A transformação digital do setor financeiro tem sido impressionante. Como jurado da competição de startups da Febraban Tech, o maior evento de inovação em tecnologia e bancos da América Latina, tive um lugar privilegiado nas inovações que moldam o futuro deste setor.
A Inteligência Artificial (IA) está no centro desta revolução. A Febraban Tech 2025 destacou o profundo impacto da IA, especialmente nos grandes bancos. Especialistas, como Sandy Carter, uma autoridade global em IA, recomendam fortemente o investimento contínuo em IA, citando a projeção da McKinsey de que a IA generativa influenciará cerca de US$ 13 trilhões globalmente até 2030. Carter demonstrou seu potencial, compartilhando como sua empresa os utiliza para atendimento ao cliente, com assistentes virtuais atendendo 32% das chamadas. Ela prevê um futuro com interações Business to Agent (B2A), Agent to Agent (A2A) e Person to Agent (P2A), prevendo agentes de IA gerenciando tarefas complexas como planejamento de viagens, com o A2A se tornando comum até 2027. Carter também enfatizou a importância da segurança e da confiança na adoção da IA generativa no Brasil, defendendo a transparência para que os usuários entendam como a IA alcança os resultados.
Os bancos brasileiros estão na vanguarda. O Banco Central do Brasil, elogiado por sua inovação em serviços financeiros, demonstrou seu sucesso com o Pix. Iniciativas como Pix Automático, Pix Parcelado e Open Finance reforçam seu compromisso com o progresso. Tarciana Medeiros, CEO do Banco do Brasil, enfatizou a indispensabilidade da tecnologia para o crescimento sustentável, buscando uma experiência bancária personalizada por meio de IA escalável. Cintia Barcelos, CTO do Bradesco, detalhou como a BIA, a IA do Bradesco, potencializada por IA generativa, agora atende 24 milhões de correntistas e aumentou as taxas de resolução em 85%. Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú, destacou a inovação como o "novo normal", com os projetos de IA em andamento do Itaú gerando seu maior Net Promoter Score (NPS).
A hiperpersonalização, impulsionada pela IA generativa, está transformando o atendimento ao cliente e as ofertas de produtos. Isso já é uma realidade, com os bancos se esforçando para serem centrais nas decisões dos clientes. A BIA do Bradesco não apenas processa transações, mas também identifica o humor do cliente durante interações de voz, oferecendo crédito personalizado por meio de seu aplicativo. Maluhy, do Itaú, falou sobre a capacidade sem precedentes de personalizar serviços, com foco em ações preditivas. A IA generativa auxilia em investimentos e possibilita transações via Pix via WhatsApp. Essa personalização se estende às empresas, com Patricia Sousa, do Citi, descrevendo-a como uma cocriação. Priscyla Laham, da Microsoft, destacou o desafio de transformar dados em ofertas oportunas e acionáveis.
O segundo dia da Febraban Tech explorou a evolução dos pagamentos, do Open Finance e das finanças incorporadas, também conhecidas como Embedded Finance. O Banking as a Service (BaaS) está ganhando força, tornando-se mais seguro e competitivo sob as regulamentações do Banco Central, com a IA desempenhando um papel cada vez maior. Marcos Cavagnoli, do Bradesco, enfatizou que uma "fintechização" bem-sucedida leva tempo e exige a contextualização dos serviços financeiros para o cliente. Ele citou a CPFL, que oferece crédito aos consumidores via BaaS, aprimorando a experiência do usuário. No setor de pagamentos corporativos, as barreiras culturais à adoção do cartão de crédito persistem, com os boletos ainda predominando. No entanto, Renata Daltro, da Cielo, vê isso mudando, acreditando que os cartões de crédito oferecem um valor único. Allan Capura, do Bradesco, enfatizou a necessidade de os CFOs enxergarem os cartões de crédito como "capital de giro" vital, citando seu uso no financiamento de ações de concessionárias de veículos.
O sucesso do Pix foi um grande destaque, com 63,8 bilhões de transações no ano passado. Sua evolução inclui o Pix Automático e o Pix Recorrente. Cesar Boralli, da PCMI, elogiou o Pix como um modelo de colaboração público-privada, impulsionando a digitalização financeira. Adriano Milani, do Citi Brasil, observou que o Pix proporciona liquidez imediata às médias empresas e simplifica a conciliação. Breno Lobo, do Banco Central, destacou a segurança como um desafio fundamental, com o iminente MED 2.0 (Mecanismo Especial de Reembolso) abordando fraudes.
A agenda de inovação do Brasil, incluindo o Pix e o Open Finance, está ganhando reconhecimento internacional, com seu ecossistema Open Finance agora sendo um dos mais avançados do mundo. Ana Carla Abrão, CEO do Open Finance Brasil, comemorou seu robusto crescimento de um mandato regulatório para um impulsionador de negócios. O desafio está em maximizar seu potencial, já que algumas instituições ainda não o adotaram totalmente. Ricardo Gelbaum, do Banco Daycoval e da ABBC, reconheceu o debate em andamento sobre sua proposta de valor, mas enfatizou a necessidade de educar o público sobre sua segurança e benefícios, especialmente para pessoas endividadas. Abrão enfatizou o aumento de consentimentos e a garantia da funcionalidade do ecossistema para inovação contínua.
O último dia focou no "banco do futuro" e no conceito de "Beyond Banking" (Além do Banco). A Pesquisa de Tecnologia Bancária Febraban 2024 mostrou transações bancárias recordes e um crescimento significativo do mobile banking, impulsionado pelo Pix. Embora o mobile banking domine as transações diárias, o internet banking continua sendo o preferido para investimentos. A pesquisa também observou um aumento no número de bancos com plataformas de marketplace, aprimorando o entendimento do cliente. O Open Finance teve um crescimento significativo de usuários e consentimentos, embora desafios como a falta de entendimento persistam. Rodrigo Mulinari, do Banco do Brasil, prevê o mobile banking como a próxima onda revolucionária.
O conceito de "banco invisível", no qual as instituições financeiras se integram perfeitamente à vida cotidiana como os componentes essenciais de um carro, ressoa com a ideia de uma jornada simples e sem atritos. O Beyond Banking está redefinindo o papel do banco, como visto na iniciativa do Itaú de oferecer financiamento para iPhones, atendendo às necessidades reais dos clientes. Gustavo Cintra, do BTG Pactual, acredita que os bancos devem oferecer soluções que agreguem valor real, atraindo novos clientes. Rodrigo Carneiro prevê que o Beyond Banking fomentará a colaboração intersetorial para soluções abrangentes. Michele Vita, do Itaú Unibanco, enfatizou a importância de parcerias criteriosamente selecionadas para manter a qualidade nesses ecossistemas expandidos. Isso sinaliza uma mudança em direção ao "Banking como uma Jornada", onde a hiperpersonalização atinge novos patamares.
Em essência, a Febraban Tech 2025 destacou que IA, hiperpersonalização, Pix, Open Finance e Beyond Banking estão acelerando a evolução do setor financeiro. O futuro promete uma experiência financeira perfeitamente integrada, personalizada e sem atritos, com o cliente em seu centro. Meu papel como jurado na Arena Fintech confirmou que estamos à beira de uma transformação sem precedentes, impulsionada por inovação implacável.
Thiago Iglesias, Head do Torq, hub de inovação da Evertec + Sinqia.
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