A recente agitação em cima do Metaverso vem criando expectativas, dúvidas e esperanças sobre como é e será essa incrível nova forma de se conectar ao mundo virtual. A maior parte das pessoas, dos mais leigos aos profissionais de tecnologia, possuem suas ideias do que fazer com o Metaverso. Algumas ideias são realistas para a atualidade, outras são sonhos futuros, dado que esse ainda é um conceito cheio de possibilidades a serem testadas e desenvolvidas na prática.
Apesar das incertezas, há uma verdadeira corrida para ganhar terreno nesses mundos virtuais. Grandes empresas estão buscando maneiras criativas de criar em cima do conceito, cada qual atendendo ao seu nicho, o que é um desafio, já que a ferramenta não foi idealizada, primeiramente, como algo real, mas como parte da ficção. Sendo assim, conhecer seus limites, sem deixar de expandi-los, é uma tarefa árdua e de grande demanda por criatividade e desenvolvimento tecnológico.
A palavra, em si, como ideia ou conceito, é antiga. Foi cunhada pelo escritor norte-americano Neal Stephenson, em seu romance de 1992, Snow Crash. Na ficção científica de Stephenson, pessoas usam avatares para viverem em um mundo digital online para fugir de uma realidade distópica. Não é incomum ver essa ideia dentro desse contexto distópico da ficção, como nos clássicos cyberpunk Neuromancer, de William Gibson, ou filmes como Matrix, das irmãs Wachowski. O livro/filme Jogador Nº 1, de Ernest Cline/Steven Spielberg, chega perto do que se imagina para o metaverso hoje, mas ainda assim se constrói em bases distópicas, considerando uma realidade física pessimista.
Diferente da ficção, por mais pessimista que possamos ser, o mundo não é tão obscuro. A ideia do Metaverso atual não vem de encontro à uma fuga de uma realidade com baixa qualidade de vida, onde não há escolha a não ser tentar anestesiar a dor do cotidiano. Ela surge como um solucionador de diversas questões práticas e até focadas em facilitar e melhorar o que é real.
O Metaverso ganhou notoriedade com promessas futuras, mas ele já é uma realidade bem sólida para muitas empresas. A BMW, por exemplo, utilizou a solução Omniverse da NVIDIA, que já existe no mercado brasileiro, para desenvolver uma réplica de uma de suas fábricas, criando um gêmeo digital, ou digital twin, dessa estrutura real, contando com simulações de funcionários e robôs para compor o cotidiano e funcionamento da fábrica. Essa criação da fábrica virtual da BMW gerou uma economia de milhões de dólares e fez com que a BMW fizesse uma simulação de como funcionaria antes de colocar tudo em um ambiente de produção.
Para empresas como a BMW, assim como de tantas outras indústrias que podem utilizar o NVIDIA Omniverse, o Metaverso é bem real, funcional e provedor de resultados que vão da segurança à melhores planejamentos logísticos e de retorno de investimento. Na simulação, é possível estudar cenários com consequências físicas reais, considerando o comportamento das pessoas, entendendo pontos de atenção nas linhas de produção, entre tantas outras funcionalidades.
É como criar um mundo onde se pode testar antes de se investir no mundo real, conhecendo riscos, benefícios e possibilidades. Além disso, é possível que equipes globais atuem juntas construindo e manipulando o digital twin. Os setores que já são beneficiados por esse tipo de ferramenta incluem a arquitetura, a engenharia, a manufatura, a mídia e entretenimento e a supercomputação. É possível simular cidades inteiras, a fim de calcular diversos cenários úteis.
Longe de ser uma "Matrix", o Metaverso é um mundo 3D virtual compartilhado, que promove interatividade, imersão e colaboração, e tem utilidades muito maiores do que "viver em uma realidade virtual", mesmo que isso seja possível um dia. Apesar disso, diferente da ficção, o que levará as pessoas a esse mundo virtual não será a falta absoluta de esperança no real, mas sim as possibilidades de expansão da realidade.
Olhando friamente, hoje o Metaverso já é real, mas é também um sonho compartilhado pelos usuários comuns de internet, que busca entretenimento ou interação social. Para que se chegue a isso, há questões envolvendo o barateamento de equipamentos para que as pessoas interajam com o Metaverso, construção de conceitos e mundos que chamem a atenção das pessoas, propósitos comerciais e sociais para se criar no Metaverso etc. Não basta um mundo existir, ele precisa de propósito e maneiras de se chegar a ele.
Apesar disso, o real e o sonho tendem a se misturar quando falamos de tecnologia, e só assim se vai mais longe. Só o futuro sabe as aplicações que atingiremos, mas com certeza esse é um caminho que iremos trilhar.
Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da NVIDIA para América Latina.