A Kearney acelerou as ofertas de serviços focados na migração de modelos de negócios para a economia de plataforma. A necessidade contínua das empresas se reinventarem e adequarem os negócios para manter e aumentar o seu valor tornou-se ainda mais relevante com o novo coronavírus e as mudanças nos hábitos de consumo impostos pelo isolamento social.
A economia de plataforma não é recente, mas vem atraindo cada vez mais adeptos, principalmente porque sete das dez maiores empresas do mundo hoje estão baseadas nesse modelo de negócios, como é o caso da Apple, Google e Amazon. Estimamos que até 2024, entre 20-40% da atividade econômica será representada pelo modelo de plataformas, atingindo US$ 10 trilhões de valor de mercado até o final da década.
O grande potencial disruptivo desse modelo é o crescimento acelerado que essas empresas têm, muito impulsionado pelo efeito de rede criado dentro dessas plataformas, que permitem seu crescimento exponencial. Isso significa que quanto mais usuários realizam transações – tanto produtores, quanto consumidores -, melhor para todos, já que cada lado da equação irá atrair mais usuários para o outro lado da equação. "Quando há mais motoristas de Uber, mais passageiros vão entrar e permanecer na plataforma, porque conseguem localizar corridas de forma mais rápida, e isso por sua vez, irá atrair mais motoristas", explica Danilo Almeida, diretor da Kearney no Brasil.
O atual cenário exige inovação e esses novos modelos de negócios são desejados para garantir que as empresas se mantenham relevantes no mercado, além de possuírem resultados financeiros superiores. Negócios de plataformas possuem duas vezes e meia a margem de negócios típicos, como prestação de serviços. "Criar estratégias de plataforma permite melhorar a experiências para o consumidor, aumentar o valor criado para o mercado e reduzir os custos das transações, como é o caso do Airbnb e da Magazine Luiza, no Brasil", assegura Almeida. Porém, ele alerta, que "o modelo estratégico da plataforma é substancialmente diferente daquele que as empresas estão tradicionalmente acostumadas a desenvolver. Nesse modelo a estratégia consiste em orquestrar os recursos e facilitar as interações, promovendo a melhor governança e o ambiente seguro para as trocas entre os usuários".
Um setor que costumava ser relutante e cauteloso em adotar modelos disruptivos para sua indústria, era o setor de saúde. Entretanto, a pandemia da COVID-19 estimulou e acelerou diversas instituições de saúde – farmacêuticas, planos de saúde, hospitais, laboratórios – a darem os primeiros passos em direção à economia de plataforma. Diversas empresas lançaram no último mês soluções de telemedicina, de prescrição digital e estão se organizando para conseguirem se tornar negócios de plataforma. "Um dos grandes desafios históricos do setor é possibilidade em se compartilhar os registros médicos e que a pandemia do coronavírus pode forçar a mudança por necessidade, uma vez que as organizações de saúde não precisariam fornecer serviços dos quais não possuem e poderiam, ao invés disso, alavancar o ecossistema da plataforma", explica Almeida.
De acordo com a Kearney, a rápida e inesperada mudança na forma como as pessoas, as empresas e os mercados se relacionam e geram negócios deve fazer com que também outros setores além do setor de saúde migrem para a economia de plataforma. O que se observa é uma tendência mundial do segmento varejista em adotar esse novo modelo, que, aos poucos, está surgindo e se consolidando no Brasil. "Estamos falando de uma mudança significativa no modelo tradicional de negócios. Todas as indústrias podem se beneficiar", avalia Almeida.
Plataforma de saúde na prática
Considerando o momento atual do Coronavírus, organizações privadas se uniram em resposta à escassez de equipamento de proteção individual (EPI) para a equipes médicas na linha de frente da luta contra a COVID-19. Uma coalizão formada pela consultoria Kearney, American Hospital Association, Kaiser Permanente, Merit Solutions, Microsoft e a UPS, se formou para lançar o Protecting People Everywhere. Através do aplicativo HealthEquip, pessoas e organizações podem disponibilizar os equipamentos que desejam doar e encontrar potenciais destinatários.
"Esta iniciativa mostra que não é preciso ser uma startup ou uma empresa de tecnologia para tirar melhores resultados de uma economia de plataforma digital. Empresas podem somar esforços e colaborar entre si para, neste caso, equilibrar e atender as demandas por utensílios médicos", diz Mark Essle, sócio da Kearney no Brasil.
"Mesmo diante da necessidade de mudanças, a maioria das empresas ficam estagnadas e demoram a responder às necessidades do mercado", analisa Essle. O modelo de negócios de plataforma é disruptivo e não foi ensinado nas escolas de negócios até poucos anos atrás. "Poucos líderes de empresas entendem esse novo modelo e, mesmo quando o fazem, o processo estratégico leva tempo. É preciso mudar a forma que entendemos os negócios. A colaboração em um ecossistema comum com parceiros e até com empresas que concorrem no mesmo setor, com grande transparência, irá trazer melhores resultados do que a competição nos silos atuais."