No início deste mês, quando o Departamento de Comércio dos EUA anunciou a imposição de restrições à ZTE, fabricante chinesa de equipamentos de telecomunicações e dispositivos móveis, por planejar retomar as exportações para o Irã de alguns produtos com tecnologia norte-americana, o órgão divulgou documentos internos da empresa que detalham como ela pretendia fazer isso, e também sugeriu que a violação pode não estar limitada a uma única empresa chinesa.
É raro o Departamento de Comércio tornar pública a lista de companhias com restrições, principalmente fazer a divulgação completa de documentos internos dessas empresas. Os papéis descrevem como a ZTE criaria empresas aparentemente independentes — chamadas de "empresas cut-off" —, que iriam assinar acordos com países que estão sob sanções da ONU, tais como o Irã, Coreia do Norte e outros.
No documento, a ZTE cita uma empresa rival, que chama de F7. A ZTE diz que a F7 havia feito algo semelhante. O documento não fornece o verdadeiro nome da F7, mas, pela descrição, segundo o The New York Times, trata-se da Huawei, principal rival da fabricante chinesa. O órgão do governo americano diz que algumas informações sobre F7 foram recolhidas pelo departamento jurídico da ZTE, sem oferecer mais detalhes.
A F7, diz o documento, tentou comprar uma empresa americana em 2010 chamada 3Leaf, mas se deparou com a oposição de autoridades norte-americanas. Nesse mesmo ano, a Huawei anunciou a intenção de comprar ativos importantes da 3Leaf, mas recuou da oferta em fevereiro de 2011 devido à oposição do governo americano.
A F7 também tem uma joint venture com a empresa de segurança digital americana Symantec, diz o documento. Huawei, de fato, tinha uma joint venture com a Symantec antes de a empresa americana dissolvê-la em 2012. O documento da ZTE, datado de agosto de 2011, sugere ainda que outras empresas chinesas teriam feito a exportação de produtos com tecnologia americana.
Na quinta-feira, 17, a ZTE disse que tinha atrasado a divulgação de seus resultados financeiros anuais por causa das sanções, o que limita a sua capacidade de vender equipamentos a empresas americanas.
Fins protecionistas
Como a ZTE, a Huawei fabrica equipamentos para redes de telecomunicações. As autoridades americanas já suspeitavam que ela tem laços estreitos com o governo chinês, e agentes de inteligência dos EUA têm espionado a rede da empresa. A Huawei diz, entretanto, que é uma propriedade privada e que as acusações de vínculos com o governo chinês tem fins protecionistas, são uma desculpa para prejudicá-la.
Apesar do problema com os EUA, a Huawei não desistiu de aceitar ofertas controversas. Em setembro, ela assinou um acordo com o Ministério das Comunicações e Tecnologia da Síria para ajudar o país a desenvolver as suas redes de comunicações.
A Huawei é muito maior do que a ZTE. Em 2014, ele registrou uma receita de cerca de US$ 60 bilhões, cerca de quatro vezes a da ZTE. Ela é classificada hoje, junto com a sueca Ericsson, como a maior fornecedora do mundo de estações radiobase (ERBs) e outros equipamentos para redes móveis de telecomunicações.
Procuradas pelo jornal americano, a ZTE se recusou a comentar sobre a F7, e a Huawei também não quis falar sobre o assunto. A ZTE disse apenas que está cooperando com os investigadores e está empenhada em cumprir a lei. O Departamento de Comércio, não respondeu aos pedidos de comentário.