O ecossistema de startups no Brasil é vibrante e criativo, mas enfrenta um obstáculo persistente: a alta taxa de mortalidade. Segundo dados do Sebrae, cerca de 70% dessas empresas encerram suas atividades antes de completar cinco anos. Esse dado revela o quanto é desafiador empreender no país e levanta uma questão essencial: o que leva tantos negócios a falharem – e o que pode ser feito para mudar esse cenário?
Muitos desses encerramentos poderiam ser evitados com mais estrutura e orientação especializada. Empreender envolve uma série de riscos e decisões complexas, e contar com o suporte de profissionais experientes desde o início pode ser determinante. Nesse contexto, ganha relevância um modelo ainda pouco difundido no Brasil: o de startup studio, que atua na criação de empresas desde o início, com foco em desenvolvimento sustentável e redução de riscos.
Um levantamento do hub Distrito mostra que mais de 8 mil startups encerraram suas atividades na última década. O número impressiona, mas também evidencia a necessidade de soluções que fortaleçam o ambiente empreendedor. Criar processos bem definidos pode ser uma das formas mais eficazes de melhorar as chances de sucesso de novos negócios
O startup studio funciona como uma "fábrica de startups". Diferentemente de incubadoras e aceleradoras, esse modelo parte da ideia até a execução, oferecendo infraestrutura, metodologia e recursos para transformar boas propostas em empresas escaláveis. O diferencial está na capacidade de otimizar investimentos e encurtar o caminho entre o planejamento e a tração de mercado.
Diversos erros comprometem a trajetória de uma startup. Um dos mais recorrentes é empreender sozinho. Startups com mais de um fundador tendem a ter maior sucesso, pois combinam habilidades diversas, o que melhora a tomada de decisões e distribui responsabilidades.
Outra armadilha comum é escolher mercados muito restritos. Atuar em nichos com pouco potencial de escala dificulta a atração de investidores e o crescimento a longo prazo. Somado a isso, a falta de inovação pode limitar a competitividade. Repetir modelos já existentes, sem oferecer uma solução diferenciada, raramente leva a bons resultados.
A resistência a mudanças também costuma ser fatal. Adaptar-se às necessidades do mercado exige sensibilidade e agilidade por parte dos founders. Muitas startups falham por insistirem em uma proposta original que não encontra aderência com o público. Do mesmo modo, montar uma equipe técnica sem experiência ou desalinhada com a cultura do negócio pode resultar em retrabalho e ineficiência.
Demorar demais para lançar um produto também é um risco. Muitos empreendedores esperam por uma versão perfeita, o que pode atrasar a entrada no mercado e aumentar os custos. Por outro lado, lançar algo imaturo demais compromete a experiência do usuário. O equilíbrio entre prontidão e validação constante é essencial. Outro fator crítico é a gestão financeira. Sem planejamento adequado, o risco de consumir os recursos antes de alcançar estabilidade é alto. Priorizar os gastos e alinhar o investimento com as fases do negócio é fundamental para manter a empresa operando.
Além disso, é preciso cuidado com a inflexibilidade. Insistir demais em um plano sem considerar ajustes pode comprometer todo o projeto. Segundo a Startup Genome, startups que conseguem pivotar com base em dados e feedbacks têm desempenho significativamente melhor. Também é necessário manter uma boa relação com investidores, baseada em transparência e alinhamento de expectativas, para evitar pressões que desvirtuem o propósito do negócio.
Empreender é uma jornada desafiadora, mas com o suporte adequado e atenção aos erros mais comuns, é possível transformar ideias em empresas sustentáveis. Modelos estruturados, processos claros e decisões bem fundamentadas são caminhos promissores para reduzir o número de startups que encerram suas atividades prematuramente.
Carlos Perobelli, CEO da Nexmuv e idealizador do The Garage.