A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, vai aproveitar a reunião que terá esta semana com o presidente francês François Hollande para discutir a proposta de criação de uma rede de dados europeia. O objetivo é manter os e-mails e outras comunicações restritos ao lado europeu do Atlântico, de maneira a torná-los mais distantes dos olhares indiscretos do governo americano.
"Vamos, acima de tudo, discutir com os prestadores europeus sobre a necessidade de oferecermos segurança aos nossos cidadãos", disse Merkel no sábado, 15, em seu podcast semanal. "Para que seus e-mails e outras coisas não tenham que atravessar o Atlântico, e possamos construir redes de comunicações também na Europa."
Os dois líderes vão se reunir na quarta-feira, 19, em Paris, quando Merkel também vai falar sobre questões econômicas, segundo disse seu porta-voz ao New York Times.
Companhias alemãs como a Deutsche Telekom já admitiram a possibilidade de criar essas redes, a fim de atenuar a preocupação do público sobre a possibilidade de que seus dados enviados através da internet sejam rastreados e recolhidos pela Agência de Segurança Nacional (NSA) americana, quando passam por servidores instalados nos Estados Unidos ou que pertençam a companhias americanas.
Esta é a primeira vez que Merkel declara apoio à proposta. A chanceler, que foi criada na Alemanha Oriental, durante o governo comunista, que espionava regularmente os seus cidadãos, expressou publicamente sua insatisfação quando veio a público, no ano passado, que seu telefone celular havia sido alvo de escuta por parte da agência de inteligência norte-americana.
O caso veio à tona quando o ex-prestador de serviços à NSA, Edward Snowden, vazou documentos da agência, o que continua a irritar particularmente as elites políticas e mídia europeia, que não se conformam que os americanos que ensinaram os alemães pós-nazistas o significado de privacidade e liberdade do indivíduo estejam coletando dados privados em tamanha escala.
O presidente dos EUA Barak Obama garantiu a Merkel que seu telefone já não é mais monitorado. Mas um jornal alemão revelou recentemente que o telefone de seu antecessor, Gerhard Schröder, foi monitorado em 2002, quando ele se opôs aos planos da administração Bush de invadir o Iraque.
Apesar de todo o furor na Alemanha, a reação francesa à NSA tem sido um tanto ambígua, já que os serviços de inteligência francês são assíduos na coleta de comunicações e dados online — uma ferramenta necessária na luta contra o terrorismo reconhecido por muitos países ocidentais. Na semana passada em Washington, durante entrevista coletiva com Obama e Hollande, o presidente francês sugeriu que qualquer rancor sobre o assunto havia se dissipado.