Nesta sexta-feira, dia 25 de abril, é celebrado o Dia Internacional das Mulheres na Tecnologia, uma data que vai muito além de homenagens: ela é um lembrete da urgência em tornar o setor de tecnologia mais inclusivo e igualitário.
Raquel Uchôa Moreira, diretora de Mulheres na TI da Assespro-PR, destacou a importância da representatividade feminina na tecnologia e os desafios que ainda precisam ser superados para garantir a equidade de gênero em um dos setores mais estratégicos e inovadores da economia global.
"É uma data simbólica, mas extremamente necessária", afirma Raquel. "Ela chama atenção para o protagonismo feminino na tecnologia, que tem crescido, mas ainda está longe do ideal. É uma oportunidade de inspirar outras mulheres a entrarem nesse universo digital, inovador e altamente relevante."
A presença feminina em cargos de liderança, como CEOs e fundadoras de startups, está aumentando, mas o número ainda é tímido frente à participação masculina. Segundo Raquel, ter mulheres em posições estratégicas funciona como um farol para jovens profissionais que buscam se inserir no setor: "Quando meninas veem outras mulheres liderando, elas pensam: 'eu também posso chegar lá'".
Barreiras estruturais e culturais
A desigualdade de gênero no setor tecnológico se revela em diferentes dimensões. Uma delas é a remuneração: mulheres ganham, em média, 15,6% menos do que homens, mesmo exercendo funções semelhantes, segundo dados do Observatório do Softex.
Raquel aponta que esse cenário tem raízes profundas. "O setor sempre foi majoritariamente masculino, e mesmo com os avanços, ainda sentimos a necessidade constante de comprovar nossa competência", relata. Ela menciona, inclusive, o trabalho da economista Claudia Goldin, vencedora do Nobel de Economia em 2023, que destacou como temas como maternidade e trabalho remoto influenciam diretamente a equidade de gênero no mercado.
"O problema não é só entrar na área, mas permanecer e crescer nela, enfrentando desafios como a dupla jornada, a maternidade e a solidão em ambientes dominados por homens", destaca Raquel
Lideranças que transformam
Um dos pontos mais sensíveis no mercado é a falta de mulheres em posições de poder, especialmente em conselhos e diretorias de empresas e startups. "Em 2023, apenas de 3% a 4% dos investimentos em startups foram direcionados a empresas fundadas por mulheres. Isso é um abismo", ressalta.
Para Raquel, é fundamental que os líderes empresariais assumam uma postura ativa de transformação. "Precisamos de um mercado mais aberto à escuta, que valorize as competências femininas. A gestão de uma mãe, por exemplo, desenvolve soft skills valiosas como organização, empatia e tomada de decisão rápida."
Educação
Um dos grandes desafios está na base: a educação. Em 2021, apenas 16,5% das matrículas em cursos de tecnologia foram feitas por mulheres. Para mudar esse quadro, é preciso investir desde cedo em iniciativas de educação STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) e mostrar às meninas que a tecnologia também é um espaço para elas.
"É uma área fascinante e com muitas oportunidades, mas é preciso estar disposta a aprender o tempo todo. Existem muitas vagas com altos salários que não são preenchidas por falta de qualificação", alerta Raquel. "A mulher que se dedica, que busca conhecimento, consegue chegar longe."
Mulheres ajudando mulheres
Como diretora de Mulheres na TI da Assespro-PR, Raquel tem liderado iniciativas para fortalecer a presença feminina no setor. Um dos principais projetos é o Coffee Time, encontros regulares que começaram com 25 mulheres e hoje reúnem mais de 80. Desses encontros surgiram projetos como mentorias, jornadas de conhecimento e o evento Elas São Tech, que promoveu debates e palestras com mulheres de todo o Brasil
"A ideia é construir uma comunidade de apoio mútuo. Ninguém caminha sozinho, e precisamos estar juntas para conquistar nossos espaços", conclui.