Na economia digital brasileira, vence quem consegue extrair o máximo valor de seus dados. A transformação da cultura de negócios exige um recurso que vai além da tecnologia: cientistas de dados. Nesse quesito, os desafios enfrentados pelas empresas são enormes. Enquanto sobram vagas, faltam profissionais treinados e capacitados nessa área. Relatório da Glassdoor norte-americana de janeiro de 2022 indica que as posições de cientistas de dados são a terceira carreira mais valorizada naquele mercado – no início deste ano, havia 10.000 vagas em aberto. Pesquisa da consultoria brasileira de RH Intera divulgada em maio de 2021 revela que surgiram 485% a mais de novas vagas com esse perfil em relação ao mesmo período de 2020. Esse levantamento foi feito a partir dos desafios enfrentados por 34 grandes corporações de tecnologia do país.
No Brasil, os salários dessa categoria aumentaram 40% entre 2019 e 2021. Os valores variam, hoje, entre R$ 4.500,00 e 22.000,00, segundo pesquisa da Bain. Esse detalhado estudo, construído em outubro de 2021 a partir de entrevistas com 2645 profissionais de todo o Brasil, mostra que, na prática, o cientista de dados escolhe onde vai trabalhar. São pessoas com um alto nível de instrução formal, com 50% desse universo sendo pós-graduados.
Frustração com falta de maturidade analítica das organizações
Essa categoria profissional tem consciência de seu papel no avanço dos negócios das organizações onde atuam, mas sofrem com o descompasso entre a cultura de inteligência de dados e os departamentos mais tradicionais da empresa. Para 44,5% do grupo estudado, a falta de maturidade analítica da organização pode levá-los a mudar de emprego.
Uma das razões para esse sentimento de valor próprio é o fato de que essa formação é longa e complexa. O cientista de dados é um profissional multidisciplinar, capaz de utilizar conhecimentos em ciência da computação – com ênfase em Inteligência Artificial, Machine Learning e BigData –, matemática e estatística para fazer dos dados da organização uma alavanca de crescimento dos negócios. Conforme sua jornada profissional, pode adicionar a esse perfil técnico uma formação em administração de empresas, finanças e até saúde.
Fraudes digitais causarão prejuízos de US$ 48 bilhões até 2023
Uma das frentes onde é essencial contar com cientistas de dados é a luta das organizações brasileiras contra as fraudes digitais. Estudo realizado pela Juniper Research no início de 2022 indica que, até 2023, fraudes em transações e pagamentos online deverão gerar prejuízos que ultrapassarão a marca de US$ 48 bilhões (dados globais). Esse valor é ao ano. No Brasil, estudo da Serasa Experian divulgado em maio revela que, em março, foram registradas 389.788 tentativas de fraude, o que representa um aumento de 18,9% em relação ao mesmo período em 2021. Isso significa que a cada 7 segundos um brasileiro é vítima dos fraudadores. O segmento que mais sofreu com esse quadro é o varejo, com uma alta de 74,1% nas tentativas de fraudes.
Essa realidade está levando o mercado brasileiro a buscar experts em dados, profissionais capazes de aliar a análise de dados aos desafios do negócio e, a partir daí, identificar e bloquear fraudes digitais cada vez mais sofisticadas e criativas.
Além dos times internos de cientistas de dados, há a possibilidade de as organizações contratarem essa inteligência na modalidade de serviços gerenciados.
Nesse formato, os cientistas de dados são parte de um SOC (Support Operations Center) que atua 24×7 para monitorar, detectar e mitigar fraudes em tempo real. Trata-se de um time de elite com formação contínua tanto em tecnologia como em finanças e negócios. Sua meta é entregar à empresa usuária dos serviços desse SOC uma visão preditiva sobre as fraudes atuais e as que estão sendo gestadas e, a partir daí, disparar ações de bloqueio ou correção.
Visibilidade sobre os rastros deixados pelos fraudadores
Além da inteligência de seus profissionais, o provedor de serviços gerenciados de combate à fraude utiliza o que há de mais avançado em IA, ML e BigData para identificar os sutis rastros que as gangues digitais deixam.
O modo tradicional de lutar contra fraudes é por meio da construção de regras que analisam o histórico de golpes e, a partir daí, impõem bloqueios a esses atos criminosos. Na economia digital, com milhões de transações acontecendo simultaneamente num portal de e-commerce ou na aplicação de Internet Banking de um banco, abre-se espaço para tentativas de fraudes muito inventivas, que não se encaixam nas regras referentes aos golpes do passado.
Nesse contexto, o uso de soluções tradicionais de cyber segurança não produz os resultados almejados. É necessário contar com ferramentas que contemplam a inventividade dos fraudadores e identificam tentativas de abuso. Não se trata mais do atacante buscar uma vulnerabilidade na aplicação de negócio e, a partir daí, utilizar um exploit para realizar uma violação.
No caso da fraude, o que existe é um criminoso ilegitimamente acessando uma aplicação a partir de uma informação legítima, obtida de modo espúrio. Os imensos vazamentos de dados pessoais vistos no nosso mercado representam um tesouro para as gangues digitais.
A partir desse mar de informações, os fraudadores utilizam Bots para realizar milhões de tentativas de acesso por segundo – a meta é identificar as informações pessoais que "abrem" a porta da aplicação de negócios ao invasor. Os Bots realizam, portanto, a primeira fase da fraude. O principal objetivo do criminoso, no entanto, é realizar um Account Takeover (ATO). Essa é a segunda fase da fraude, em que entra em cena uma pessoa se passando pelo cliente legítimo.
Análise do perfil de acesso de cada consumidor
Para enfrentar essa ameaça, a solução antifraude analisa dados comportamentais de cada acesso feito, checando o dispositivo que está sendo usado, o horário da compra, o modo de usar o mouse, que produto está sendo adquirido. O mapeamento do perfil de acesso de cada consumidor gera descobertas que precisam ser verificadas pelo time de cientistas de dados.
Esses profissionais conseguem interpretar o que está acontecendo e, a partir daí, disparar ações de bloqueio ou até mesmo sugestões de correção de processos de negócios digitais. Cada intervenção do cientista de dados contribuiu para "treinar" a plataforma antifraudes baseada em IA e ML, de modo a preparar ainda mais essa solução para, a partir de poucos vestígios, identificar e bloquear a ação criminosa.
É hora de aliar, aos experientes times antifraudes que respondem ao CFO, cientistas de dados que usam IA e ML para detectar abusos num mar de dados em constante expansão. Trata-se de casar o olhar refinado de quem defende o negócio há anos a uma expertise em dados que defende a organização em escala, e com a máxima precisão.
Udo Blucher, engenheiro de Soluções da F5 LATAM.