Acompanhando o desenrolar e todo o desenvolvimento Open Banking no Brasil, que iniciou em 2021, e, após 18 meses do início da fase 4, a última etapa desse marco que simboliza, não apenas uma evolução técnica, mas, uma transformação estrutural no setor financeiro, conseguimos ver o enorme potencial desse sistema.
O que começou como Open Banking, limitado ao compartilhamento de informações bancárias, evoluiu para o Open Finance, abrangendo seguradoras, cooperativas de crédito e outras instituições financeiras. A transição para essa etapa trouxe uma mudança crucial: enquanto a Fase 3 abriu as portas para o compartilhamento de dados bancários e regulamentou o processo, a Fase 4 rompeu essas fronteiras para integrar todo o ecossistema financeiro.
Essa expansão gerou oportunidades para o chamado Embedded Finance, ou finanças embutidas, permitindo que empresas de diversos setores, como seguros e varejo, criassem suas próprias carteiras digitais e até bancos próprios, integrando serviços financeiros diretamente em seus modelos de negócios. Essa ampliação refletiu uma abordagem mais inclusiva, impulsionando a interoperabilidade e a democratização dos serviços financeiros.
A interoperabilidade é uma das maiores promessas do Open Finance. Essa transformação no negócio gerou um grande ecossistema econômico, no qual o usuário pode escolher qual plataforma usar para ter acesso a todos os seus serviços, mesmo de instituições diferentes. Embora essa realidade já seja possível, em parte, a adesão e o entendimento do público ainda são desafios significativos.
O Open Finance é um motor para a desconcentração bancária, aumentando a competitividade e motivando as instituições a oferecerem melhores condições e serviços. Com o controle dos dados nas mãos dos consumidores, bancos e fintechs competem para oferecer a melhor proposta, reduzindo custos e promovendo a inclusão financeira. Essa descentralização já está mostrando frutos, mas o verdadeiro impacto ainda está por vir, à medida que o sistema amadurece.
Sob outro ponto de vista, o Open Finance pode ser considerado a padronização de conexão entre pessoas, empresas, bancos e instituições financeiras. Neste momento, o mercado está experimentando o que pode ser feito com esses dados e como explorar essa teia interconectada. Atualmente, os bancos e fintechs competem para ser a primeira opção ou o aplicativo favorito de cada cliente, em um movimento batizado de principalidade. Em outras palavras, é ser o primeiro banco que as pessoas pensam quando precisam de serviços financeiros.
O próximo passo dessa revolução será a introdução da moeda digital brasileira, o Drex. Enquanto o Pix deu a mobilidade da transferência, o Open Finance conectou os mercados e instituições financeiras, permitindo maior acessibilidade. Agora, a terceira adaptação deste processo será automatizar as finanças com a moeda digital. Ela vai condicionar operações, desde simples pagamentos recorrentes, como um aluguel, até a realização de contratos inteligentes, que incluem itens avulsos, como a retenção de caução e a devolução pós-assinatura. O Drex será o terceiro elemento do conceito de Invisible Banking, no qual as finanças funcionarão também como meio e não apenas para um fim específico.
O cenário atual
Apesar dos avanços, o Open Finance ainda não atingiu todo o seu potencial. A adoção dos consumidores é lenta e muitos desconhecem as vantagens de compartilhar dados. Além disso, as instituições financeiras estão apenas começando a explorar as possibilidades, faltando uma base histórica robusta para embasar decisões estratégicas. Esse histórico refere-se ao comportamento do cliente, ou seja, qual é a grande tendência econômica que vai orientar o investimento em Open Finance.
No momento, ainda estamos tateando essas possibilidades e ainda não chegamos perto da totalidade da capacidade que o Open Finance vai proporcionar na vida cotidiana das pessoas. A previsão é de que essa curva de adoção levará cerca de uma década para amadurecer, similar ao que aconteceu com o Internet Banking no passado.
Olhando para o futuro, veremos a ascensão do "Beyond Banking", como detalhei no artigo anterior, em que os bancos se transformam em plataformas multifuncionais, oferecendo serviços que vão além das finanças tradicionais. Essa tendência seguirá se desenvolvendo e vai guiar a atenção de bancos e fintechs para este ano. O movimento contrário, com as finanças embutidas, também se fará cada vez mais presente no futuro e veremos crescer o número de lojas com a sua própria carteira digital, ou empresas de seguro com seu próprio banco, entre outros exemplos. Inclusive, os clientes podem levar sua principalidade para a carteira digital de um grande varejo ou de um grande seguro.
O Open Finance está redefinindo o setor financeiro no Brasil. Embora ainda estejamos no início dessa jornada, o potencial é imenso. A inovação, a inclusão e a concorrência impulsionadas por essa iniciativa oferecem um vislumbre de um futuro financeiro mais democrático, ágil e acessível para todos. O ano de 2025 está sendo crucial para consolidar essas transformações e preparar o terreno para um ecossistema financeiro verdadeiramente integrado.
Wagner Martin, VP de Relações Institucionais da Veritran no Brasil.
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