Enquanto o mundo avança na corrida pela computação quântica, uma camada mais silenciosa, porém estratégica, está ganhando força: a engenharia de software quântico (Quantum Software Engineering – QSE). Mais do que um nicho acadêmico, trata-se de uma disciplina que pode redefinir a maneira como projetamos algoritmos, validamos soluções e resolvemos problemas complexos com implicações em logística, saúde, defesa e finanças.
Com o potencial de transformar a maneira como resolvemos problemas complexos, o QSE é crucial para o desenvolvimento de softwares que funcionam em computadores quânticos. Essa disciplina exige não apenas um conhecimento profundo dos princípios quânticos, mas também a criação de novas metodologias de desenvolvimento para garantir que essas aplicações sejam eficientes, seguras e escaláveis. Assim, a Engenharia de Software Quântico está destinada a ser um elemento chave na próxima era tecnológica, impactando áreas como criptografia e inteligência artificial.
E, ao contrário do que se imagina, o Brasil ainda está em tempo de ocupar um papel relevante nesse cenário,desde que atue de forma estratégica, coordenada e com incentivo estruturado à inovação disruptiva.
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Do hype à estrutura
O mais recente mapeamento global de QSE, publicado em maio de 2025, analisou 212 trabalhos e traçou um panorama claro: países como Estados Unidos, Alemanha e China já articulam ecossistemas de fomento que integram centros de pesquisa, empresas de base tecnológica e investimentos governamentais em escala.
A má notícia é que o Brasil aparece de maneira discreta. Já a boa notícia é que ainda não há hegemonia tecnológica estabelecida, e a entrada no jogo depende menos de escala e mais de estratégia.
Por que o Brasil deveria investir agora em Quantum Software Engineering?
A resposta começa pela soberania digital: a computação quântica poderá em breve romper padrões criptográficos, simular moléculas e resolver problemas de otimização que a computação clássica levaria décadas. Estar fora desse eixo é mais do que um atraso — é uma vulnerabilidade.
Segundo o BNDES, mais de R$ 29 bilhões foram aprovados para projetos de inovação nos últimos 18 meses. Com a criação de políticas públicas como o programa Nova Indústria Brasil, e o fortalecimento da FINEP e do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), há recursos disponíveis para quem quiser apostar em tecnologias de fronteira.
O problema? Poucas empresas têm estrutura — técnica, jurídica e estratégica — para transformar essas oportunidades em realidade.
O papel da engenharia de software quântico
O avanço dos hardwares quânticos precisa ser acompanhado de uma camada robusta de software. É aqui que entra a QSE: arquiteturas específicas, linguagens de programação quântica, testes, verificação formal e controle de erros são temas críticos que não podem ser improvisados.
Segundo o mapeamento da QSE, mais de 80% dos estudos focam em frameworks de desenvolvimento e ferramentas de validação. Ou seja, o futuro da computação quântica não será apenas sobre máquinas mais potentes — mas sobre a capacidade de fazer software confiável para essas máquinas.
Oportunidades para o setor privado brasileiro
Não se trata de esperar que universidades resolvam o desafio. Empresas brasileiras com vocação para inovação tecnológica — especialmente em setores como finanças, energia, telecomunicações e defesa — podem e devem liderar projetos de QSE aplicados, com apoio público e em parceria com o ecossistema nacional.
Várias consultorias e integradoras já atuam estruturando pleitos junto à FINEP e BNDES para projetos de P&D disruptivo. Algumas, como a própria Gröwnt, já apoiaram o enquadramento de projetos emergentes em áreas como bioeconomia, inteligência artificial e mobilidade sustentável. A computação quântica pode — e deve — ser o próximo movimento dessa transformação.
O Brasil precisa escolher: espectador ou protagonista da próxima revolução tecnológica?
O Brasil não precisa competir em volume, mas em inteligência. E o momento é agora. Investir em engenharia de software quântico é mais do que um salto tecnológico: é uma decisão estratégica sobre o lugar que queremos ocupar na próxima revolução computacional.
Fabrizio Gammino, Co-CEO da Gröwnt.
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