Depois da Transformação, esta é a hora da Intensificação Digital

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A pandemia deixou o mundo atônito e nos pegou de surpresa. Ninguém estava preparado e sequer podia imaginar que um filme de ficção científica se tornaria realidade. Ainda tenho a sensação que irei acordar deste pesadelo, abrir a janela e respirar aliviado ao constatar que a vida segue normal lá fora. Mas não adianta se beliscar. O coronavírus está aí exigindo que a gente se reinvente e descubra novas formas de viver, se relacionar, trabalhar e fazer negócios.

Depois que a maior parte dos países se convenceu forçadamente de que a Covid-19 não iria se restringir à China, cerca de 25% da população global foi colocada, da noite para o dia, em algum nível de distanciamento social. E não havia um plano de contingência para manter a roda da economia girando sem colocar vidas em risco.

Apesar das perdas humanas irreparáveis, há ao menos um fator positivo: empresas, trabalhadores, estudantes, professores e governos entenderam que a tecnologia digital é uma grande aliada para alicerçar um mundo mais sustentável e conectado apesar do distanciamento. Em meu artigo anterior questionei "O que seria de nós sem a Tecnologia?". Como enfrentaríamos a quarentena sem o digital?

Nem mesmo os cientistas se arriscam a dizer com uma boa dose de certeza quando tudo isso vai passar. Quem acha que é só uma fase até "as coisas voltarem ao normal", permitam-me concordar com o que muita gente vem dizendo: não vai voltar "ao normal". Haverá um "novo normal". Defendem essa tese muitas vozes influentes, do publicitário Nizan Guanaes ao presidente do Santander no Brasil, Sergio Rial, que acredita estarmos sendo testemunhas do fim da era industrial.

Nesse novo cenário, o dilema antigo das empresas de embarcar ou não e quando no digital deixou de ter sentido. Com escolas, escritórios e pontos comerciais fechados, a transformação digital, para quem ainda não cruzou a ponte, será na marra. Apesar do choque inicial, o avanço repentino para o mundo ainda mais digital deverá trazer impactos positivos, como um maior contingente trabalhando em home office, reduzindo o tráfego urbano e a poluição. O planeta agradece.

Deixo aqui meu alerta: se quiser se manter bem posicionado no mercado, esse processo de digitalização do negócio precisa ser contínuo. E é pra ontem. Depois do "transformar", pense que esse é um processo que terá de se intensificar rapidamente ao longo dos próximos meses, durante a pandemia, e continuar ad infinitum. É prudente não duvidar: a pandemia tornou o ingresso e aprofundamento no digital um caminho sem volta.

Digitalizar na marra cria barreiras, logicamente. Num piscar de olhos, muita gente teve de se acostumar com ferramentas como o Zoom e correr atrás de plataformas de gerenciamento como o Asana ou o Monday. Vendedores tiveram de recorrer ao marketing online pela primeira vez, donos de restaurantes ao delivery por aplicativo (ou mesmo pelo WhatsApp) e vários setores tiveram que se adaptar ou pivotar seus modelos de negócio para se manter operacionais.

A transformação digital não envolve só a questão de funcionamento da empresa, obviamente. O principal valor diz respeito a satisfazer a necessidade dos clientes e entregar experiências relevantes, o que inclui também os serviços públicos, muitos funcionando de forma precária ou não funcionando por causa do afastamento social.

Todo mundo viu a confusão que deu a ajuda emergencial do governo. Quem tinha alguma pendência no CPF e precisava regularizar, não sabia o que fazer ou como resolver online, o que vem formando filas gigantescas nas agências da Caixa e da Receita Federal. E com um grande número de brasileiros desbancarizados será um desafio enorme abrir milhões de poupanças digitais em tempo recorde. Ou seja, apesar do internet banking já ser uma realidade, está sendo preciso intensificar a estratégia de digitalização a toque de Caixa – perdão pelo trocadilho ;).

Um estudo do McKinsey Global Institute (MGI), publicado há menos de um ano, fez uma retrospectiva do quanto a vida no mundo mudou desde o início da internet comercial há 26 anos.

A pesquisa aponta uma conexão óbvia entre a implantação de tecnologias digitais e aumento de produtividade. E aconselha: a chave para que essa intensificação digital ocorra em todos os setores é construí-la a partir de processos bem estruturados, que levem em conta toda a cadeia na qual a empresa está envolvida.

Pelas estimativas do MGI, as empresas norte-americanas, chinesas e europeias só tinham atingido 20% do potencial de digitalização. A perspectiva da consultoria era de que uma adoção global de tecnologias como inteligência artificial e automação só ocorreria por volta de 2045. A pandemia, vale acompanhar, deve alterar esse quadro.

O importante é ter isso muito claro em mente: tornar digital o seu negócio é um processo ininterrupto. Quanto mais bem planejado ele for, maior a chance de sua empresa obter sucesso (e faturamento) a partir dele.

Quem ainda não abraçou a transformação digital poderá pagar um preço alto em tempos nos quais a tecnologia virou commodity. E quem já embarcou no digital entrará agora em um novo ciclo de intensificação. A hora é essa. Ou é bom começar a pensar como irá sobreviver fora do mundo de bits e bites. Se é que será possível.

Alexandro Barsi, CEO do Verity.

1 COMENTÁRIO

  1. O ser humano precisa reaprender a pensar os seus processos para que sejam digitais, mas primeiro precisa mudar a sua própria forma de pensar, de ver o mundo.

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