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O papel do ESG no gerenciamento de risco

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Por definição, “Investimento” é o comprometimento de dinheiro ou de outros recursos no presente com a expectativa de colher benefícios futuros. Para tanto, é necessária uma gestão ajustada diante das incertezas em que a única condição previsível é a de que tudo se modifica no tempo. Assim, Informações, dados e pesquisas são o principal combustível para as decisões de investimentos. O gerenciamento de risco expressa essa capacidade de modelar variáveis tangíveis e dar perspectivas de previsibilidade aos fatores que influenciam no sucesso ou no fracasso dos resultados de rentabilidade.

Mas qual o papel dos Fatores Ambientais, Sociais e de Governança no gerenciamento de risco?

O mesmo rigor analítico que se aplica a uma estrutura de gestão de risco e avaliação de investimentos deve ser desenvolvido para uma estrutura que incorpore os fatores ESG.

Dentro dos atributos de riscos tradicionais de mercado é necessário que se avalie e precifique os perigos sistêmicos que são regulares; é o chamado “desconhecido conhecido”. Isso inclui elementos como mudanças no ciclo de negócios ou taxas de juros. No entanto, de forma geral, o mercado não se sai tão bem com riscos que são difíceis de prever ou quantificar – os “desconhecidos”. Os riscos ambientais, sociais e de governança, que a todas as empresas enfrentam (tendo ciência ou não), situam-se no meio desse espectro.

Riscos ESG carregam atributos materiais que afetam o valor a longo prazo das empresas e são difíceis de quantificar.

Não há dúvida de que uma governança corporativa forte, e que atenda aos interesses dos acionistas, promove responsabilidade e foco de longo prazo, fornecendo transparência e um vínculo claro entre a criação de valor e o retorno financeiro. As falhas de governança corporativa geralmente ocorrem, por exemplo, quando as empresas priorizam os resultados de curto prazo em detrimento dos interesses dos investidores de longo prazo e carecem de supervisão de risco adequada.

Os riscos ambientais e sociais são uma realidade para as companhias. Exemplo importante: questões relacionadas às consequências das mudanças climáticas podem aumentar diretamente os custos para as seguradoras. Oceanos mais quentes aumentam o risco de furacões frequentes e intensos, elevando o potencial de danos a propriedades instaladas em regiões próximas. Processos e indenizações decorrentes de danos ambientais, como o derramamento de óleo e prejuízos ao valor da marca, também são custos diretos que os assuntos ambientais podem acarretar.

No entanto, o impacto indireto que as questões socioambientais têm sobre os negócios provavelmente será muito maior na medida em que as preferências dos consumidores mudem para produtos e empresas ambientalmente mais responsáveis. Empresas que não adotem conteúdos socioambientais em suas operações de forma eficaz também podem estar sujeitas a um maior risco regulatório, incluindo impostos, taxas mais elevadas e custos operacionais adicionais.

Os riscos “S” (social) abrangem uma ampla camada de temas, incluindo segurança de dados, de produtos e no local de trabalho, além de diversidade, remuneração e benefícios. Danos ao valor da marca, litígios e a ameaça de mudanças regulatórias podem aumentar os custos para empresas que não estão gerenciando bem esses fatores. O custo de oportunidade de deixar de cuidar dos funcionários é um dos maiores entraves aqui. O capital humano está se transformando, cada vez mais, no ativo mais valioso de muitas empresas, conforme a propriedade intelectual e os serviços continuam a crescer em importância. As empresas que oferecem locais de trabalho mais seguros, melhores remunerações, políticas autênticas de diversidade e de inclusão podem atrair e reter os talentos e, muitas vezes, obter mais produtividade de seus funcionários.

Os riscos ESG das empresas, provavelmente, estão crescendo e podem se tornar mais altamente associados com o tempo. De outra forma, qual outra razão para essas questões estarem recebendo mais atenção dos consumidores, reguladores e investidores?

Essa mudança deve ter consequências importantes para o desempenho e criar algumas oportunidades atraentes nos próximos anos.

As empresas com riscos ESG mais baixos – as quais o mercado ainda não aprecia totalmente – podem ser subvalorizadas e precificadas para oferecer retornos superiores ao mercado. Essa assimetria permitiria aos investidores arriscar e aumentar os retornos esperados. Se o mercado reconhece cada vez mais os riscos ESG como sistêmicos, ele deve atribuir preços mais altos e retornos previstos mais baixos às empresas com risco ESG mais baixo. A transição para o novo equilíbrio poderia empurrar o preço dos líderes ESG para cima, ajudando seu desempenho de curto prazo à custa dos aguardados retornos futuros.

Portanto, embora possa haver um benefício de retorno temporário das empresas com padrões altos de Sustentabilidade, no longo prazo pode significar um custo de oportunidade para manter esses patamares. No entanto, isso não seria totalmente uma perda, porque reduziria o custo do capital das companhias na esteireira de menor risco de cauda. Isto tornaria mais fácil para elas crescerem, encorajando outras empresas a adotar práticas sustentáveis para obter um benefício semelhante, assim que seu valor for absorvido pela demanda.

No mais, é fundamental que aspectos regionais sejam considerados e que fatores sistêmicos (e próprios) inseridos em determinada região sejam identificados. Sejam eles elementos macroeconômicos, que carregam características específicas relacionadas a questões sociais (níveis de desigualdades, estrutura social, de gênero, raça, violência etc.); ou ambientais, pela incidência de tempestades recorrentes, aumento do nível do mar, tornados, frio ou calor extremo. Essas características podem ser identificadas no presente ou como fatores de riscos futuros.

Ao empregar uma lente ESG, os investidores devem procurar entender os riscos e as oportunidades de negócio relacionados aos elementos que formam as empresas, e que enfrentam dentro das suas prioridades, apontadas no escopo de sua matriz de materialidade (inclusive externalidades). Isso pode incluir a avaliação do impacto potencial dos fatores ESG no modelo de negócios de longo prazo de uma empresa e a resiliência das companhias para se adaptarem às mudanças. Com o tempo, essas considerações devem remodelar as vantagens competitivas e, em última análise, a sustentabilidade do crescimento do negócio e a criação de valor a longo prazo para os acionistas.

O papel do ESG no gerenciamento de risco é central, e dá à gestão de risco tradicional um novo salto de sofisticação e eficiência.

Luiz Fernando Quaglio, especialista de Investimentos Sustentáveis | ESG da Veedha Investimentos.

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