza, é porque nós quisemos assim. Inteligência Artificial, hoje, só existe graças à sabedoria humana.

O escritor James Barrat sugere em seu livro “Our Final Invention” que, se continuarmos evoluindo seu desenvolvimento, a IA também poderá passar a criar tecnologia como nós. Uma espécie de meta-artificialismo no qual a criatura passa a ser também o criador. Isso não necessariamente representa algo bom ou ruim – como qualquer ferramenta, potencializa-se a vontade de quem a estiver empunhando.

Em tempos de polarização, como o vivenciado atualmente, há quem se empolgue e há quem se preocupe com essa possibilidade. Em extremos opostos do espectro, há duas visões igualmente sedutoras. De um lado, os apocalípticos fatalistas radicais que acham que a qualquer momento uma ameaça superinteligente vai tomar nossos empregos, nossos recursos e aniquilar a raça humana (conceito que é muito alimentado em obras de ficção). E de outro, os ultraexcitados solucionistas que defendem a IA como uma panaceia universal para resolver qualquer problema – inclusive os criados por nós.

O fato é que nenhuma das duas visões se sustenta ou é realista frente o que estamos presenciando na prática da tecnologia neste momento. O exercício de futurologia aponta um caminho do meio, com grandes vantagens extensíveis em um passo constante e alguns riscos a serem mitigados.

Afinal, hoje o principal intuito e mantra da Inteligência Artificial é poupar esforço humano e, em extrapolação, potencializar o cumprimento de tarefas. A IA, em linhas gerais, transforma dados em informação, informação em conhecimento e conhecimento em tomada de decisão.

Decisões apontadas por uma implementação com IA devem ser constantemente monitoradas e precedidas de análise crítica. Podemos escolher não virar aquela esquina que o aplicativo nos indicou; tentar sozinhos e nos deparar com nosso erro humano ou podemos criar, alimentar uma IA para facilitar a nossa vida ou dos nossos clientes. A decisão está sempre em nossas mãos. E as possibilidades de erros e acertos também. Depende de como, quem e onde será implementado seu projeto de IA.

Marcelo Câmara, chief artificial intelligence Officer da Certisign.

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