Apesar do avanço da acessibilidade digital, só 1% dos sites contam com esse recurso

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A terceira edição da pesquisa sobre a experiência de uso de sites e aplicativos por pessoas com algum tipo de deficiência no país identificou uma melhora discreta na acessibilidade dos sites brasileiros, mas alerta que a situação ainda está longe de ser a ideal. A pesquisa foi conduzida pela BigDataCorp em parceria com o Movimento Web para Todos.

Os organizadores avaliaram os 16,89 milhões de sites ativos no país na data da pesquisa, número 15,29% maior do que na última edição em 2020, e identificaram que 0,89% dos sites tiveram sucesso em todos os testes de acessibilidade aplicados, contra 0,74% da edição anterior. "Os resultados de 2021 mostraram que houve uma melhora na comparação com o ano anterior. Mas um percentual de sites aprovados em todos os testes de acessibilidade inferior a 1% do total diz que ainda estamos muito longe do ideal", afirma Thoran Rodrigues, CEO da BigDataCorp. "As empresas se preocupam tanto com a experiência de clientes em seus sites e blogs, mas esquecem de se preocupar com a acessibilidade de pessoas com algum tipo de deficiência e que acabam por ter uma péssima experiência", lamenta.

Embora tenha apresentado uma leve melhora, ainda é alarmante a quantidade de sites que apresentam alguma falha de acessibilidade em parte dos testes aplicáveis: 96,79% nesta análise, contra 99,25% no estudo anterior.

Crescimento positivo no volume de sites que obtiveram sucesso em todos os testes, exceto no teste W3C (consórcio internacional que desenvolve padrões para a web), de 20,74% em 2021, número 5,10% superior ao total de 15,64% identificado em 2020.

Já o percentual de sites que apresentaram falhas em todos os testes aplicáveis subiu para 2,31%, avanço de 2,3 p.p. acima da taxa de 0,01% registrada no ano anterior. "Essa pesquisa nos dá uma dimensão de como ainda precisamos melhorar a acessibilidade nos sites brasileiros. Infelizmente, apesar de alguns avanços, no geral, continuamos com menos de 1% de sites aprovados em todos os testes, o que obviamente é um índice muito baixo", comentou Simone Freire, idealizadora do Movimento Web para Todos.

Gradativamente, os sites do governo vêm reduzindo as barreiras de acessibilidade para pessoas com deficiência. Do total pesquisado, 89,46% apresentaram alguma falha. Nas pesquisas de 2020 e 2019, os totais foram de 96,71% e 99,66%, respectivamente.

A tabela a seguir traz os principais problemas apurados nos testes realizados em sites brasileiros e seus percentuais em relação às pesquisas anteriores. Dos sites analisados, 77,28% apresentaram falhas em links (quando não abrem automaticamente em uma nova janela), contra 93,65% em 2020. Já no quesito descrição de imagens, 71,98% dos sites continuam não oferecendo esse recurso de acessibilidade (essencial para a experiência de quem não enxerga), contra 83,36% na última análise, em 2020.

"Essa é uma das barreiras mais fáceis de serem eliminadas e que passa a incluir mais de 6 milhões de pessoas que navegam com o auxílio de leitores de tela. Muitos dos nossos materiais e campanhas foram focados, no último ano, no compartilhamento deste conhecimento. Temos certeza de que nossas ações de mobilização e educação têm impactado diretamente os profissionais para quem passem a descrever imagens – um recurso tão simples de ser implementado e indispensável para essa grande parcela da população", reforça Simone Freire.

Todos os demais problemas também acompanharam a tendência de queda, com exceção da taxa de falhas em formulários (a falta de elementos que que possam ser identificados pelas tecnologias assistivas), que subiu de 55,19% para 70,84% no intervalo entre as duas pesquisas.

"A melhora nos números do verificador de marcação do W3C é um bom indicador, pois ele verifica se a página está escrita em conformidade com os padrões do consórcio internacional. Estar em conformidade com padrões de marcação é o primeiro passo para corrigir diversas barreiras de acessibilidade", explica Reinaldo Ferraz, especialista em Desenvolvimento Web do W3C Chapter São Paulo e do Ceweb.br|NIC.br.

Empresas começam a se engajar

Pelo segundo ano consecutivo, a pesquisa avaliou a acessibilidade em diferentes tipos de sites e, desta vez, apontou os corporativos como os que estão mais comprometidos com a temática. Isso não significa, no entanto, que há motivos para celebrar. Apenas 5,40% dos sites corporativos passaram nos testes, e os educacionais, que em 2020 foram considerados os mais acessíveis (3,88% aprovados nos testes), surgem na segunda colocação, com 4,68% acessíveis para este público. Na sequência, ficaram os sites de notícias (3,15%), blogs (2,17%) e de e-commerce – com apenas 1,46% preparados para receber a visitação dessa grande parcela da população.

Acessibilidade em aplicativos

A pesquisa também avaliou a acessibilidade em 2.369 aplicativos em uso no país, total 14,44% maior que o pesquisado em 2020, e identificou uma pequena melhoria em todos os quesitos. Foram selecionados os aplicativos com a maior quantidade de downloads (cerca de 10 milhões cada) da Play Store, loja de apps do Google.

Em média, 11,54% dos elementos de interface dos aplicativos têm descrição, frente aos 10,34% identificados na última pesquisa. Com relação a imagens, 14,64% delas faziam uso de texto descritivo, número 2,59 p.p. acima do resultado obtido em 2020. O número de aplicativos com texto descritivo em botões e em campos editáveis também foi maior que na última pesquisa: 8,92% e 0,52%, respectivamente, frente a 6,15% e 0,31% apontados em 2020.

A descrição dos elementos visuais de um aplicativo, na prática, melhora a experiência de acesso de uma pessoa com deficiência visual, pois permite que ela compreenda a imagem por meio de um texto alternativo. Da mesma forma, o uso de descrições em botões e em campos editáveis permite que a pessoa compreenda para que serve cada um dos botões e o que deve ser preenchido em cada campo disponível.

Metodologia

A BigDataCorp utilizou o processo de captura de dados da internet extraídos de visitas a mais de 30 milhões de sites brasileiros (ativos e inativos), dos quais são obtidas informações estruturadas e seus links. Foram desconsiderados os sites inativos, ou seja, os que estavam fora do ar ou que não responderam a visitas por quatro semanas seguidas.

Também foram desprezados os que, por oito semanas consecutivas, não fizeram qualquer alteração em seu conteúdo. Assim, foram considerados neste estudo 16,89 milhões de sites. É importante destacar que foram aplicados apenas os testes válidos para cada tipo de site de acordo com o conteúdo nele publicado. A ferramenta coletou os sites e verificou em todas as páginas se existia, por exemplo, formulários e imagens, e se estão de acordo com os critérios selecionados para a verificação.

Para a pesquisa sobre aplicativos, a empresa realizou o download de 2.369 aplicativos da Play Store com mais de 10 milhões de downloads e extraiu o código fonte de cada um dos apps para investigação do conteúdo baixado. Para identificar quais aplicativos atingiram a marca de 10 milhões de downloads foi feito o processo de captura das informações públicas da Google Play Store, como número estimado de downloads do aplicativo, a quantidade de reviews, bem como informações detalhadas sobre o desenvolver, além de outros dados relevantes. A coleta verificou se determinados elementos de aplicativos nativos do Android possuem uma descrição, com base na documentação do Google sobre desenvolvimento para Android e nas Diretrizes de Acessibilidade Web do W3C para textos alternativos. Mais detalhes sobre a metodologia utilizada neste estudo estão no site do Web para Todos.

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