Apesar da cautela do investidor com compra do WhatsApp, analistas aprovam negócio

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O número crescente de observadores internacionais que questionam se, realmente, o aplicativo de mensagens WhatsApp, pelo qual o Facebook pagou a bolada de US$ 19 bilhões, vale todo esse dinheiro parece ter contribuído para o cetismo dos investidores em relação ao negócio.

Na manhã desta quinta-feira, 20, as ações do Facebook na Europa caíram 2,9%, e, mesmo em Wall Street, o ânimo do mercado não tem sido diferente. Depois de encerrarem o pregão de quarta-feira, 19, da Nasdaq, com queda de 2,63%, cotadas a US$ 66,27, as ações da empresa abriram nesta quinta-feira, 20, com ligeira queda de 0,5%, negociadas a US$ 67,73. Às 13h24 (horário de Brasília) os papéis chegaram a registrar baixa de 3,1%, para US$ 65,95, depois se recuperaram um pouco e terminaram valendo US$ 69,63, alta de 2,31%.

Embora o desempenho não seja de todo ruim, está longe de justificar a aposta bilionária do Facebook no WhatsApp. A transação (o quinto maior negócio de tecnologia de todos os tempos e que fez com que o valor total de fusões e aquisições no mercado de tecnologia nos primeiros 50 dias do ano, de US$ 42,4 bilhões, ficasse atrás apenas do registrado no ano 2000, no período pré-estouro da bolha da internet, quando o volume chegou a US$ 79,6 bilhões) faz surgir inúmeras interrogações.

Negócio duvidoso

Para alguns analistas, do ponto de vista estritamente financeiro, o negócio é duvidoso. Embora tenha alcançado a marca de 450 milhões de usuários no mundo, o serviço não fez nada — ou muito pouco — para rentabilizar este grande público. Além da taxa de US$ 1 cobrada do usuário após um ano de uso, nenhuma outra fonte de receita tem sido explorada.

A título de comparação, o aplicativo concorrente Line, avaliado em cerca de US$ 30 bilhões, gerou um volume de negócios de US$ 330 milhões no ano passado, impulsionado principalmente por compras no aplicativo. O mesmo vale para o Twitter, que gerou US$ 665 milhões em vendas em 2013 (sem ser rentável), e está avaliado em US$ 30 bilhões. Apesar de ser bastante popular, parte desses analistas chegam a duvidar da capacidade de monetização do serviço.

Da mesma forma, eles observam que, quando cotejado os US$ 19 bilhões gastos na compra do WhatsApp com o custo médio de aquisição por usuário (ACPU, na sigla em inglês), fica evidente que houve excesso. Como comparação é citada a compra do aplicativo de mensagens Viber pela japonesa Rakuten, por US$ 900 milhões. Com 280 milhões de usuários, o negócio custou cerca de US$ 3 por usuário, contra US$ 42 pagos pelo Facebook.

O baixo entusiasmo dos investidores em relação à transação, na opinião de Brian Wieser, analista da Pivotal Research, se explica. E por uma boa razão. "Para justificar os US$ 19 bilhões pagos, o WhatsApp terá de gerar pelo menos US$ 1 bilhão em 2016", alerta ele, em declaração ao site francês Le Journal du Net. Embora seja um objetivo muito ambicioso, não é necessariamente inatingível, ressalta Wieser.

Potencial alto

De fato, há aqueles que veem o negócio com grandes possibilidades de sucesso. Analistas do Goldman Sachs, por exemplo, não escondem o espanto com o pagamento de cerca de US$ 42 de custo médio de aquisição por usuário do WhatsApp, enquanto o valor atual por usuário do Facebook é de US$ 142. Mas em nota aos investidores, o banco diz sem rodeios: "Nós acreditamos que a aquisição faz sentido estratégico, pois o Facebook continua a construir o seu microcosmo de aplicações, que vai ajudar a impulsionar o WhatsApp, que já tem uma forte presença internacional".

Da mesma forma, analistas do Morgan Stanley são otimistas, dizendo que o Facebook deu em troca apenas 8% do seu valor de mercado para o aplicativo líder de mensagens móveis. "O WhatsApp adiciona mais de 1 milhão de usuários por dia, e acreditamos que o volume de mensagens enviadas e recebidas por meio do aplicativo esteja se aproximando de todo o volume de SMS mundial", diz nota a investidores.

O analista do UBS, Eric Sheridan, reconhece que o valor do negócio foi muito elevado, mas ele avalia que o WhatsApp tem o potencial de gerar mais de US$ 1 bilhão em receita em 2016 e além. "O negócio do Facebook é sustentar as fortes tendências que impulsionaram suas ações a partir do segundo trimestre de 2013 até hoje", disse Sheridan, também em nota aos investidores. "O forte desempenho operacional do seu negócio principal provavelmente irá atenuar, como efeito da diluição dessa transação, o que costuma causar aversão dos investidores", minimizou ele, em declaração ao The Wall Street Journal.

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