Vivemos em uma sociedade marcada pela pressa — no cotidiano e nas estradas. A velocidade excessiva, embora nem sempre apontada como causa direta de um acidente, está presente em cerca de 30% das colisões fatais no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em outras palavras: quando não é o fator principal, ela é o elemento que agrava as consequências. No contexto do Maio Amarelo, movimento internacional de conscientização para a redução de acidentes de trânsito, é urgente refletir sobre como a tecnologia pode — e deve — ser uma aliada estratégica na preservação de vidas.
No Brasil, a fiscalização de velocidade ainda é, em sua maioria, feita de maneira pontual. Os controladores estão instalados em locais fixos das vias, conforme as normas estabelecidas pelos órgãos de trânsito. O problema é que muitos motoristas, cientes da localização desses dispositivos — muitas vezes informada por aplicativos de navegação — reduzem a velocidade apenas nesses pontos, voltando a acelerar logo em seguida. A conduta até muda temporariamente, mas o risco permanece constante. Em vez de promover um comportamento seguro e contínuo, esse modelo acaba estimulando respostas momentâneas, insuficientes para reduzir de fato o número de acidentes.
A solução não está apenas em fiscalizar mais, mas buscar maneiras de fiscalizar melhor. A fiscalização por velocidade média, já adotada com bons resultados em países como França, Itália e Reino Unido, é uma das opções que podem ser uma resposta para o comportamento geral do motorista brasileiro. Com o apoio da tecnologia ao longo dos trechos rodoviários, seria possível calcular a média de velocidade de cada um dos veículos e notificar os motoristas que ultrapassarem o limite estabelecido como seguro para o trecho monitorado.
Essa notificação poderia chegar diretamente ao celular do condutor por meio do aplicativo da Carteira Digital de Trânsito, com uma abordagem educativa e preventiva, não apenas punitiva em um primeiro momento. Isso muda o foco da punição para a conscientização. E em caso de reincidência do comportamento gerar um auto de infração efetivamente.
O mesmo princípio pode ser aplicado a outras condutas de risco, como o uso de celular ao volante, o não uso do cinto de segurança ou o transporte de cargas perigosas em alta velocidade, que hoje não podem ser fiscalizadas eletronicamente, porém podem gerar notificações e alertas para os motoristas. A tecnologia embarcada — como câmeras inteligentes com leitura de placas, sensores e sistemas de IA — já permitem identificar esse tipo de comportamento com alta precisão. Mas mais importante do que multar é fazer o motorista refletir em tempo real sobre suas ações.
A verdade é que a infração, por si só, nem sempre tem efeito corretivo esperado. Precisamos evoluir para um modelo em que os sistemas de fiscalização dialoguem com o usuário e promovam mudanças de hábito. É nesse ponto que a tecnologia deixa de ser apenas um instrumento de controle e passa a ser uma ferramenta de educação e cidadania.
Para isso, é claro, será necessário um esforço legislativo: mudanças no Código de Trânsito Brasileiro, debates no Congresso, atualização de normativas e regulamentações. Tudo isso leva tempo. Mas enquanto esse futuro não chega, já temos meios técnicos para começar a construir um ecossistema de trânsito mais seguro e integrado, baseado na visibilidade, transparência e responsabilidade compartilhada.
Como engenheiro e profissional da área de tecnologia aplicada à mobilidade, acredito que precisamos olhar para o Maio Amarelo não apenas como uma campanha simbólica, mas como um chamado à ação. A tecnologia salva vidas quando é bem aplicada — e temos, nas mãos, a chance de transformar essa realidade em um compromisso coletivo.
Alexandre Krzyzanovski, Diretor de Engenharia da Pumatronix.