Tipicamente, notamos a evolução dos serviços financeiros por meio de novos produtos, canais e provedores digitais voltados ao consumo direto pelos clientes. Convido o leitor a conhecer um aspecto menos visível dessa transformação, mas igualmente importante: uma nova infraestrutura que está surgindo, impulsionada por novas regulamentações, tecnologias emergentes e um novo estágio de integração global.
Essa visão tem sido chamada de "Finternet" por especialistas internacionais, que descrevem uma nova infraestrutura baseada em ativos tokenizados, redes interoperáveis e liquidação instantânea. Ela representa um novo estágio de integração de diferentes ecossistemas financeiros globais, no qual ativos ganham identidade digital e circulam por redes seguras em formato de tokens. Além de possivelmente desbancar modelos financeiros do século XX, abre espaço para uma enorme quantidade de inovações e novos modelos de negócio, com a promessa de uma nova lógica inteiramente digital para o funcionamento do dinheiro, dos ativos e das relações econômicas.
Diante desse cenário, o Brasil pode ser um protagonista. Um exemplo dessa nova infraestrutura é o projeto do Drex, liderado pelo Banco Central, que promete ser um dos mais ambiciosos e tecnicamente sofisticados do mundo. O Drex está sendo construído para ser uma infraestrutura programável, híbrida, aberta ao setor privado e capaz de transformar o sistema financeiro como o conhecemos.
Modelos de negócio baseados na intermediação financeira tradicional, na lentidão da liquidação e em contratos pouco inteligentes terão cada vez menos espaço num mundo em que ativos circulam em tempo real, com regras programadas, auditáveis e globais.
A promessa da Finternet é uma grande transformação — mas também uma oportunidade. O Drex pode reduzir drasticamente os custos operacionais, ampliar a inclusão financeira real — especialmente em áreas onde o sistema bancário não chega — e permitir novas formas de capitalização e investimento. Ele permitirá que contratos inteligentes substituam burocracias inteiras, que ativos sejam criados, fatiados, vendidos e liquidados em segundos, e que empresas operem com garantias digitais programadas.
Para os líderes empresariais atentos, há aqui uma janela de oportunidade importante: integrar-se ao ecossistema Drex desde já, experimentar pilotos de tokenização, revisar sua infraestrutura financeira e liderar a transição para um mundo no qual o dinheiro — e os ativos — não circulam mais em sistemas centrais, mas em redes inteligentes, seguras, transparentes e globais.
Jimmy Lui, head de Inovação, Open Finance e CVC no banco BV.
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