Executivos de alto escalão da Alcatel-Lucent defenderam nesta terça-feira, 26, durante assembleia anual de acionistas da companhia, o acordo de venda para Nokia, dizendo que o negócio é a única opção para uma empresa que não tem “massa crítica” enfrentar gigantes do setor de telecomunicações como a Ericsson e a chinesa Huawei Technologies.
No mês passado, a fabricante francesa anunciou a assinatura de um a acordo por meio do qual a companhia finlandesa irá adquirir todas as suas ações, em uma operação avaliada em 15,6 bilhões de euros. A transação, a maior do setor em mais de uma década, será realizada através de uma oferta pública de ações entre ambas as empresas. Dessa forma, a Nokia ficará com o controle de 66,5% do grupo resultante da fusão e a Alcatel, com os 33,5% restantes, criando um gigante com mais de 114 mil funcionários e 26 bilhões de euros de faturamento anual.
Na assembleia desta terça, porém, os acionistas manifestaram a insatisfação com o acordo. Um deles chegou a perguntar se era uma decisão sábia fazer um acordo com a Nokia, que perdeu a liderança mundial no mercado de celulares e foi forçada a vender sua divisão de telefonia móvel para a Microsoft.
Aplausos irromperam quando outro acionista disse que a Alcatel-Lucent deveria ter pedido um preço mais elevado à Nokia, dizendo que o acordo segundo o qual a fabricante finlandesa vai emitir 0,55 ações da nova companhia por cada título da Alcatel-Lucent é “completamente injustificado” e deve ser renegociado.
“Os acionistas da Nokia provavelmente estão dizendo o inverso”, rebateu o presidente da Alcatel-Lucent, Philippe Camus, sob vaias esparsas na platéia, segundo o The Wall Street Journal. “Você tem que ver os dois lados para fazer um acordo. Você tem que terminar por encontrar um equilíbrio.”
Forçar a renegociação
A pressão dos acionistas, apesar do apoio do governo francês, é que, como eles não podem votar sobre o acordo e mais metade deles terá de oferecer suas ações em troca de novas ações da Nokia para a transação fechar, se não o fizerem, poderão forçar uma renegociação ou levar o negócio a fracassar. “Você é livre para oferecer suas ações ou não”, disse Camus a outro acionista.
A gestora de ativos britânica Odey Asset Management, com sede em Londres, disse no mês passado que acredita que o negócio fundamentalmente subavalia a Alcatel-Lucent, e que não alienará suas ações nos termos da oferta atual. A Alcatel-Lucent diz que tem recebido um feedback positivo, em roadshows recentes, mas a recepção dos acionistas nesta terça-feira levanta a suspeita de que outros titulares de papéis da empresa possam adotar a mesma postura da Odey.
Os acionistas presentes à assembleia representam quase 24% dos votos. E aproveitaram esse poder para votar contra pacote de remuneração de Camus, numa aparente retaliação.
O argumento da Alcatel-Lucent para o negócio é que, apesar de ter melhorado a rentabilidade e seja forte em áreas como roteamento de internet, ela é estruturalmente muito pequena e fraca no mercado de redes sem fio. Camus abriu a assembleia dizendo que a Alcatel nunca se recuperou do erro de ter feito a fusão com a americana Lucent Technologies, em 2006. Permeada por rivalidades entre executivos franceses e americanos, a empresa tropeçou na tecnologia sem fio e perdeu participação de mercado.