A participação da Nextel no leilão de freqüências de terceira geração foi ao mesmo tempo uma surpresa e também uma decepção para o mercado. Aparentemente a empresa entrara na licitação disposta a sair com alguns blocos, mas tudo que conseguiu no primeiro dia foi aumentar o ágio das concorrentes que não queriam abrir mão das novas licenças.
Assim, quando abandonou a disputa no segundo dia, terça-feira, houve outro impacto para o resto do mercado que não participava diretamente das reuniões em Brasília.
Por enquanto, a operadora frustrou seu objetivo de expandir os serviços atualmente centrados na tecnologia iDEN, da Motorola. Assim, pode ter a concorrência das operadoras móveis no serviço de push-to-talk, que é sua especialidade, mas não consegue competir com essas empresas na rede 3G, cuja possibilidade de novos serviços é fortemente atrativa para o segmento corporativo.
O próximo passo agora é disputar as freqüências do bloco H, admite o vice-presidente de marketing da Nextel, Mario Carotti. O leilão está previsto para o primeiro semestre de 2008. Enquanto isto, por que não tentar compartilhar a rede 3G de outra operadora? Carotti prefere não revelar a estratégia, por enquanto.
Como não fica claro o caminho para evolução da rede atual, a explicação é que a Nextel não trata a 3G como uma evolução, e sim como adição ao serviço oferecido aos clientes, com banda larga e aplicativos de negócios, por exemplo.
A empresa foi criticada no mercado por ter feito lances tímidos diante da voracidade da concorrência e, por fim, desistir do embate. A explicação do vice-presidente de assuntos regulatórios e jurídico, Alfredo Ferrari, é que o business plan da operadora não suportaria um investimento maior que o planejado para a nova tecnologia – porém não revelou o montante. Desta forma, os lances não teriam sido mais ousados para respeitar as metas pré-estabelecidas.
?Tínhamos business cases que estabeleciam limite para ágio. Por isto paramos de dar lances?, argumentou.
Ferrari também não aceita que a Nextel seja responsável pelo aumento do ágio na venda de licenças no primeiro dia do leilão: ?Cada operadora tem o seu limite. Nós obedecemos ao nosso.? E ainda sobre os rumores de que haveria outra empresa por trás de seus lances, o executivo negou e disse que somente a NII, sua controladora, estaria na retaguarda.
Encruzilhada internacional
A tecnologia iDEN, na verdade, encontra-se numa encruzilhada global. Antes tida como uma vantagem para quem a operasse, depois encontrou obstáculos. Não expandiu para tantos mercados quanto sua desenvolvedora, a Motorola, esperava, desmotivando investimentos, e seu futuro ficou obscuro depois do grande salto que deu em meados da década de 90.
Mais recentemente a Motorola consegiu penetrar em novos mercados, como a Índia, e assim se viu motivada a continuar os investimentos na tecnologia e em novos dispositivos. Entretanto, trata-se de uma tecnologia de banda estreita e, portanto, não tem grandes evoluções para serviços de dados. Mas para a Motorola, o que interessa é que para os clientes funcionem bem serviços como o PTT, leitura de código de barras e o sistema de posicionamento global (GPS). Para analistas, a Motorola não está tentando incluir recursos de internet rápida no serviço, mas teria outros meios agressivos para competir.
A Telus, baseada em Vancouver, no Canadá, e a Spring Nextel Corp., nos Estados Unidos, são grandes usuárias da tecnologia da Motorola. A Telus não tem planos de interromper a operação da rede iDEN por muito tempo, segundo seus executivos informaram num seminário internacional de telecomunicações recentemente.
Entretanto, a operadora disse que está migrando parte dos clientes que usam muitos serviços de dados para PCS, apesar de não revelar números.