Antes da pandemia, ainda na década passada, discutia-se o futuro do trabalho. Sob diferentes perspectivas. Dentre as observações da época, chamou a atenção a que mencionava a convivência no mercado de trabalho de quatro ou talvez cinco gerações. Um fato inédito na história moderna, que coloca na mesa uma enorme de valores, crenças e expectativas ao mesmo tempo que responsabilidade social, diversidade e inclusão passaram a ser requisitos organizacionais importantes.
Outro ponto relevante levantado mostra que jamais uma geração entrava no mercado de trabalho com acesso a tecnologias as quais, em muitos casos estavam bem à frente daquelas utilizadas pelos seus empregadores. Por último, a expressão work anywhere ou trabalhar de qualquer lugar, começava a sair do papel para virar tendência, em função da capacidade tecnológica de integrar, sem muita dificuldade, qualquer pessoa, em qualquer lugar. Com isso a possibilidade de recrutar, usar e integrar talentos em qualquer lugar do planeta passou a ser realidade.
Enquanto isso, aqui no Brasil, coincidentemente, por volta de 2014, me lembro bem desse ano por conta dos 7 a 1 da Alemanha, na Copa do Mundo, iniciava-se mais uma crise político-econômica que viria a derrubar o PIB do país em mais de 6% nos dois anos seguintes, afetando de forma bem severa os negócios de minha empresa de consultoria. E foi exatamente nessa época que o trabalho à distância passou a fazer parte da minha vida. Enquanto as empresas maiores se retraiam e deixavam de consumir os serviços que prestávamos, as empresas médias e até pequenas começaram a nos procurar.
O desafio foi exatamente transformar o nosso trabalho em alguma coisa mais eficiente, mantendo a qualidade e diminuindo o custo da prestação do serviço. E adotamos muitas das premissas do que seria o futuro, ali mesmo, no nosso então presente pois só assim conseguiríamos atender a essa demanda. E assim fizemos e felizmente estamos muito bem até hoje. Parte do futuro do trabalho, como se dizia à época, também foi o nosso futuro e, hoje, é nossa realidade.
Mas qual foi o "pulo do gato"? O chamado ambiente ou posto de trabalho digital ou, em inglês, como é mais conhecido, workplace digital, é praticado e usado por nós desde 2015. O mais interessante é que o híbrido também fazia parte de nosso dia a dia, já que muitas vezes tínhamos pessoas trabalhando em casa, fora da cidade ou até fora do país, gente no escritório e consultores no cliente, ao mesmo tempo e em um mesmo time de trabalho. Só que na época, a versão do "metaverso" era bem diferente, isso para o usar o gatilho de hoje. Mas o que fez isso tudo funcionar? O conceito, o método e a implementação deste junto as equipes de trabalho – que "compraram a ideia", além do uso intensivo da tecnologia, sem a qual pouco teria sido possível.
O que era uma experiência de nossa empresa, de difícil assimilação ou mesmo rejeitado por parte ecossistema empresarial, virou uma necessidade quando a pandemia chegou. O trabalho remoto passou a ser a experiência do dia a dia de uma parte significativa das pessoas, sob a forma de "gerenciamento do trabalho por reuniões online". A forma de "colaboração possível" naquele momento e que até hoje continua sendo praticada. E foi assim que a década de 2020, quando o futuro do trabalho começaria a virar presente, nos trouxe uma realidade que nos obrigou a fazer da forma que foi possível.
E aqui estamos, de volta para o futuro do trabalho, começando 2022. E a discussão frequente levanta hipóteses que explicam como os hypes tecnológicos – Workplace Digital, Metaverso, Cloud, IOT, Smart Office, Digital Transformation, AI, ML, RPA – irão transformar o trabalho daqui para frente. Como se a tecnologia sozinha fosse equacionar todas as questões que já vem sendo discutidas há quase uma década. A mais importante dessas questões trata de como integrar tecnologia às pessoas e as suas atividades. Se não respondermos a essa pergunta de forma satisfatória, o trabalho não terá futuro auspicioso. O possível novo ambiente de trabalho é uma coleção de habilidades, tecnologias, serviços e processos que permitirá às organizações desenvolverem novas capacidades de negócios que impulsionarão a produtividade e o engajamento, com agilidade, bem-estar e qualidade em benefício das pessoas – clientes, parceiros e colaboradores – e do negócio, é claro. Exigirá destreza digital e experiência digital.
O que é tudo isso que futuro é esse? Para que eu preciso disso? Como liderar as equipes nesse futuro? O que precisamos aprender para lidar com os novos ambientes? Quem pode nos ajudar? São algumas das perguntas que nossas lideranças empresariais precisam começar a responder. Não se constrói o futuro sem uma nova cultura, engajamento e capacitação das pessoas, um novo modelo de negócios e uma nova forma de trabalhar. Também não se fará nada sem a tecnologia adequada a cada cenário, não mais, não menos. Este é o desafio para centenas de milhares de organizações no mundo todo. Inclusive a sua.
O que vocês estão esperando para entrar nessa jornada?
Enio Klein, influenciador e especialista em vendas, experiência do cliente e ambientes colaborativos com foco na melhoria do desempenho das empresas a partir do trabalho em equipe e colaboração. CEo da Doxa Advisers e professor de Pós-Graduação.
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