O mercado de data centers regionais — ou edge — no Brasil vive um ciclo acelerado de crescimento. Em 2023, esse segmento movimentou cerca de US$?216 milhões, com projeção de atingir US$?686 milhões até 2030, o que representa um crescimento médio anual (CAGR) de aproximadamente 18%. Esse movimento ocorre dentro de um mercado nacional de data centers que gerou US$?4,7 bilhões em 2024 e deve alcançar US$?8,3 bilhões até 2030, com expansão anual próxima de 10%.
Mais do que crescimento em volume e receita, essa expansão reflete uma transformação na matriz energética e na geografia da infraestrutura digital brasileira. O país deve investir mais de R$?250 bilhões até 2027 em data centers e computação em nuvem, atraindo aportes robustos graças à sua matriz energética majoritariamente limpa, superávit de geração, abundância de água, baixa incidência de eventos climáticos extremos e a expectativa de um programa nacional de incentivos regulatórios — fator crucial para reduzir o gap de previsibilidade que limita projetos de longo prazo.
Embora os grandes data centers (hyperscale) ainda concentrem boa parte dos investimentos, o avanço dos edge data centers representa uma evolução necessária para atender às novas demandas tecnológicas. Eles oferecem ganhos claros em latência — essencial para aplicações de IoT, automação, cidades inteligentes e inteligência artificial generativa (GenAI) —, além de ampliar a resiliência da rede e a eficiência operacional. Estudos indicam que, há poucos anos, menos de 10% dos dados eram processados na borda. Esse percentual pode chegar a 75% já em 2025, impulsionado, sobretudo, pela adoção do 5G, que depende diretamente da proximidade física entre usuários, dispositivos e servidores.
Na prática, essa transformação beneficia principalmente cidades médias e regiões interioranas, viabilizando:
redução de custos com tráfego de dados;
mais autonomia e soberania digital local;
acesso democrático a serviços de alta performance — fundamentais para setores como agronegócio, saúde, educação e indústria 4.0.
Por outro lado, o crescimento da infraestrutura digital exige um olhar atento para os desafios: data centers demandam energia e água em larga escala. É fundamental que o país equilibre essa expansão com a garantia de fornecimento estável de recursos, especialmente diante de riscos como secas ou apagões.
Portanto, a regionalização da infraestrutura digital não é apenas uma tendência — é uma necessidade estratégica. Esse movimento responde a quatro pilares centrais:
crescimento acelerado dos mercados de edge e hyperscale;
papel do edge na redução de latência, aumento da resiliência e suporte a IoT e 5G;
compromisso com uma expansão sustentável, tanto do ponto de vista regulatório quanto energético;
necessidade de escalar a capacidade digital sem sobrecarregar os recursos naturais locais.
O futuro da infraestrutura digital se desenha na intersecção entre tecnologia, desenvolvimento econômico e política regional. Uma rede distribuída, resiliente e eficiente, capaz de atender tanto os grandes centros urbanos quanto os municípios do interior com a mesma qualidade e performance.
Atualmente, já é possível observar a expansão de edge data centers em regiões como Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Goiânia, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Esses hubs operam interligados a grandes ecossistemas de data centers corporativos e hyperscales, entregando ganhos expressivos em latência, eficiência e resiliência.
Essa arquitetura permite conectar dezenas de data centers — desde operações enterprise até hyperscales — por meio de redes de fibra óptica de alta capacidade, viabilizando um modelo descentralizado, de baixa latência e alto desempenho, essencial para o presente e o futuro da economia digital.
Carlos Eduardo Sedeh, CEO da SAMM.
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